Capítulo 16 - A torre dos sinos

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Choveu muito durante a noite, os relâmpagos clarevam o céu enquanto riscavam entre as nuvens, sendo seguidos por sons estrondosos dos trovões. Quando Lucy era criança, seu pai havia lhe contado que o trovão era a fúria de Deus e quem temia o travão era o pecador que tinha medo da autoridade de Deus. A menina nunca acreditou nisso, por mais que ficasse assustada com os barulhos, ela não sentia medo da autoridade de Deus.
O sol se escondeu por trás de nuvens pesadas de chuva, tudo parecia cinzento e triste. Os feirantes não armaram suas barracas com medo que a chuvas estragasse seus produtos, as ruas estavam quase vazias. Era um domingo e muitos fieis não quiseram perder a missa por causa de uma chuva, sua devoção ia além de qualquer clima. Lucy colocou seu vestido verde escuro, luvas de camurça e uma capa também na cor verde com pele de algum animal nas beiradas da capa, calçou suas botas de inverno, pegou uma cesta onde colocou sua bíblia e um pequeno terço que havia ganhado em seu aniversário de sete anos.
Ela sentiu um sopro de ar frio assim que abriu a porta de casa, também chuviscava. Ela tomou o caminho até a igreja desviando das poças de lama, Lucy pulava sobre elas como uma criança que brincava em dias de chuva. Aproximando-se da catedral, viu Oliver próximo da porta de entrada.
- Bom dia, senhorita. - Ele disse sorrindo ao vê-la se aproximando. - Estava esperando por você.
- Bom dia. - Ela respondeu tirando o capuz de sua cabeça. - Como sabia que eu vinha?
- Seu pai me disse.
- Claro.
Oliver lhe estendeu o braço e ela o segurou, eles entraram na igreja e a porta se fechou atrás deles. Lucy não pode deixar de notar que os olhares estavam sobre ela. A menina pobre e órfã segurando o braço de um lorde era algo com que as pessoas ainda não tinham se acostumado, muito menos ela. O casal sentou-se no banco comprido de madeira escura do lado esquerdo da igreja. A missa começou, padre Frederic lia os sermões enquanto tentava fazer com que sua voz fosse mais alta do que o som dos trovões do lado de fora da catedral. Os dedos de Lucy não pararam de se mexer por um segundo, ela brincava com o terço em suas mãos e sua mente flutuava em outro lugar.
- Os sermões a entediam? - Sussurrou Oliver.
- O quê? - Ela parecia ter voltado à realidade.
- Seus olhos estavam distantes.
- Eu...
Um trovão fez as paredes tremerem e o chão balançar. Lucy se assustou, assim como metade da igreja.
- A ira de Deus. - ele disse baixinho. - Ele está chateado porque uma de suas adoráveis criaturas não prestava atenção aos seus sermões.
Um sorriso tímido veio até seus lábios.
- No que estava pensando, se é que posso saber?
- Pensava em como não gosto de dias de chuva.
- Tem medo dos trovões?
- Não gosto como tudo parece cinza e frio. Parece que a vida fica menos alegre quando a chuva cai do céu. Às vezes imagino que a água das chuvas são as lágrimas dos anjos.
- E porque eles choram?
- Pelo mesmo motivo que Deus se enfurece, pelos pecados da humanidade.
- É um bom motivo.
A missa terminou e aos poucos a igreja foi ficando vazia. A chuva havia passado e agora havia apenas nuvens finas e cinzas escondendo o sol, estava frio, parecia que ia nevar a qualquer momento, mas a cidade não via neve desde o fim do século passado.
- Posso acompanhá-la até em casa? - Perguntou Oliver.
- Se assim o senhor desejar, eu aceito. - Ela respondeu.
Oliver segurou o braço de Lucy, eles saíram juntos da igreja. Algumas pessoas ainda olhavam incrédulas para aquele casal tão improvável, outras admiravam de longe e pouco sentiam inveja. Oliver não se importava com os olhares, mas Lucy sentia-se desconfortável com as pessoas olhando, julgando, cochichando. Mas ela ia ter que se acostumar, logo estaria casada com aquele homem tão importante e, consequentemente, ela se tornaria importante também.

