Um conto

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- Quer mesmo saber um pouco mais sobre mim morceguinho?

Bruce Wayne, mais conhecido como Batman, estava de pé a minha frente, me olhando de cima enquanto eu tomava whisky, ele só acenou com a cabeça e eu suspirei tomando um grande gole da bebida.

- Tá certo, prepare-se para uma história triste.

“Meus pais nunca deveriam ter tido filhos, desde que eu me lembro meu irmão quem cuidava de mim, por um tempo era só negligência, mas depois de um tempo meu pai começou a ser agressivo principalmente com a gente, ele bebia e depois descontava suas merdas em nós, minha mãe era uma drogada, vivia vendendo as coisas da casa. Meu irmão começou a trabalhar cedo principalmente para escapar de casa depois da escola, muitas vezes me levava junto depois que eu saia da aula, quando eu fiz dez anos meu pai sumiu por um tempo, o que foi ótimo, mas ainda tinha a nossa mãe, ela vendeu muitas das coisas da casa, mas não mexia no quarto que eu e meu irmão dividiamos o que era ótimo, mas depois de um tempo ela sumiu, descobrimos que ela teve uma overdose no banheiro do quarto dela, só descobrimos quando começou a feder, chamamos a polícia e levaram ela, ficamos um mês em paz.”

- O que isso tem haver com sua relação com o Coringa?

- Calma fofo, só escuta e você vai ver que não tenho nada haver com o palhacinho.

“Mas um dia nosso pai apareceu, ele estava ensandecido, falando que tínhamos matado a mulher dele, ele me bateu tanto que eu achei que ia morrer, meu irmão tinha ido trabalhar, mas por algum milagre ele chegou cedo, ele partiu pra cima do nosso pai, foi uma confusão, quando eu vi eles estavam na cozinha, meu pai pegou uma faca e feriu o meu irmão, mas meu irmão também pegou uma faca, acontece que ele foi mais rápido, ele esfaqueou o nosso pai, quinze vezes, foram quinze facadas bem dadas para aquele desgraçado morrer. Meu irmão me levou ao hospital, fiquei internada por uma semana, fomos pra casa onde o corpo ainda estava, jogamos ele em uma vala, um mês depois a polícia veio avisar, incompetentes, vivemos bem por muito tempo, até que quando eu tinha quinze ano meu irmão sumiu, pensei que ele estava curtindo um pouco depois do trabalho, mas quando ele não apareceu no dia seguinte fui à polícia, mas eles nem ligaram pra mim, procurei sozinha por um tempo, mas não deu em nada, perguntei na fábrica de químicos em que ele trabalhava e ninguém sabia onde ele estava."

-Disse que ele tinha morrido.

- Quando alguém some nessa cidade maldita quer dizer que está morto, eu só não tive a sorte de encontrar o corpo dele.

"Fiquei sozinha, o dinheiro que ele tinha guardado acabou, então comecei a roubar carteiras, eu era péssima, mas logo com treino e paciência eu aprendi, mas um dia roubei a pessoa errada, me cercaram em um beco, quando eu achei que ia morrer, mas aí o Luke apareceu, falou que eu era propriedade dele, me salvou dos imbecis, ele me levou pra casa noturna que ele tem, me deu um emprego como zeladora, mas só se eu voltasse a estudar, me deu um lugar pra ficar, então vendo a casa suja em que eu vivia, me deu comida e cuidou de mim, ele não me deixava chegar nem perto do salão, não queria que os clientes entendessem errado, mas conforme eu crescia ele me dava trabalhos que lucravam mais, barista, recepcionista, até que eu terminei o ensino médio e queria fazer faculdade, ele ficou todo orgulhoso e queria pagar, mas eu não deixei, as meninas da casa me ensinaram a dançar, elas eram muito legais, me ensinaram pole dance e eu era muito boa nosso, ele não queria deixar, mas eu precisava do dinheiro então fiz a primeira apresentação contra a vontade dele, dai consegui, eu era incrível, tive até apresentação solo algumas vezes, o problema é que faculdade é muito caro, então queria fazer sexo em troca de mais dinheiro."

-Prostituição.

- Eu chamo de negócios, mas se quer me ver como uma prostituta não ligo, eu ganhava dinheiro honestamente.

"O Luke é o melhor cafetão que uma garota poderia querer, ele só pega 10% do que recebemos, também criou lugares seguros para podermos trabalhar, nunca vamos pra casa de clientes, só podemos utilizar os quartos das casas, e caso quiséssemos sair, deveríamos ligar de hora em hora, melhor patrão, trabalhei assim por muito tempo, meus clientes me deram muitos presentes, mas eu tava ficando cansada, fiz mestrado e tava terminando meu doutorado quando o Coringa me sequestrou, eu lembro como se fosse hoje, eu estava no museu fazendo um trabalho, quando sai uma van parou e alguém me puxou pra dentro, eu tentei me livrar, mas me bateram e eu desmaiei, acordei em uma cela, tinha uma cama e um balde, o palhaço veio e começou a falar em como tinha sentido saudades, em como eu estava bonita e que ele queria saber de mim, eu não entendi e disse que era só uma estudante, mas ele não aceitou, me levou pra uma sala e me amarrou, fez muitas perguntas, quando não gostava das perguntas ele me cortava, queimava ou batia, eu não sabia o que ele queria, isso durou uns dois dias eu acho, até que ele saiu e eu vi uma oportunidade, quebrei os polegares me soltando, bati em um dos guardas com uma cadeira e depois me esgueirei, consegui sair de onde estava, andei muito até achar um lugar conhecido, contatei um dos meus clientes regulares que era médico, ele me ajudou, dai sai da casa noturna, pintei o cabelo e uso lentes de contato, agora sou professora de Artes e tento viver o mais calmamente possível."

-Tá bom pra você morceguinho?

- Por que não saiu de Gotham depois do sequestro?

- Eu estava terminando meu doutorado, e também não queria sair de Gotham, meu irmão viveu e morreu aqui, mas acho que não quero morrer aqui como ele, não sei o por que do Coringa me querer, mas estou assustada, quero ir embora e viver minha vida em paz, acho que não é pedir muito.

O Wayne ficou quieto me analisando, eu sabia que ele estava decidindo se acreditava em mim ou não, eu não ligava, estava dizendo a verdade, bom, pelo menos parte dela.

-Montaremos turnos, eu e os outros iremos protegê-lo, quando o Coringa aparecer vamos pegá-lo.

- Porque eu não posso simplesmente ir embora dessa cidade esquecida por Deus?

- Ele vai atrás de você até no inferno se for preciso, então vai ficar aqui, e vamos pegá-lo.

Suspirei e deixei algumas lágrimas caírem.

-Entendo, bom não deixe a porta bater no seu traseiro quando sair.

- Como?

- Eu vou tomar um banho, me dopar e dormir, se quiser o sofá e todo seu, monte seus turnos, vigie o quanto quiser eu não me importo mais.

Levantei e fui para o banheiro, banhei calmamente tentando lavar um pouco a minha alma, sai enrolada na toalha e me assustei ao ver duas pessoas na minha sala, Bruce e aparentemente Asa Noturna com seu uniforme completo.

-Boa noite Grayson.

O homem pareceu muito surpreso, eu só sorri e fui para o meu quarto, me arrumei, me dopei e apaguei.

A Arte Beira a InsanidadeOnde histórias criam vida. Descubra agora