Elvis

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Depois de alguns dias, o dinheiro começou a acabar. O problema se tornou para onde ir e como ir.

Já haviam alertas sobre o nosso carro, a polícia estaria de olho na placa, precisávamos arranjar outro. Além disso, precisávamos de armas. A que Danny tinha pego mal tinha balas e não me sentia confortável em ficar desarmado.

Precisávamos de um lugar onde pudéssemos ficar por um tempo sem levantar suspeitas, onde poderíamos conseguir munição, comida, de onde poderíamos sair facilmente. Algum lugar como...

— Minha mãe mora em West Dallas. - Danny comentou enquanto analisava mapas de estrada. — Podemos ficar com ela por uns dias. Acho que o rifle de caça do meu pai ainda está em algum lugar na casa também, podemos pegar e comprar munição.

Franzi a testa. Daniel nunca falou muito sobre os pais, exceto pelo fato de serem ilegais no país.

Olhei para o rosto dele com atenção. Daniel olhava fixamente para os mesmos mapas que eu, seus dedos traçando caminhos pelas estradas secundárias como se calculasse qual era o caminho mais rápido e discreto.

Sua mandíbula estava cerrada, parecia haver algo de duro nas feições enquanto calculava o caminho: olhos sérios e rígidos demais; testa e sobrancelhas franzidas demais; os lábios retorcidos demais. Parecia a expressão de ódio e amargura dos meus colegas de cela.

Coloquei a mão sobre a sua devagar, tentando movê-lo para fora daquele torpor em que eu mesmo o havia colocado sem perceber.

— Tem certeza?

Daniel olhou para mim e por um segundo quase não reconheci o olhar nos seus olhos.

Mas, então ele abriu um sorriso tão lindo que fez meu coração tropeçar e dançar.

— Eu quero que você a conheça. - respondeu, a voz delicada como as camisas de seda a que ele estranhamente havia aderido e que o deixavam um tanto parecido com Praga.

— Pode ser perigoso pra ela.

— Vamos ficar só o bastante para pegar as armas. - garantiu em tom decidido. Ele olhou para os mapas mais uma vez, então se levantou e juntos nossas poucas coisas e os poucos trocados que ainda tínhamos. — Vamos sair no começo do dia, quando os outros hóspedes começam a acordar e levantam as portas das garagens. Vamos aproveitar esse momento pra roubar algum carro.

***

O casal no quarto ao lado acordou cedo de manhã, discutindo e brigando. A mulher com uma voz aguda e irritante, o homem com voz grossa e raivosa. Dava para notar que eles estavam se batendo enquanto saiam do quarto.

O homem a xingou, mandou ela calar a boca enquanto levantava o portão da garagem. Foi nesse momento que Daniel disparou um tiro na perna dele. A mulher gritou de medo. A arma não tinha mais balas, mas eles não sabiam disso. Daniel encostou a arma na testa da mulher, mandando que o cara entregasse as chaves.

Apesar da briga, tapas e xingamentos, o cara aparentemente ainda se importava com ela em algum nível porque me entregou as chaves do carro trêmulo e pálido como um fantasma.

Pulei para dentro do carro, girei a chave na ignição. Escancarei a porta do passageiro, já saindo da garagem. Daniel pulou para dentro e bateu a porta.

— Temos que ser bem rápidos, eles vão correr para a polícia. - Daniel avisou como se não fosse óbvio.

Revirei os olhos. — Você vai desejar não ter me dito para ir rápido, docinho. - garanti pisando fundo no acelerador.

***

Paramos oito horas depois. Estávamos numa estrada à beira da cidade, mas ainda no mesmo estado, ainda em fuga desesperada precisando urgentemente de uma arma.

Salário do PecadoOnde histórias criam vida. Descubra agora