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Violet viu Anthony deitado no feno completamente sozinho, com o olhar vazio, o cenho franzido e totalmente imerso em seus pensamentos. Ele e Sthephan não se falavam desde a noite anterior e evitavam estarem perto um do outro, ela imaginou que talvez Anthony ainda estivesse pensando na briga.
- Uma moeda pelo seu pensamento.- Violet sentou-se ao lado de Anthony.
Ele não olhou para ela. Continuava a pensar sozinho fitando o teto do moinho.
- Vai me fazer adivinhar o que está pensando? Já sei, está pensando no quanto você e Sthephan precisam fazerem as pazes.
- Não chegou nem perto - ele suspirou.
- Então me diga. O que aflige essa mente com tantos pensamentos soltos?
- Ela vai se casar...
- Lucy?
- Sim. Ela se casará com um caçador, um Dauphin.
- Lorde Dauphin? - Violet arqueou as sobrancelhas. - Deus, aquela família é tão... Acho que não existe uma palavra que os defina.
- Eu sei. Não posso deixá-la cometer esse erro.
- E o que vai fazer?
- Vou falar com ela. Tentarei convencê-la a desistir disso.
- Não está apenas fazendo isso para que ela não se case com um caçador, não é?
Anthony lançou um olhar sugestivo para Violet. Ela logo entendeu a real razão, embora já soubesse, ela só queria confirmar sua suspeita.
- Como tem tanta certeza? - ela perguntou.
- Certeza de quê? - Ele a olhou.
- De que a ama.
Anthony esboçou um singelo sorriso. Um sorriso bobo, como o de uma criança ao ver algo divertido.
- A certeza que eu tenho é que um dia, as pessoas humanas a nossa volta irão morrer. Os meus sentimentos por ela são muito mais do que uma certeza, é a minha vida, é o meu destino, é mais real do que tudo no mundo. Ela é... - Ele parecia um bobo alegre. Seus olhos brilhavam ao pensar nela. - Ela é a razão de eu acreditar que o céu de fato existe e que ela é o anjo mais belo mandado para viver entre nós.
- Bastava dizer que tinha certeza. - Ela brincou. - Eu esqueci que homens quando estão apaixonados podem ser tão chatos.
- Algum dia você me entenderá. - Ele deu um tapinha em suas costas. - Tenho fé nisso.
- Deus me livre. - Ela disse. - Ficar boba como você? Jamais.
Eles riram juntos. Anthony não entendia o porquê de Violet repelir tão incessantemente qualquer investida de um homem. Ele já havia visto o quanto ela ficava incomodada quando algum homem se aproximava dela de uma maneira romântica. Lembrava-se muito bem do dia em que Sthephan foi socado por ela. Foi pouco tempo após eles terem chegado em Paris. Ele e Sthephan passavam muito tempo observando os outros vampiros da rebelião. Sthephan se encantou por Violet assim que a viu, ela era diferente das mulheres que Sthephan costumava se relacionar. Infelizmente, ela não estava aberta para nenhum tipo de aproximação amorosa. Sthephan investiu nela durante semanas, mas sem sucesso, até que ela se cansou da presença irritante e insistente dele e o bateu. Lhe deu um belo e certeiro soco no olho direito, fazendo-o girar sobre seus pés e cair no chão. A situação, apesar de complicada, arrancou boas risadas daqueles que testemunharam tudo. Embora Anthony entendesse o porquê de Violet ter batido em Sthephan, afinal ele podia ser extremamente inconveniente, ele nunca entendeu o porquê dela ser tão evasiva com os homens.
- O que ainda está fazendo aqui?
- Como assim?
- Vai logo encontrar com ela.
Anthony olhou surpreso para Violet.
- Pare de me olhar como um boneco de cera bobo e vá antes que eu mude de ideia.
Anthony levantou em um pulo e saiu ansioso pela porta. Andou furtivamente até a entrada da cidade, onde observou a movimentação e viu que estava tudo calmo. Caminhou em direção a casa de Lucy, enquanto se aproximava, pensou que talvez a moça não estivesse sozinha em casa. Talvez frade Harmon estivesse lá. Precisava tomar cuidado, não ser visto pelo frade. Pensou em algo rapidamente e pôs em prática. Foi até a porta da frente deu três batidas, fortes e que poderiam ser bem ouvidas de dentro da casa. Depois, foi até a janela, esperando que uma luz fosse acesa. Viu um movimento dentro da casa e julgou ser o frade. Direcionou-se para a outra janela, a que pertencia ao quarto de Lucy, provavelmente, e resolveu entrar por ali.
