Fuga - por Sam Miller

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Desculpem o atraso do capítulo. Estava tentando encontrar espaço para adicionar um diálogo explicando como Danny planejou a fuga, mas não encaixava em lugar nenhum do capítulo. Decidi que o Sam era o melhor para explicar um pouco disso. 

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"As pessoas perguntam muito sobre isso. Como aconteceu, o que aconteceu, porque... Acho que sou o melhor para responder isso.

Danny ia com minha família para visitar o Elvis todo o mês. Ele o viu machucado, mancando, sangrando e foi enlouquecendo com isso. Cada vez que saíamos daquelas paredes, ele estava mais pertubado, os olhos mais arregalados. Ele começou a chamar os policiais de 'tiras', começou a olhar em volta sempre que íamos... Ele olhava para tudo. Nós não conversávamos muito com ele quando ele ia conosco, mas começamos a conversar menos ainda. Danny foi criando essa raiva, muita raiva.

Opal comentava que estava preocupada com ele enquanto eu a acompanhava para casa depois de ela cuidar da minha irmã, Mary. Ela se preocupava como louca. Ela quase ficou louca por causa dele. Mas, Daniel era o melhor amigo do Elvis e, sendo amigo da Opal, eu descobri que os dois eram muito protetores com amigos e família. Não havia nada que eles não fariam por alguém que se importavam, alguém que amavam, eles eram intensos assim. Iriam até os maiores extremos por compaixão, amor e amizade ou enloqueceriam tentando. Então quando Daniel viu como Elvis estava lá, algo dentro dele quebrou, sabe? Ele quebrou.

Bem, uma noite eu levei Opal para a casa dela e Danny pediu para falar comigo. Eu fiquei confuso, não sabia o que ele poderia querer comigo e ele meio que me assutava. Eu nunca havia interagido com latinos antes de conhecer ele e Opal e por mais que Opal fosse divertida, Danny me assustava. De toda forma, ele foi direto ao ponto:

'Os guardas estão acabando com a raça do seu primo. Eu quero tirar ele de lá.' Eu pensei que ele queria ajudar com os advogados, comecei a dizer que minha tia saberia ajudar melhor do que eu. Daniel apenas riu e balançou a cabeça. 'Pra que? Para continuarem atrás dele e o levarem de volta na primeira oportunidade? Justiça aqui é uma perda de tempo e você sabe. Quantas vezes já te levaram para interrogatório essa semana? Não. Eu vou tirá-lo de lá eu mesmo e vamos dar o fora.'

Daniel disse que sabia que Elvis havia me dado uma arma. Disse que Opal havia visto e comentado com ele e que precisava. No começo, tentei colocar sentido na cabeça dele, falei que isso só ferraria os dois, que Elvis era bem grandinho e que não precisava de um mexicano para limpar as merdas dele. Danny não me ouviu, ele insistiu. Comecei a apontar tudo que podia dar errado, os cachorros, os guardas, os muros, os tiros, que ele não tinha como fugir, e tudo isso. Mas Danny falou que tinha um plano. Eu duvidei, o desafiei a me contar. Tudo o que ele disse era que quanto menos eu soubesse melhor.

(...)

Bom, ele foi tão insistente que eu concordei. Preciso dizer, só concordei porque achei que ele iria me deixar em paz, que ele não iria realmente esperar que lhe desse uma arma. Ele me deixou ir pra casa e pensei que isso era o fim disso. Mas, todas as vezes que nos víamos depois, mesmo que fosse de passagem na cidade, ele pedia pela arma. Após algumas semanas, eu entreguei, mas torci para que ele percebesse que era uma má ideia. Não achei realmente que ele iria até o fim.

Elvis falava que sonhava com isso quando dormia, que via aquela prisão e que sonhava com ela e com todos os caminhos para sair e todas as falhas no plano que ele tinha que consertar, mas com todos os pontos fracos daquele lugar. Ele disse que ninguém saberia que eu que havia dado a arma a ele e que eu não precisava me preocupar.

Então, ele comprou o carro do Elvis da minha tia e parou de ir visitar meu primo. Achei que tinha deixado para lá, mas Opal continuou preocupada. Ela disse que ele estava indo ao deserto para dirigir, que não estava mais trabalhando e mal comia, disse que ele ia até a cadeia onde Elvis estava mas não entrava: ficava do lado de fora ou dirigia em volta do lugar algumas vezes. Ela estava desesperada, mas nenhum de nós pensou que Daniel realmente seria tolo o suficiente para fazer o que fez.

