Vozes na madrugada

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- Foda-se, vou voltar a ser estriper, dava mais dinheiro e não era tão trabalhoso, vida digna uma porra.

Eu havia chegado em casa cansada de tantos pirralhos ingratos, superiores malucos e pais mimados. Era um dos dias de Bruce me vigiar, normalmente ele ficava do lado de fora, mas hoje por algum motivo ele estava sentado no meu sofá, parecia perdido em pensamentos, acho que devia estar planejando todos os passos do esquema de amanhã a noite. Mas assim que terminei de falar ele se levantou e me encarou.

- Ser estriper é mais fácil do que ensinar crianças?

- E também lidar com um diretor de escola arrogante e pais sem um pingo de noção do que é lidar com seus filhos egocêntricos e ridiculamente mimados.

- Acredito que esteja incluído.

- Eu prefiro você e seus pirralhos, são mais divertidos. Já decidiu como vai ser amanhã?

- Só preciso que me acompanhe, não vai precisar fazer nada extraordinário.

- Tá legal, vou fazer o jantar.

- Vou fazer uma ronda no perímetro.

- Por que você não come a minha comida?

- Comi no seu aniversário.

-Só o que o seu filho e seu mordomo fizeram, acha que eu não reparei?

Ele só levantou uma sobrancelha pra mim com aquela máscara irritante.

- Não vou te envenenar morcegão.

"Infelizmente"

Me arrepiei um pouco, mas ignorei a voz.

- Eu já comi em casa.

- Então pelo menos fique aqui dentro, não vai mudar muita coisa e você já vai estar aqui caso alguém entre.

- Dá para monitorar melhor lá de fora.

- Você é um saco, tá faça como quiser.

Fechei o computador e fui para a cozinha, fiz uma macarronada rápida, comi e mesmo cansada não consegui dormir, decidi ir para o ateliê, também não estava inspirada para pintar, então só me sentei em uma poltrona perto da janela e admirei Gotham, era uma cidade sombria, mas bonita em suas trevas, eu conseguia ver Bruce no prédio ao lado, sua capa esvoaçando, me fez dar uma pequena risada.

Você não pode se apaixonar querida.

- Não vou.

"Eu acho que ela já está."

- Não estou.

Ele é bonito.

"Ama os filhos"

Forte

"Sexy"

- Calem-se.

Sabe o por que de não poder se apaixonar.

"Lembra o que aconteceu com o último?"

Nós acabamos com ele

- Por favor...

"Ainda temos o quadro não é"

- CALA BOCA PORRA.

Não fique assim querida.

"Vamos ver o quadro"

- NÃO, ME DEIXA EM PAZ PORRA.

O QUADRO JACQUELINE.

A Arte Beira a InsanidadeOnde histórias criam vida. Descubra agora