- Meu Deus - ela arregalou os olhos. - Você me assustou.
- Sinto muito, não foi a minha intenção. - Anthony passou a perna direita pela janela e a fechou logo em seguida.
- Foi você quem bateu? - Ela perguntou.
- Sim.
- Porque bateu na porta se ia entrar pela janela?
- Para o caso de mais alguém estar na casa. Foi apenas uma distração.
Ela assentiu.
- Aceita alguma coisa? - Lucy gesticulou. - Água...
Ela imediatamente corou quando se deu conta que havia acabado de oferecer água para um vampiro. Anthony sorriu docemente, tentando fazê-la sorrir também.
- Me desculpe. - Ela disse ainda um pouco corada nas bochechas. - Normalmente ofereço alguma coisa às pessoas que vêm me visitar.
- Está tudo bem. - Ele disse.
Lucy parecia não saber o que fazer ou dizer, suas mãos não paravam quietas e ela parecia ansiosa.
- Sente-se, por favor. - Ela pediu. - Pode ficar à vontade.
- Obrigado. - Anthony sentou-se na beirada da cama. Lucy sentou-se ao lado dele.
- Porque está aqui? - Ela perguntou.
- Vim para agradecer pelo que fez por nós - ele disse, virando-se para olhá-la. - Gostaria de saber se posso recompensá-la de alguma forma.
- Não, - ela disse suavemente. - Só o fato de vocês estarem fora de perigo, já me basta.
- Somos vampiros - ele sorriu. - Nunca estaremos fora de perigo.
Ela olhava para os olhos de Anthony, quase hipnotizada por eles.
- Ao menos, poderemos ficar a salvo por mais algum tempo. Graças a você.
Anthony tocou sua mão. Estar com Lucy era um momento muito especial para ele. Ela acalmava seu coração e o deleitava como nenhuma outra criatura no mundo.
- Diga-me, como posso recompensá-la? Qualquer coisa. A lua, as estrelas, o sol.
Ela sorriu ingenuamente.
- O desejo mais profundo de sua alma. - Ele continuou. - Aquilo que sempre quis e nunca pôde ter.
- Eu... - Ela parou. - É bobagem.
- Diga-me. - Ele pediu. - Qualquer coisa.
- As estrelas. - Ela respondeu com um brilho em seus olhos. - Gostaria de vê-las, contemplar toda a sua beleza e esplendor enquanto brilham na infinita escuridão.
- Então, as estrelas. - Anthony levantou-se e lhe estendeu a mão. - Esta noite, as estrelas serão suas.
- Mas...
- Sem "mas". - Ele colocou o dedo sobre seus lábios. - Apenas venha.
O medo parecia não morar mais na mente da jovem, pois o vampiro o havia espantado. Agora só havia a certeza de ir ao encontro de seu desejo.
Anthony ajudou Lucy a pular a janela de sua casa, indo em direção ao cemitério, mas não era lá onde eles veriam as tão preciosas estrelas que brilhavam acima deles. O plano do casal era muito mais ousado. Um túnel dentro de uma sepultura os levaria para dentro dos muros da igreja, onde eles entraram com cautela e entusiasmo. O perigo era tão iminente quanto a certeza de verem o céu. Lucy guiou Anthony dentro da catedral, andando por lugares que ela sabia que o risco era menor, corredores vazios e escadas escuras que levavam até o lugar ideal. A torre dos sinos era o lugar mais alto da Catedral, ali era o lugar perfeito para contemplarem as estrelas e estarem mais próximos delas. Apesar de ter vivido naquela igreja por tantos anos, Lucy nunca havia ido até a torre. Era um lugar tão alto, o vento era mais forte ali e as aves descansavam nas gárgulas dos parapeitos.
A visão da cidade lá embaixo era deslumbrante, pareciam estar quase no céu naquela altura. O rosto de Lucy foi tomado de completa admiração. Não imaginava-se ali, nunca se imaginou ali e, agora que estava na torre dos sinos, se perguntava o porquê de nunca ter ido lá. A jovem aproximou-se do parapeito, com os olhos cheios de beleza e encantamento.