(...)

Um dia, Danny foi lá em casa e me pediu para enviar um presente para o Elvis, um pequeno rádio para distraí-lo. Disse que estava sem tempo para ir. Bem, concordei e levei o rádio na próxima vez que fomos visitar meu primo na cadeia. Algumas pessoas dizem que Elvis sabia o que Daniel estava planejando, mas eu não acho, ele não gostou de ganhar o rádio. Penso que ele teria ficado feliz se soubesse que aquele rádio era um sinal de liberdade.

Após alguns meses, estávamos todo em casa. Iríamos visitar o Elvis para dar uma boa notícia: minha mãe havia conseguido alguns avanços no pedido por liberdade condicional dele e ele deveria conseguir sair em mais alguns meses. Além disso, Albert havia conseguido um emprego para ele numa cidade vizinha, um lugar onde a polícia não o conhecia. Elvis poderia começar de novo.

Mas quando chegamos lá, os policiais disseram que o Elvis havia fugido no dia anterior. Contou que ele e Daniel haviam ido por um ponto fraco no muro, onde haviam buracos e rachaduras onde poderiam escalar se não conseguissem pular. Contou como Danny havia matado um encarregado e atirado em um dos guardas, como ele tinha usado o rádio para abafar o barulho dos tiros, como graças ao Danny, outros nove presos haviam conseguido fugir. Eles capturaram dois no mesmo dia, outros três foram pegos nas redondezas e um havia morrido enquanto fugia.

Voltamos para casa em choque sem sabermos o que fazer. Albert estacionou o carro no caminho de casa e ficou encarando o nada por uma hora, não tivemos coragem de dizer nada, nem de pedir para assumir o volante. Uma viatura parou para perguntar se precisávamos de ajuda e Albert conseguiu negar e voltar a dirigir. Minha tia só chorava e soluçava, perguntando porque Elvis tinha feito isso.

Chegamos em casa, Opal estava lá cuidando da Mary e do Herman. Nós contams a ela o que tinha acontecido... Ela parou um instante, colocou Mary no chão, acendeu um cigarro e se sentou na porta olhando para o nada. Eu fui me sentar com ela porque fiquei preocupado. Tinhamos ficado próximos quando comecei a levá-la para casa depois do Elvis ser preso, e Mary e Herman gostavam dela.

Toquei no ombro dela e ela começou a gritar e chorar desesperada, ela tremia, totalmente histérica, falava sobre como Danny iria para a cadeira elétrica, soluçava, puxava os cabelos e falava que ele ia morrer, que ele ia morrer, que ele ia morrer... Demorei horas para acalmá-la de novo. Ela dormiu na nossa casa naquela noite e nos próximos dias, procuramos por notícias nos jornais, mantivemos os rádios ligados, estavamos em desespero por qualquer novidade, qualquer informação...

Ficaríamos nesse estado por muito tempo."

- Sam Miller em "Miller e Osorio: a história de dois dos principais criminosos dos EUA escrita por seus irmãos."

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Bonnie e Clyde tiveram mãe, irmã e prima para escrever a história deles em "Fugitives" (embora muito desse livro tenha sido editado por uma jornalista chamada Fortune que confundiu e mesclou certos acontecimentos e nem a família Barrow e nem a família Parker tenham qualquer admiração por esse livro, ele ainda é uma fonte confiável para saber dos dois mais de perto), Elvis e Danny tiveram todos os irmãos e primos do Elvis.

Opal não participou da escrita do livro, e Sam e Albert e todos os outros acabam fazendo Danny parecer como um gênio do crime que levou o Elvis para um caminho pior do que ele já estava. Há também uma intenção de lucro por parte deles na publicação desse livro, já que eles acreditavam que assim como todos estavam interessados em tudo sobre Clyde e Bonnie, todos se interessariam por tudo sobre Dan e Elvis.

Enfim, foi um extra mais para explicar melhor (de forma não confiável já que Sam nunca foi próximo de Danny) como o Daniel chegou a decisão de ajudar o Elvis a fugir. Espero que tenham gostado.

Salário do PecadoOnde histórias criam vida. Descubra agora