Danny

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Ficamos três dias na casa da minha mãe. Fizemos sorvete caseiro. Elvis tentou aprender espanhol, o jeito que sua pronúncia maltratava minha língua me fez querer atravessar meus ouvidos com um tiro.

— Sua vizinha está sempre chamando o marido de Papi quando ele chega. - Elvis comentou numa tarde, regando a horta da minha mãe.

— Aquele é o amante dela, não o marido.

— Ah.

Elvis ficou em silêncio um instante antes de perguntar. — Mas por que Papi?

— Não sei. As mulheres brancas chamam os maridos de daddy e ninguém pergunta o porquê. - dei de ombros, me sentindo confuso com sua pergunta.

Elvis cantarolou. — É parecido o significado então?

— Eu acho.

Elvis deu um sorriso malicioso e jogou um pouco de água gelada em mim.

— Bom saber, Papi.

Olhei, chocado, para o Elvis. Meu coração acelerou, meu rosto empalideceu.

— Você é quase quatro anos mais velho do que eu!

— Quem se importa? - Elvis riu jogando água em mim de novo.

Agarrei o regador, me levantei, derramei a água sobre os cabelos do Elvis. Ele gritou, se levantou e me empurrou para o chão.

Corremos pela frente da casa, um na frente do outro, um tentando jogar água no outro.

***

Peguei o rifle que estava escondido embaixo do encosto do sofá. Minha mãe preparou algumas comidas e sanduíches que poderíamos levar, deixou que levassemos algumas cobertas e travesseiros. Comprei cigarros pra mim.

Cobri as armas com um lençol banco no banco de trás.

Dirigimos até outra cidade e roubamos outro carro. Depois dirigimos até outra cidade e adulteramos a placa. Encostei o carro fora da estrada para que pudéssemos dormir quando a noite caiu.

Mal consegui pregar o olho. Cada barulho me assustava, fosse de bicho ou de carro. Tudo poderia ser a polícia.

Imaginei o que Opal estaria fazendo. Eu sabia que se estivesse lá, estaria tirando fotos dela. Talvez ela ligasse o rádio e fizesse Elvis e eu dançarmos juntos novamente. Mas, eu sabia que não era isso que estava acontecendo: Opal não estava deitada rindo no sofá com uma câmera na mão.

Girei a aliança de casamento no dedo. Apesar da documentação ser falsa e nossos motivos nada terem haver com amor, os votos e promessas foram verdadeiros. Na saúde e na doença; na riqueza e na pobreza; até que a morte os separe.

A morte não havia chegado ainda, mas logo chegaria. Esperava que chegasse pra mim primeiro. Torcia para que Opal pudesse se virar sem mim. No fundo, eu sabia, que precisava achar um jeito de ajudá-la mesmo estando na estrada.

Elvis dormia serenamente, como se estivesse numa cama macia e sem nuvens de preocupação sobre a cabeça. Olhei seu rosto relaxado ao dormir, a boca dele entreaberta e um pouco de baba escorrendo no canto dos lábios para o queixo.

Desviei o olhar. Continuei a olhar pela janela, mas não dava para ver nada já que a noite era alta e sem lua.

O sono me alcançou em algum momento.

***

Comprei meus cigarros enquanto Elvis andava pela loja e discretamente colocava algumas embalagens de doces dentro do casaco.

Salário do PecadoOnde histórias criam vida. Descubra agora