- Veja. - Ela disse. - Será que há algo mais belo do que tudo isso?
Anthony a olhava com satisfação. Era exatamente aquilo que ele queria, deixá-la feliz, vê-la em completo êxtase e deslumbramento. Ele encostou-se ao lado de uma pilastra e apenas a admirou enquanto ela admirava a cidade vista dali de cima.
- Oh Deus, - Lucy suspirou. - Será possível que existam ainda mais belezas além desta a minha frente?
- Sim. - Anthony disse. - Um mundo todo de belezas para você desbravar.
- Para qual direção fica o mar? - Ela lhe perguntou.
- Eu acho que fica a Oeste. - Ele apontou a direção.
- Deve ser esplêndido. Como gostaria de ver algum dia.
- Eu a levarei para conhecer o mar e tudo mais o que desejar. - Ele tocou a mão dela com gentileza. - Farei qualquer coisa para vê-la com este brilho nos olhos.
Ela deixou de olhar para a vista diante dela e voltou seus olhos para aqueles olhos gentis que pareciam querer tomá-la em seus braços.
- Passei a vida aqui dentro deste lugar, acreditando que alguém como você nada mais era do que o mal. - Lucy pegou a mão de Anthony, levando-a até o seu rosto. Aproximando a mão dele em sua pele. - Mas jamais conheci alma mais gentil e doce, repleta de encanto e amor.
- Então, permita que essa alma lhe dê toda beleza que merece. Venha comigo, deixe-me levá-la para longe, onde pode ser feliz e livre.
- Iria contigo de bom grado se pudesse...
- E porque não pode?
- Porque... - Ela engoliu seco. - Não posso ser ingrata com o homem que sempre fez de tudo para me fazer feliz. Meu pai não suportaria tamanha ingratidão.
- E por isso, ficará aqui, infeliz?
- Não sou infeliz.
Anthony arqueou a sobrancelha direita, seu olhar era de dúvida.
-É feliz em um lugar onde as pessoas lhe dizem o que fazer?
- Ele é o meu pai. É isso que os pais fazem.
- Eu acho que está enganada.
- O seu pai não fazia isso?
- Não. - Anthony amassou os lábios. - Mas é porque eu nunca o conheci.
- Eu não sabia. - Ela lamentou. - Eu sinto muito.
- Não sinta. Ele era um canalha, um homem ruim. Deus queira que eu nunca o encontre, pois se eu o encontrar, ele pagará por tudo o que fez com minha mãe.
- O que aconteceu?
- Não é uma história agradável.
- Estou disposta a ouvir.
Ele sorriu satisfeito.
- Minha mãe era uma mulher boa. Ela era freira em uma pequena igrejinha em uma região remota de Nápoles. Era muito devota de Jesus. O meu pai era um vampiro andarilho, vindo de algum lugar do leste da Romênia. Minha mãe me disse que ele bateu na porta da igreja, implorando por ajuda, estava sujo de lama, ensanguentado e confuso. Ela o acolheu e cuidou dele, em troca, ele a transformou em vampira e em seguida... - Uma lágrima escorreu de seus olhos. Ele a limpou com um movimento rápido. - Ele abusou dela. Deu-lhe um pesadelo interminável, depois a abandonou.
- Anthony, eu sinto muito. - Ela pôs a mão em seu ombro de maneira reconfortante.
- Que mulher extraordinária ela era. - Sua voz carrega um pesar. - Apesar de eu ser fruto de uma violência inimaginável, ela me amou, cuidou de mim com o amor e devoção de uma mãe. Foi ela quem me ensinou a ter fé, a acreditar em Deus e em seus milagres. Só esqueceu de me dizer que Deus leva os mais fieis à ele primeiro. Eles invadiram nossa vila, atearam fogo em nossas casas e levaram a vida de muitos, inclusive a dela.
- Ela está com Deus agora, Anthony. - Disse com ternura. - Não tenho dúvidas.
- Meu pai lhe deu a condenação eterna para que ela não pudesse ser salva.
- Não. - Lucy contentou. - Uma mulher como ela agora descansa ao lado do Senhor. O céu é feito para pessoas como sua mãe.
- Queria que ela tivesse conhecido você.
