Elvis

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Os faróis do outro carro piscaram quatro vezes depois do nosso carro piscar seis. Danny se preparou para descer do carro. Eu não estava tão convencido.

Segurei o braço dele, observei com cuidado. Danny me olhou com as sobrancelhas arqueadas.

— Um instante, docinho.

Uma mulher desceu do carro do outro lado da campina. Dava pra dizer que era uma mulher porque era uma figura pequena, com um vestido comprido. Danny tentou descer do carro, mas o segurei novamente.

Fazia dois meses que não visitávamos Opal e meus pais. Estávamos quentes demais para arriscarmos. Tínhamos matado três policiais nesse período de meses, incluindo um delegado.

Desde nossa fuga da prisão, tínhamos matado um total de sete pessoas até agora. O jornal contabilizava oito por causa do dono do posto de gasolina, mas tinha sido Oscar que tinha matado aquele cara, não eu. Avisei minha mãe disso, não queria que ela pensasse que eu estava matando trabalhadores.

Dos sete que realmente tínhamos matado, apenas um estava nas mãos de Danny. Ele não matava. Nem quando a polícia nos achava e tínhamos que abrir caminhos aos tiros. Ele atirava para abrir caminho, mas sempre mirava levemente acima da cabeça dos tiras. Era eu quem mirava no meio da testa daqueles porcos.

Do outro lado da campina, a mulher deu a volta em seu carro e abriu a porta. Outra mulher desceu, com o braço próximo ao peito.

Xinguei.

— Vamos dar o fora. - avisei, já ligando o carro.

— O que? Não!

— Ela trouxe alguém, Danny! Isso não estava combinado! Vai saber quem mais tá por aqui hoje? Ela pode tá pra entregar a gente!

— Opal não faria isso!

— Você sabe quanto a gente tá valendo?

— Ela não vai entregar a gente! - Danny gritou.

— Então quem é aquela?

Meus olhos estavam fixos no outro lado da campina. As mulheres não se aproximaram, esperando. Parecia muito com uma armadilha, uma emboscada. Eu não podia arriscar. Não podia voltar pra prisão assim... Meu coração acelerou só com o pensamento de voltar lá, do sol quente e da água racionada, dos encarregados nos colocando para brigar nos corredores a noite e nos pegando por trás nos banheiros.

— Eu não sei quem é! Mas vai ficar tudo bem, vem!

— Docinho...

Danny suspirou e apertou meu braço. — Bebê, confia em mim. Vamos lá.

— Danny... - isso o fez piscar. Eu nunca o chamava pelo nome.

— Vamos levar alguma arma, tá bom? Eu vou levar o revólver e você pode levar o seu também. - ele sugeriu, escondendo a arma citada na cintura.

O olhei nos olhos um longo momento, então fui enfático. — Eu não vou voltar para a prisão.

— Eu nunca deixaria isso acontecer.

Pelo menos nisso eu sabia que poderia acreditar.

No banco de trás peguei minha BAR. Danny franziu a testa, claramente achando um exagero, mas não questionou.

Descemos do carro e fomos até onde as duas estavam.

Realmente uma delas era a Opal, a segunda a descer do carro. Ela estava com o braço quebrado aninhado ao peito, com gesso e tudo.

A ignorei. Meus olhos focados na outra mulher. Ela era loira, usava uma blusa rosa com uma calça de cavalgar e botas de cavalaria. Os braços dela estavam cruzados e ela parecia tão focada em mim quanto eu nela.

Salário do PecadoOnde histórias criam vida. Descubra agora