Pontapé

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Caitlyn


Os dias dentro da casa foram se seguindo, e eu estava evitando o máximo possível estar sozinha com a Violet...Por que tudo estava estranhamente confuso entre nós duas, e eu preciso pôr a cabeça no lugar o mais rápido possível.

Tem dado certo evitar ela, pelo menos nas duas semanas que já passaram eu tive sucesso, mas a segunda luta dela nessa cidade é amanhã, e eu precisava pelo menos dar apoio.

Na última luta Violet ganhou por pontos, e foi sofrido, ela teve uma enorme dificuldade, mas levamos em consideração toda a situação, ela ficou um bom tempo com dores e hematomas da agressão que sofreu, e nenhum de nós além de Darius apostou em sua vitória, e foi visível que seu desempenho no octógono mudou bastante.

Mas felizmente ela venceu...Apesar disso, essa não é a questão que está perturbando minha mente...

...Uma coisa é ter uma relação com ela enquanto estávamos bêbadas, o que era por si só completamente diferente de sentir vontade de beijar ela e sentir ela tão perto de mim, sentir tesão nela estando sóbria...Isso é completamente diferente.

Esse foi o pontapé inicial para as minhas mais frequentes dúvidas sobre o que eu sinto por ela, e sobre o ciúmes sem fundamento que eu tive quando o assunto era aqueles comentários...O pior de tudo era ela saber que eu sentia esse ciúmes sem fundamento algum, sem ter o direito de sentir, e além disso, ela sabia que eu estava evitando ela, era óbvio, porque sempre que ela chegava eu arranjava um jeito de ir embora, e obviamente eu não poderia fugir para sempre quando o assunto era Violet...Ainda mais quando estamos dividindo o mesmo espaço todos os dias, e quando eu tenho a obrigação de redigir contratos com ela.

  Um bocejo deixou meus lábios e eu desci as escadas caminhando até a cafeteira, eu peguei uma xícara de café e com ela em mãos eu caminhei até o corredor, eu abri a porta de vidro que dava acesso ao tatame e lá estava a cena que eu tentava frequentemente tornar a mais inóspita do meu dia-a-dia, Vi treinando.

Darius passava uma sequência para ela no aparador de chute e ela realizava os movimentos com força e velocidade, vez ou outra ele batia nela, ele me olhou de relance e eu fiz um gesto de silêncio para ele, ele sequer se moveu, em segundos seus olhos se prenderam na lutadora novamente, Darius apenas continuou com a sequência.

Eu permaneci observando o treino deles enquanto girava a xícara em minha mão, cada movimento era bem trabalhado por ela.

  Se tratando do meu recente desejo pela Vi...Eu não imaginava um bom final para nós, não era simples imaginar Violet na minha vida, e por mais que eu desejasse ter ela, eu não sabia até onde isso se trata de desejo ou de sentimento, vez ou outra eu acreditava ser desejo, depois eu pensava ser um sentimento, já que eu facilmente sentia ciúmes dela...

Ela era uma pessoa incrível, ainda assim, isso não me ajudava a ficar menos confusa, ou a entender melhor tudo o que se passa comigo.

Eu sei que "Vi" se tornou assunto recorrente na minha mente e eu venho tentando me manter ocupada para fugir disso, e isso não resolve a situação.

"Uma bela confusão Caitlyn, parabéns"

Em um suspiro exausto eu me virei saindo do local, e me despedindo mentalmente da imagem da lutadora que sequer havia percebido minha presença.

Eu fui até a cozinha me sentando e tomando o café enquanto comia alguns biscoitinhos.

-Bom dia! -Riven falou enquanto se sentava ao meu lado. -Que cara é essa?

Eu encarei ela suspirando e torci meus lábios, não era como se eu pudesse simplesmente dizer tudo o que eu penso, eu não poderia dizer:

"A Violet não sai da minha cabeça"

-Dormi pouco hoje...E tenho muito trabalho.

