Danny

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Opal e eu nos casamos quando tínhamos quinze anos.

Morávamos no Texas na época, nos arredores de uma cidade pequena. Crescemos juntos e frequentamos a mesma escola. Largamos os estudos pelo casamento, nunca concluímos o ensino médio.

Depois do casamento, nos mudamos para o Arizona. Nossos pais trabalhavam para donos de terras, plantavam algodão, eles disseram que não devíamos ir, que não tinha trabalho para mexicanos fora do campo. Queríamos provar que eles estavam errados, acho que conseguimos provar isso, mas não era trabalho formal. Estavam mais para acordos entre pessoas que precisavam de uma arrumadeira ou de um jardineiro uma vez por mês, e de toda forma só nos chamavam porque éramos mais baratos que os brancos.

Fazíamos o possível para ter sempre um emprego, mas desde a quebra da bolsa, as coisas vinham ficando cada vez mais difíceis. Conversávamos sobre voltar ao Texas às vezes, mas gostávamos de Glendale: cidade menor, com pessoas que não sabiam muito sobre minha família. Parecia mais seguro.

Ela conseguiu esse pequeno bico com os Miller. O preço combinado era ridículo de tão pequeno, mas foi uma agradável surpresa descobrir que eles sempre pagavam a mais.

É claro que isso não ajudava muito. As cidades pequenas foram especialmente atingidas pela crise, não como o resto do país... Os pobres só ficaram mais pobres, estava um pouco mais difícil para gente, mas a classe média e os novos ricos que caíram de verdade. Mas, os novos ricos precisaram demitir os pobres e ninguém mais tinha trabalho. Não estávamos no Quintal do Diabo, mas acho que a maioria de nós não estávamos muito melhores que eles.

Era um ponto positivo que Elvis Miller a trouxesse para casa sempre que ela ia lá. Além de que era mais seguro para ela, ele… Bom, ele era agradável de se olhar.

Eu estava chegando em casa quando o carro de Elvis estacionou. Opal desceu e parou ao lado do carro. Ela observou minha aproximação com uma sobrancelha arqueada.

Dei risada. Aquela mulher me conhecia bem demais.

Miller abaixou a janela do carro e me olhou nos olhos. Ele tinha olhos azuis, com cílios longos que lançavam sombras sobre as maçãs proeminentes do rosto. O maxilar e os ossos da bochecha eram bem marcados e fortes. Ele era mais alto do que eu, a pele branca quase transparente, rosada pelo sol do Arizona.

— Boa noite.

— Boa noite!

Opal riu baixinho ao beliscar minha cintura.

— Eu já vou entrar. - ela sussurrou pra mim, então acenou para Elvis, entrou em casa.

Olhei para ele novamente.

Elvis não tinha desviado o olhar e mordia o canto dos lábios enquanto me observava. Ou ele era um tanto óbvio demais ou eu estava vendo demais em cada pequena ação dele.

— Bem, eu deveria ir agora…

— Quer entrar e tomar um pouco de água? - sugeri. — Ou de café?

Elvis piscou, surpreso com o pedido. Eu também estava surpreso por ter tido coragem de dizer isso, torci para ele não entender errado… ou para não entender certo. Eu nem sabia mais.

Ele hesitou um momento antes de dar um meio sorriso. Abriu a porta do carro.

— Claro. Um café seria bom. - concordou.

***

Se tornou padrão, sempre que Miller vinha trazer Opal para casa, entrava para tomar um pouco de café.

Elvis se sentava à mesa, me olhando enquanto terminava a xícara. Opal ligava o rádio logo que entrava.

Não havia conversas a princípio, apenas nós dois nos olhando. As coisas mudaram quando comprei mais filmes para a câmera.

Salário do PecadoOnde histórias criam vida. Descubra agora