- Também gostaria de tê-la conhecido.
Os olhos de Anthony ficaram repletos de ternura, ele passou a ponta de seus dedos na pele dela, desenhando o rosto de Lucy, tocando e acariciando, enquanto sorria. Ele colocou uma mecha de cabelo dela atrás de sua orelha e depois deixou seus dedos escorregarem pelos fios loiros dela. Lucy sentiu seu peito queimar com o toque de Anthony, estava segura e feliz naquele momento, sentindo os sentimentos de Anthony por ela.
- Você é um anjo. - Sua voz foi sutil. - O meu anjo...
- Não diga essas coisas.. - Ela disse quase num sussurro.
- Porque não?
- Porque não posso me apaixonar por você. - Seus olhos brilharam ao encontrarem os de Anthony. - Não posso...
- Pode. Deve. - Ele disse em seu ouvido. - Permita-se fazer o que seu coração está desejando.
- Por que você faz isso comigo? Esses sentimentos tão fortes e confusos.
Anthony estava pronto para tomar Lucy em seus braços e beijá-la finalmente, como desejava há dias, mas pingos caíram do céu, os surpreendendo. A chuva os pegou de surpresa, eles ficaram ensopados em pouco tempo. Lucy olhou para cima e deixou a chuva escorrer por seu rosto, inundar seu corpo, as palmas das mãos estavam viradas para cima, recebendo e tateando os pingos da chuva que caiam. Anthony a observava admirado, vendo aquela menina se divertir com a chuva grossa que descia do céu. Ela era tão simples, tão cheia de vida. Imaginou o que aconteceria se ele lhe revelasse o segredo que ele guardava, mas não era o momento oportuno, ele sequer sabia se o momento oportuno chegaria algum dia.
- Venha. - Ele a chamou. - Vai ficar doente.
- Não se preocupe. - Ela sorria olhando para ele. - Esse resfriado valerá a pena.
Ele riu e decidiu juntar-se a ela. Pegou sua mão e a reverenciou, ela fez o mesmo gesto e segurou a bainha do vestido. Eles dançaram sem ritmo algum e sem música em seus ouvidos, só eles e a chuva. Lucy ria como uma criança, estava se divertindo como nunca em sua vida.
- A senhorita não tem o menor jeito para dançar. - Ele disse ao sentir o pé dela esmagar o dele novamente.
- Eu sei. - Ela riu. - Aprendi a dançar com a freira Dominic. Ela também pisava no meu pé.
- Essa freira a criou?
- Sim. Ela é a minha mãe que eu nunca tive.
- Você não tem nenhuma ideia de quem tenham sido os seus pais?
- Não. - Lucy pareceu distante. - Papai acha que eles podem ter sido ciganos.
- E o que você acha?
- Eu gosto de pensar que eles eram pessoas boas, não importa se eram ciganos ou não, que eles me amavam muito mas não podiam cuidar de mim.

"Ah, se ela soubesse a verdade".

- Eles seriam loucos se não a amassem.
Anthony pôde ver esperança no olhar doce de Lucy, ele não podia estragar a imagem que ela tinha dos pais, apesar de saber que ela não acharia ruim o fato da mãe ter sido uma vampira, mas lhe dizer que eles estavam mortos, não. Ele não podia matar a esperança que havia dentro dela.
A chuva tornou-se fina até parar por completo. Eles pararam de dançar como se o som da chuva fosse a música que os guiava. Estavam completamente molhados, mas as suas almas estavam em chamas um pelo outro. A noite se foi quando o relógio marcou meia noite, o casal resolveu que já era hora de ir, embora não quisessem abrir mão da companhia um do outro. Anthony levou Lucy de volta para sua casa, com a certeza de que gostaria de vê-la de novo.
- Encontre-me na mesma tumba da entrada das catacumbas no fim da semana. - Ele disse antes de partir. - Quando o sol se esconder, estarei lá para encontrá-la.
- Embora eu ache que seja arriscado, meu coração anseia por este novo encontro. Eu estarei lá.
O vampiro deu-lhe um beijo singelo na testa e partiu. Ela não sabia o porquê, mas seu coração pulsava muito mais forte na presença dele. Estava apaixonada...?

Sangue Profano (FINALIZADO)Onde histórias criam vida. Descubra agora