O convite

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Acordei com a luz nos meus olhos, bufei e levantei do sofá que tinha me deixado bem dolorida, o morcegão devia ter me colocado nele.

"Temos que matá-lo Jacqueline"
Ele vai descobrir, mate-o

- Merda.

Eu não gostava de fazer o que ia fazer, não gostava de incomodar os vizinhos, mas tirei meu equipamento de som do armário e coloquei na sala o ligando.

"Não vai poder nos abafar pra sempre querida"
Um dia vamos sair pra brincar Jacqueline.
E VAI SER DIVERTIDO

Assim que liguei o som as vozes foram embora, era uma medida paliativa, depois disso elas iam sumir por um tempo indeterminado, às vezes dias, às vezes somente horas, mas era melhor do que nada. Passei o dia limpando e organizando minha casa, depois disso decidi cuidar um pouco de mim, lavei meu cabelo, fiz minha skin care, hidratei a pele e quando acabei me senti uma nova mulher. Decidi que mesmo com os abutres acampando na minha porta eu iria ter uma noite divertida, então depois do almoço comecei a planejar tudo.
Aa cinco em ponto comecei a me arrumar, minha reserva no Flor de Lótus era para as sete, então tinha que me apressar, deixei meu cabelo solto com uma bela tiara brilhante o decorando, passei uma maquiagem leve, que quase não dava para perceber, a não ser o batom que era de um vermelho vivo, coloquei um vestido comprido vermelho que se agarrava ao meu corpo até o quadril depois se soltava levemente do corpo não marcando as pernas, um salto Louboutin preto, um belo colar de diamantes que ganhei de um antigo cliente, era bonito, elegante e discreto, o anel que um dia pertenceu ao meu irmão estava no meu dedo anelar. Peguei minha bolsa com a carteira e o celular, chamei um táxi por aplicativo e assim que ele avisou que estava na porta, corri o mais rápido possível para dentro do carro, evitando por pouco um repórter enxerido.
O restaurante era muito bonito e tinha uma bela ambiência chinesa, fui levada para a minha mesa, aproveitei um bom vinho de arroz enquanto esperava meu pedido.
Cai em um mar de pensamentos sobre como seria deixar essa cidade amaldiçoada, e entrei tão fundo na fantasia que quase não notei quando alguém se sentou na cadeira em frente a minha. Voltando a mim, percebi que Bruce Wayne estava sentado à minha frente e tinha um sorriso sedutor nos lábios.

- Boa noite senhorita Brooks.
- Boa noite senhor Wayne, posso ajudar em algo?
- Na verdade queria me desculpar pela noite do evento, a deixei sozinha à mercê do Coringa, mas precisava achar Damian.
- Tudo bem, ele é seu filho, ficaria surpresa se não o procurasse.
- Gostaria de convidá-la para jantar comigo essa noite se não for incômodo, eu pagarei.
- Podemos dividir senhor Wayne.
- Me chame de Bruce, e seria minha maneira de me redimir.

Depois de um pouco mais de insistência do homem acabei cedendo, ele fez seu pedido e pediu para chegar junto ao meu e surpreendentemente os pedidos não demoraram a chegar, acho que era seu poder intimidando o cozinheiro.

- Então senhorita Brooks…
- Me chame de Jacqueline.
- Jacqueline, posso saber qual a sua história?
- Não tem nada demais nela, pais mortos quando ainda era pequena, criada pelo meu irmão mais velho, quando eu tinha quinze ele morreu, fiz de tudo pra sobreviver, sou uma ótima batedora de carteira, aliás, uma típica moradora de Gotham.
- Uma das muitas habilidades que uma professora de Artes deve ter eu presumo.

Ri e tomei mais um pouco do vinho, eu tinha certeza que já estava um pouco bêbada, eu não falava da minha vida pra muita gente.

- Acho que sim, fiz o que tinha que fazer, eu queria ser uma pessoa honesta, então consegui um emprego, terminei o ensino médio e me graduei, fiz mestrado em história da arte e doutorado em arte contemporânea, cansei de estudar, então não acho que vou fazer uma pós.
- Damian me falou sobre como dirigiu o projeto na escola, sobre como ajudava seus alunos mais introspectivos a se expressarem em seus quadros com a atividade.
- O objetivo era que todos eles se libertassem em seus quadros, obras lindas saíram desse projeto, algumas nem tanto.

Rimos e continuamos a falar sobre meu trabalho com os alunos, depois que terminamos de comer Bruce pediu sobremesa e mais vinho de arroz, eu já me sentia tonta e sabia que estava bêbada, mas ia ficar bem, comemos baozi de pasta de feijão vermelho, a versão doce do pãozinho recheado, estava tão gostoso que eu pedi alguns para viagem, conversamos mais um pouco, depois Bruce pagou a conta e se ofereceu para me levar pra casa

- Obrigada, mas ainda não quero ir pra casa, acho que vou vagar um pouco.
- Gotham é perigosa a essa hora.
- Gotham é perigosa a qualquer hora senhor Wayne.
- Bruce, então deixe-me acompanhá-la em sua caminhada.
- Seria um prazer Bruce.

Saímos do restaurante e ele sinalizou para seu motorista que estava esperando no carro, avisou que ligaria para buscá-lo onde quer que ele fosse parar, me ofereceu o braço a qual aceitei e começamos a caminhar lentamente pela área nobre de Gotham.

- Planeja fazer outro evento Jacqueline?
- Ainda não sei, a escola está em reforma, por causa dos estragos que o Coringa fez, então meu cronograma de ensino está atrasado, era pra eu estar ensinando arte Barroca na teoria e depois aplicar a prática .
- Acha que seus alunos vão conseguir aplicar tal forma de arte?
- Não espero perfeição, só quero que eles entendam e dêem o melhor de si, a muitos alunos talentosos naquela escola, quero ajudá-los como puder.
- Realmente ama sua profissão.
- Só retribuindo a ajuda que tive depois que meu irmão morreu, quando lembro que cuidaram de mim, me acolheram e me deram um teto, eu revivo a esperança de que essa cidade ainda tem jeito.
- Conheceu uma pessoa boa de muitas em Gotham.
- Pena que essas pessoas boas tem que conviver com malucos homicidas.

Andamos mais um pouco em silêncio, o vento frio me fez tremer um pouco, mas Bruce tirou o paletó e colocou em meus ombros, o típico clichê de filme romântico, me cobri e agradeci. Depois de mais alguns passos chegamos a uma bela fonte em uma praça muito bonita, me sentei em um banco acompanhada pelo homem mais alto, ficamos ali em silêncio por um tempo.

- Gostaria de convidá-la para jantar Jacqueline.
- Mas já jantamos senhor Wayne.
- Bruce, e falo em outra ocasião, gostei de conversar com você.
- Também gostei de conversar com você Bruce.
- Então aceita o convite?
- Eu adoraria.
- Ótimo, sábado às sete.
- Pra mim está ótimo.

Bruce se levantou e me ofereceu a mão a qual aceitei e me levantei.

- Vou chamar meu motorista e deixa-la em casa.

Não demorou para o motorista chegar, assim como não demorou para que chegássemos a minha casa, devolvi o paletó e o beijei na bochecha.

- Obrigada pela companhia Bruce, foi uma noite adorável.

Sai do carro e por sorte acho que os repórteres e paparazzis haviam ido embora, subi apressada para o meu apartamento no caso de estar enganada, me despi, tomei um banho e caí na cama.

Narrador pov's on

Jacqueline dormia profundamente, a mulher não havia notado o colar de joaninha pendurado no abajur da sala e nem a carta de baralho exibindo um coringa em seu travesseiro

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