Myrtle disse que ficaria na casa mais alguns dias, ela disse que poderíamos ficar também, então Danny e eu nos ajeitamos para deitar na sala e a deixamos continuar a dormir no quarto principal.
A noite na festa clandestina foi uma das melhores experiências que eu tive. Daniel também parecia mais alegre e festivo, o que era uma ótima mudança nele, embora ambos tenhamos acordado com a cabeça doendo devido a ressaca. Eu já estava acostumado, já o Daniel pareceu realmente incomodado com a dor. Me perguntei se ele realmente nunca havia ingerido tanto álcool antes, se sempre foi um bom moço e eu o estava corrompendo. Mas, me lembrei que ele falsificava os próprios documentos e a certidão de casamento muito antes de me conhecer.
Tomamos café da manhã com o que Myrtle comprou. Ela nos lembrou de fazer o mínimo barulho possível, pois os vizinhos poderiam estranhar os barulhos na casa e chamar a polícia.
Daniel se jogou no sofá da sala depois de comer, encarando o telefone com uma mente cheia de ideias.
Myrtle começou a lavar a louça do café da manhã, cantando baixinho enquanto isso.
Fui para a sala e me agachei perto do meu docinho.
— O que foi, papi?
Daniel deu um meio sorriso desviando o olhar, as bochechas assumiram uma tonalidade mais escura.
— Só estou pensando em como a Opal deve estar. - Danny suspirou, olhou para o telefone no gancho mais uma vez. — Ela deve estar furiosa comigo.
Franzi a testa, acariciei os cachos escuros do Daniel.
— Vocês são amigos há bastante tempo...
— Desde sempre eu acho. - Daniel sorriu. — Foi um primo dela que fez meus documentos, a ideia da certidão de casamento falsa foi dela também. Ela era... a pessoa que acreditava que poderíamos chegar longe mesmo... mesmo que eu tecnicamente não pudesse.
Assenti. Era uma situação complicada, ele não podia chamar grande atenção pelo risco de perceberem a falsidade dos documentos, eu sabia. E ainda havia a natureza de seus sentimentos por homens e a ausência de sentimentos por mulheres, que era apenas mais uma coisa para esconder do mundo o máximo que podia.
Devia ser chato estar sempre se contendo tanto pra não ser tudo que era capaz ser. Especialmente alguém como Danny, que claramente tinha muitas ambições de vida. Lembrei como ele falou que gostava de esportes e queria jogar profissionalmente, lembrei das fotos que ele tirava de Opal que pareciam fotos dignas de revistas. Em qualquer outro lugar, com qualquer outro passado, talvez ele pudesse ter chegado mais longe do que eu jamais o levaria.
Me consolei com o pensamento de que, pelo menos no crime, Daniel agora poderia ser tudo que era capaz sem precisar se conter.
— Essa hora ela já deve estar trabalhando. - observei.
— Você acha que sua família ainda a chama para cuidar dos bebês? Era o único dinheiro que sabíamos que podíamos contar.
— Bom, tem um jeito de descobrir... - tirei o telefone do gancho.
Daniel se levantou do sofá num pulo, parecendo que tinha avistado um fantasma enquanto eu discava o número do telefone de casa.
— O que diabos...
Me desviei das suas mãos enquanto o telefone chamava. Mantive o telefone no ouvido e me afastei o máximo que o fio me permitia.
Dois, três, quatro...
— Propriedade dos Miller, com quem eu falo? - a voz do outro lado da linha era suave e séria, profissional até.
— Você fala igualzinho uma secretária. - observei.
VOCÊ ESTÁ LENDO
Salário do Pecado
RomanceEntre a Grande Depressão, a Proibição e leis que criminalizavam a homossexualidade, Daniel Osorio conheceu Elvis Miller, um rapaz charmoso que o fazia se sentir livre mesmo que por poucos momentos. Ele entregou o coração para Elvis e recebeu o coraç...