-Bem vinda ao mundo proletário madame! -Ela disse dando um riso calmo, eu sorri com simplicidade, meus olhos fitaram Darius que se aproximava, um pouco atrás dele Violet vinha, ela caminhou para a pia lavando suas mãos e as secou, em seguida ela veio até a mesa se sentando ao lado de Riven, obviamente ela havia notado que eu andei ignorando ela. -Eai? Treinou bem hoje?

A pergunta de Riven veio em tom descontraído como de costume, Vi confirmou enquanto pegava a garrafa de café e despejava o líquido quente na xícara vermelha.

-Pra cacete, minhas costelas doem.

Riven riu e encarou a mulher, meus olhos seguiram até o rosto de Vi, ela estava bem vermelha, talvez por conta de todos os golpes que Darius deu no rosto dela.

-Treinou tanto hoje que até sangue perdeu! -Darius afirmou rindo, Vi deu um sorriso leve e se espreguiçou, em seguida sua mão levou a xícara até os lábios.

-A luta é amanhã...-Eu falei atraindo o olhar da rosada, a lutadora fincou seus olhos em mim e eu sorri curto. -Boa sorte, estaremos lá por você.

"Desculpe passar tanto tempo distante mas não dá pra ficar tão perto"

-Valeu...-Ela deu um sorriso meio tímido e desviou os olhos, Riven bagunçou os cabelos dela. -Riven! -A mulher tentou se soltar de Riven, eu dei um riso e Vi se debateu tanto que ambas caíram no chão.

-Olha o risco de lesionar a minha lutadora aí! -Ele gritou rindo, Draven revirou os olhos dando um riso baixo.

-Vocês parecem crianças! -Darius afirmou levantando uma das cadeiras, Vi se levantou e revirou os olhos encarando Riven, elas tinham uma bela amizade, um tanto saudável. -Duas crianças! -Ele puxou ambas colocando cada uma embaixo de um braço, Vi o encarou sorrindo naturalmente, Riven riu e ele empurrou ambas em direção a mesa. -Comam igual gente! Não quero ninguém aqui furando dieta depois.

-Eu nem deveria estar comendo assim. -Vi afirmou e virou o resto do café, Riven a encarou estreitando os olhos.

-Mas você é teimosa pra caralho!

-Eu tenho uma boa genética é diferente.

-Mesomorfos são uma desgraça...-Draven resmungou encarando ela, a rosada riu e se recostou na cadeira.

-Vou indo...-Eu falei saindo da mesa e caminhando para o corredor, eu iria para o meu quarto, mas eu senti a mão da tatuada segurar meu pulso, e em questão de segundos ela havia me lançado contra a parede e me prendido nela com seus dois braços, seus olhos me fitaram. -O que você tá fazendo?

-Eu? -Ela deu um riso nasal um tanto desacreditado -O que você tá fazendo Caitlyn?

-Eu não sei do que você está falando.

Eu engoli a seco me fazendo de desentendida, seus braços continuavam me cercando, ela se aproximou um pouco mais de mim e eu engoli a seco.

-Sabe sim, você tá me evitando.

-É impressão sua.

-Não é não! -Ela franziu a testa e seu maxilar travou, eu deslizei meus olhos pela expressão dela, ela parecia irritada por eu não assumir meus próprios atos. -Eu sei que não.

-Desculpa, é que... Não dá Vi.

-Então fala, o que não dá?

-Ficar muito próxima de você, não dá.

Ela pareceu digerir minhas palavras, um suspiro frustrado e cansado saiu dos lábios dela, mas as palavras foram piores do que sua expressão:

-Então, só não fode com a minha cabeça.

-Como? -Eu franzi o cenho e ela continuou encarando meus olhos, eu não sabia exatamente onde ela queria chegar com esse assunto.

-É isso... Não me faz gostar de você, e age como se nada tivesse acontecido, não fode com a minha cabeça.

-V-Você gosta de mim?

"Como eu nunca nem percebi isso?"

-Não é óbvio? -Ela deu um riso curto e se afastou um pouco, parecia atônita e sem graça -Mas, só... Não faz isso, não desse jeito.

Ela suspirou e correu a mão pelos cabelos saindo em seguida, eu arregalei meus olhos, sua imagem se perdeu no corredor.

"Como é?"

Purple effectOnde histórias criam vida. Descubra agora