— O que diabos aconteceu com você?
Abri os olhos ao ouvir o grito de Daniel. Era raro ele vir me visitar, ele não queria correr o risco da minha pena subir se descobrissem nossa sodomia. Mas eu adorava quando ele visitava.
Era difícil manter meu olho esquerdo aberto, já que o roxo o tinha deixado um tanto inchado e meu corpo doía pelas horas de trabalho forçado sob o sol.
Devia estar mesmo uma merda, mas Daniel já tinha se acostumado a me ver assim. Era o sangue nas minhas roupas que o preocupavam. Se ele soubesse disso a metade...
— Tá tudo bem. - murmurei com dificuldade, ainda sentindo a dor da última visita de meu encarregado.
Odiava quando ele entrava aqui, odiava quando me arrastava pra sua cela, ou quando vinha atrás de mim nos banheiros ou quase me pisoteada com o cavalo quando achava que eu não estava trabalhando rápido suficiente. Ele ria ainda mais quando eu dizia aos guardas que tinham que mantê-lo longe de mim. Os guardas também riam, é claro.
Malditos filhos das puta.
— Tá tudo bem. - repeti tentando me convencer. — Minha mãe... ela tá fazendo um pedido... não sei. Pra me moverem pra outra ala.
Danny estava com os olhos arregalados de preocupação. Por um instante pareceu que passaria a mão por entre as grades da cela para segurar minha mão, mas não o fez. Haviam outras pessoas... outros visitantes e outros presos. Eles poderiam fazer fofoca para os guardas. Isso tornaria tudo pior.
Perguntei a Danny como minha família estava. Minha irmã, meu pai, minha mãe... Ele respondia vagamente, focado demais em como eu me mexia, tentando entender.
— Eles não podem fazer isso com você. - murmurou.
Voltei a fechar os olhos.
— Quem tá fazendo isso? Quem é? Me fala.
Mordi a língua para não responder. Nomes não importavam. Era a sensação que não passava que importava, a que não podia pôr em palavras.
Daniel bateu na grade da cela, frustrado por eu não responder. Me encolhi.
— Sabia que pegaram o Praga de novo? - perguntei baixinho.
Danny franziu a testa.
— Sim, sua mãe comentou... Ele morreu tentando fugir de novo, não é?
Ergui o olhar pro Danny e dei de ombros. — É o que dizem.
Na verdade, ele tinha sido jogado em outra cela assim que chegou. Uma área fechada. Diziam que os guardas tinham batido nele até ele morrer. É o que eles fazem quando você foge e é pego de novo, ganham alguns dólares por impedir a gente de fugir.
É a penitência por pensar que poderia escapar do inferno depois de ser condenado. Lúcifer ele mesmo devia enviar seus demônios para ajudar os policiais a encontrarem o nosso rastro e nos arrastarem de volta.
Se o inferno existia, ele era uma prisão exatamente como essa.
No fim do horário de visitas, o encarregado veio. Danny não se moveu. Suspirei.
— Você tem que ir.
Danny me olhou furioso e se virou pro guarda quando foi ordenado a sair novamente. — O que vocês tão fazendo com ele? Vocês não podem seriamente deixar esse tipo de coisa acontecer!
O cara estalou a língua. A voz de Daniel era furiosa, o sotaque latino muito mais óbvio nas palavras. Nos Rs.
Não ouvi a resposta. Mas ouvi Daniel começar a xingar em espanhol e ser ameaçado. Abri os olhos, olhei em pânico para ele.
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Salário do Pecado
RomanceEntre a Grande Depressão, a Proibição e leis que criminalizavam a homossexualidade, Daniel Osorio conheceu Elvis Miller, um rapaz charmoso que o fazia se sentir livre mesmo que por poucos momentos. Ele entregou o coração para Elvis e recebeu o coraç...