Elvis

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Assim como tudo nesse país, com Danny as coisas não iam para frente.

A verdade é que os dois estávamos muito assustados para tentar fazer qualquer coisa. Algo totalmente justificável, claro, mas estava começando a ser irritante.

Em minha defesa, não sou acostumado a fazer isso sóbrio. Normalmente, estou bêbado e o outro cara também e tudo que precisamos é beber mais um copo antes de começarmos a nos agarrar num bar subterrâneo.

Danny fumava muito, mas nunca o vi beber, também nunca o vi nos bares secretos.

Ele era bem autoconsciente. Eu me tornava autoconsciente ao seu lado também, o que era um tanto frustrante porque não queria ter ciência de tudo à minha volta, na minha pele, cada movimento, ato e ação. Eu só queria beijar sua boca e seguir em frente.

Mas, a cada dia, mais eu queria beijá-lo e menos eu quero seguir em frente. Ele era o fruto proibido, isso o tornava mais interessante.

Continuei saindo para beber sempre que podia, para escapar dos dias da fazenda. Não era uma vida muito alegre, mas era um alívio ficar longe do trabalho pesado, da fome.

Alívio e felicidade eram coisas tão parecidas quando se vive numa era de Depressão que mal se vê a diferença.

Meu pai foi demitido do posto de gasolina, o dono não tinha mais dinheiro para pagar o salário dele. Acho que o chefe dele ficou miserável em ter de fazer isso, porque pedia desculpas com lágrimas nos olhos sempre que via um de nós nas ruas da cidade. Mas, nada se compara a como meu pai ficou. Ele simplesmente sentou no chão e chorou.

Agora eu só o via sentado ali, fumando seu charuto, olhando para o nada. Minha mãe falava que ele precisava ser homem e encontrar um emprego… ele tentava, mas não havia trabalho sobrando.

Meu irmão foi pego roubando pão. O mantiveram sob custódia por 72 horas. Ele tinha sido solto a menos de quinze minutos quando foi preso de novo: uma lanchonete foi roubada do outro lado da cidade e levaram ele como suspeito. Não tinha como ter sido ele, mas isso não importava. Joe ficou mais 72 horas preso.

Joe e Louis não entendem, mas para roubar numa cidade pequena, é preciso ter cuidado. A maioria dos meus roubos a mão armada, eu dirigia para outra cidade. Era mais fácil escapar da polícia quando se está sempre em lugares diferentes. Roube um carro, roube dinheiro de uma loja, abandone o carro, volte pra casa. Não seja visto enquanto faz tudo isso.

Já furto era fácil em Glendale. Não exigia muito e poderia pegar a carteira de alguém, tirar o dinheiro de dentro e devolver a carteira pro dono sem que notassem. No entanto, havia épocas melhores que outras para fazer isso.

Haviam épocas que realmente encontraria algum dinheiro na carteira e épocas que estaria fazendo isso pra conseguir menos de um dólar. Essa era a época de menos de um dólar. Era um bom hábito para se ter mesmo rendendo pouco, não era uma habilidade que poderia me dar o luxo de perder.

Continuei pagando Opal pelos cuidados de Herman e Mary. Se meus pais ou meus tios tinham alguma pergunta sobre de onde o dinheiro vinha, eram sábios suficiente para não perguntarem.

Danny no entanto, era apesar de muito lindo, muito burro.

— Como você consegue esse dinheiro todo? - ele perguntou casualmente em um dos nossos dias no deserto.

Ele estava no banco do motorista, tentando dirigir em linha reta por mais de dois metros. Nunca vi ninguém tão mal em dirigir.

— Eu trabalho por isso. - respondi.

Danny deu risada. — Ninguém consegue tanto dinheiro trabalhando.

Me vi obrigado a concordar.

Daniel não perguntou mais nada, eu aproveitei o silêncio. Era melhor isso do que explicar todas minhas atividades fora da lei. Se isso significava que ele suspeitava dessas atividades ou não, não tinha certeza. Presumi que ele teria ao menos um chute a essa altura.

Salário do PecadoOnde histórias criam vida. Descubra agora