Elvis

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Minha família sempre foi muito religiosa por algum motivo. Acho que pela questão de meus pais terem crescido em fazenda.

Se você trabalha em uma fazenda no meio do deserto, você precisa rezar pela chuva. Mas, não sei como eles continuavam acreditando quando a chuva não vinha.

A religião nunca conversou muito comigo, embora soubesse mais sobre do que gostaria. Os últimos serão os primeiros parecia falsidade quando se via tanta gente pobre morrendo pelas ruas, perdendo empregos, se mudando e levando apenas o que conseguiam carregar no carro.

Mas, havia uma coisa boa na igreja: era incrivelmente fácil bater carteira.

Roubar dinheiro destinados a santos pode ser condenável, mas se aquelas pessoas estão dispostas a pagar figuras de gesso, então estão dispostas a pagar o jantar da minha família.

O emprego na lanchonete estava durando, mas sabia que era só uma questão de tempo. Depois da quinta vez que os policiais apareceram para mim, podia ver a nova forma como o dono me olhava.

Danny repetia que daríamos um jeito. Eu queria mandá-lo a merda nesses momentos. Não daríamos, não havia jeito. As coisas estavam só piorando.

Os crimes aumentavam junto da fome. Rezar não resolveria isso. Ninguém manteria alguém que tinha a polícia na cola. Eu não tinha motivo para resistir à facilidade do roubo. Não tinha sentido seguir a lei se ela me mataria de fome.

Danny poderia dizer o que quisesse, não era mais arriscado do que nossos dias no deserto.

Mantive a arma escondida em casa, no entanto. Contei ao Daniel onde estava quando ele perguntou, não tinha voltado para esse tipo de roubo ainda. Me manteria nos roubos de carteira e de relógios enquanto pudesse, afinal eram mais discretos. Tentei encontrar outros empregos, mesmo temporários enquanto isso, porque apesar de tudo, não gostaria de acabar levando a polícia direto para Danny.

Fiz alguns trabalhos longe também, roubando estações de trem em Dallas e outras cidades do Texas. Quando Danny perguntava, eu dizia que tinha ido verificar uma possibilidade de emprego, nunca entendia como ele acreditava, mas aquele homem era inocente demais para pensar que eu mentia.

Era fascinante e incrível como a inocência poderia ser um pecado para os pobres.

O número de imigrantes sendo deportados estava aumentando, o governo até os deixava escolher se preferiam ser deportados ou repartriarcados.

Muitas pessoas estavam vendendo seus carros e comecei a perceber que logo teria que vender o meu. Tentei pensar num preço razoável, mas qualquer preço parecia alto quando todos estavam sem empregos.

Cogitamos mandar Mary para casa do meu irmão, mas Albert também perdeu o emprego. Ele não sabia nem se poderia continuar cuidando de Arthur, mas prometeu que faria o  possível.

Eu esperava que ele conseguisse. Arthur era fofo, mas era mais uma boca para alimentar.

***

Observei Danny tentar puxar Opal para dançar. Por mais que eles estivessem desesperados atrás de qualquer tipo de emprego, eles ainda tinham olhos brilhantes. Era uma esperança que eu desconhecia, mas para ser justo, era aniversário do Danny.

Eles não chamaram ninguém. Não tinham condições para uma comemoração apropriada a essa altura, maslevei algumas garrafas de Moonshine mesmo assim.

Opal cruzou os braços porque ela não se sentia confortável com o fato de ter alguém na casa dela que andava no mesmo círculo que traficantes de álcool, mas Danny sorriu e agradeceu. Isso era tudo que importava.

Salário do PecadoOnde histórias criam vida. Descubra agora