Era sempre fácil notar quando Elvis estava mal, ele parava aleatoriamente para atirar em algum pássaro, placa ou árvore, para ter certeza de estar preparado e com a mira afiada, então dirigia para casa.
Mandamos Myrtle ir na frente para dar o aviso de onde nossas famílias poderiam nos encontrar. A polícia de Glendale não a conhecia, então ela era a forma mais discreta de marcarmos esses encontros com nossos pais e com Opal.
Nunca marcavamos no mesmo lugar duas vezes, também nunca em lugares movimentados. Sempre íamos para estradas secundárias ou áreas fora da cidade para vê-los, fazíamos piqueniques e tentávamos impedir que a mãe de Elvis chorasse.
Fiquei com o dinheiro da Myrtle e os anéis de diamantes dela para garantir que ela voltasse. Eu estava cada vez mais desconfiado dela, podia notar como ela me olhava quando achava que eu não estava olhando. Raiva, ressentimento, chateação. Eu não confiava nela e nem ela confiava em mim.
Honestamente, devíamos tê-la deixado ir no começo, mas agora que ela sabia nossos principais esconderijos e pontos de encontros, que ela sabia nossos padrões de fuga e tudo que a polícia sonhava em saber, não podíamos fazer isso. Eu podia dizer que Myrtle faria tudo por dinheiro, sabia que ela estava focada nos cartazes de recompensas, já havia encontrado alguns dos nossos cartazes nas coisas dela. Ela nos entregaria se eu desse a chance. Seria mais seguro matá-la, mas Elvis gostava e confiava nela, então, me resignei em mantê-la em rédea curta, embora ele achasse isso um exagero.
Elvis tamborilou os dedos sobre o volante enquanto aguardava. Estávamos no deserto, árvores secas e vento cortante à nossa volta. O carro estava gelado, fazia meus ossos doerem. Havia algo fedendo no carro, mas eu não sabia o que.
Ouvimos um motor se aproximar. Faróis piscaram duas vezes. Elvis piscou os faróis do nosso carro mais duas vezes. Então o outro carro piscou uma vez e nós descemos.
Margaret e Opal estavam usando perucas ruivas e uniformes de garçonete. Arqueei as sobrancelhas para as duas, mas preferi não perguntar nada. Opal não me perguntava muito sobre o Elvis, eu considerava não perguntar sobre a Margaret uma boa forma de retribuir.
— Estávamos tão preocupados! - a mãe de Elvis se jogou nos braços dele e começou a beijar o rosto do filho, conferindo se ele ainda tinha todos os membros e ambos olhos.
— Dan! - olhei para baixo ao ouvir o grito animado. Sorri pegando Mary no colo.
— Ei, princesa! - sorri para ela enquanto ela abraçava meu pescoço. — Nós trouxemos uma coisa pra você.
— Oba!
Coloquei Mary no chão, abri a porta de trás do carro. Vasculhei entre armas, baldes de munição e sacos de dinheiro até achar a boneca de porcelana que Elvis havia comprado para ela.
Era uma linda boneca de cabelos cacheados escuros e olhos azuis, bem parecida com a Mary. A boneca usava um vestido rosa cheio de babadinhos.
Os olhos de Mary brilharam assim que ela viu a boneca. Ela apertou o brinquedo entre os braços, soltou risadinhas adoráveis e eu soube que uma boneca de porcelana era um luxo que ela nunca tinha pensado em ter antes.
Se havia algo de bom na nossa situação atual de vida era poder dar pequenos luxos para as pessoas queridas.
— Como se diz, Mary? - Opal arqueou a sobrancelha, estendendo uma toalha de piquenique sobre o chão e sorrindo para a garotinha.
— Obrigada, Dan.
— Foi o Elvis que escolheu, você deveria agradecer a ele.
— Tá bom.
VOCÊ ESTÁ LENDO
Salário do Pecado
RomanceEntre a Grande Depressão, a Proibição e leis que criminalizavam a homossexualidade, Daniel Osorio conheceu Elvis Miller, um rapaz charmoso que o fazia se sentir livre mesmo que por poucos momentos. Ele entregou o coração para Elvis e recebeu o coraç...