Trecho da autobiografia de Richard Hilt

15 3 11
                                    

Naquela manhã, eu cheguei cedo a delegacia. Eu ainda lidava principalmente com a papelada, estava bem com isso. Todos falavam  sobre as notícias do jornal: uma tentativa frustrada de roubo a banco, com os suspeitos sendo a Gangue Osorio.

Com o passar dos anos, todos começaram a perguntar porque eles ficaram conhecidos como a Gangue Osorio, especialmente porque por muito tempo não tínhamos 100% de certeza de que Daniel Osorio era o líder da equipe, já que ele nunca havia sido preso e não tínhamos suas digitais no banco de dados da polícia. Apenas quando DC Roy foi preso e confirmou para nós é que tivemos essa certeza, mas Daniel e Elvis já marcavam as machetes como "Gangue Osorio" muito antes da prisão de Roy. Quando perguntam o porque, respondo que é porque Daniel era mexicano e era mais fácil odiar os negros e mexicanos. Além disso, Daniel é quem planejou e liderou a fuga de Elvis da cadeia. Nos que nos concernia, ele claramente era o líder.

Muito bem, nesse dia, havia sido noticiada uma tentativa frustrada de roubo e especulações de que teriam sido Elvis e Danny rondavam a delegacia. Os prefeitos estavam em nossos pescoços, a mídia estava para soltar os cachorros no delegado McCown,  porque haviam fortes insinuações de que os dois estavam indo e vindo para Glendale com frequência, sem nunca serem pegos: a família de Elvis, que sempre foi extremamente pobre, continuava extremamente pobre, mas os irmãos mais novos tinham brinquedos novos, a esposa de Daniel foi vista com um vestido caro e elegante que ela não teria dinheiro para comprar, pessoas fora da cidade faziam ligações alegando terem vislumbrado os dois em algum carro, nunca o mesmo carro.

McCown me pressionava para me juntar ao caso, porque eu conhecia Daniel e poderia identifica-lo mais facilmente, além de que, eu tinha amizade com o irmão mais velho de Elvis, Albert e poderia juntar mais informações.

Eu estava me desviando desses pedidos por enquanto: minha esposa estava grávida, eu havia prometido evitar ao máximo levar um tiro. E Osorio e Miller já haviam disparado muitos tiros contra políciais que tentaram pará-los.

Naquela tarde, respondi a um chamado casual: pessoas haviam jogado pedras contra as janelas e vitrines de um salão de beleza. Isso estava acontecendo muito com aquele salão específico e eu sabia que a dona logo pararia de ligar a respeito.

O Afrodite's Hairstyle estava tendo esse problema desde que sua nova contratada iniciou a trabalhar lá: Margaret Blanchard Jones havia contratado a esposa de Daniel, Opal. As pessoas não estavam acostumadas a se misturar com clientes mexicanas ou deixar uma pintar suas unhas. Além disso, aqueles com raiva dos Osorio e dos Miller tendiam a ficar agressivos e jogar pedras ou tijolos ao passar pelo salão.

Mesmo assim, o salão estava cheio quando cheguei.

Margaret era uma mulher gentil e adorável, acostumada ao trabalho duro. Era filha de pastor, mas se entregou as maquilagens e permanentes para abrir um salão. Ela não era casada, nunca foi. Homens flertavam com ela com frequência onde quer que ela fosse e as vezes ela teve encontros com alguns, mas nenhum a prendia. Desde que ela contratou a Opal no entanto, olheiras surgiram sobre seus olhos, seu sorriso ficou mais seco e os ombros mais tensos.

Eu perguntei a ela se alguém havia se machucado, ela disse que não. Eu expliquei que não poderíamos continuar fazendo isso, que as pessoas tinham seus próprios motivos para ficarem bravas, mas que sem provas de quem tinha feito isso não podiamos continuar atendendo. Margaret pareceu furiosa.

"As pessoas podem ficar bravas se quiserem, mas se elas tem um problema com quem eu pago para trabalhar aqui que venham falar comigo, não fiquem jogando coisas pelo vidro como bárbaros obnóxios!"

Notei que Opal nos observava pelo canto dos olhos enquanto fazia as unhas de uma das clientes dela. Ela também tinha olhos cansados, mas o olhar dela era pior, era um olhar vermelho de quem vivia chorando pelos cantos. Eu podia perceber que Margaret a contratou por pena e receio do que ela faria se não tivesse algo com que se ocupar, algo que a desse estabilidade para se afastar do marido criminoso e se manter sozinha.

Eram apenas duas mulheres sozinhas tentando se manter vivas numa época em que ninguém se atreveria a olhar para elas. Minha mãe foi mãe solteira, eu entendia como podia ser difícil viver assim, mas minha mãe ao menos tinha os filhos para a ajudarem, aquelas duas estavam totalmente sozinhas.

Fui até minha viatura, peguei uma das armas de porte que tinha guardado ali e algumas balas. Voltei para dentro do salão de beleza e entreguei a arma para Margaret.

"Muito bem." supirei. "A próxima vez que vir alguém jogar algo, atire. Depois nos ligue. Eu resolvo tudo para você."

Margaret olhou hesitante para arma antes de concordar e a tirar da minha mão. "Obrigada, Rich."

Assenti. Lavei minhas mãos sobre isso.

Quando voltei a delegacia, avisei meus superiores que gostaria de começar a trabalhar na investigação para prender a Gangue Osorio. Eles ficaram muito felizes.


Richard Hilt foi um dos polícias presentes na emboscada que levou a morte de Daniel Osorio e Elvis Miller. Alguns alegam que ele seria quem deu o primeiro tiro, obviamente não é possível comprovar isso já que haviam oito políciais no local e vários alegaram dar o primeiro tiro. Richard Hilt se comprometeu a ajudar Opal com as despesas que ela pudesse ter enquanto estivesse vivo, se considerando parcialmente culpado pela vida financeira difícil que ela tinha: afinal, ele matou o homem que deveria prover para ela. Richard Hilt morreu duas décadas antes de Opal. Eles mantiveram uma grande amizade até o fim da vida. Após a morte de Hilt, o filho dele publicou a autobiografia que o pai escreveu ainda em vida sobre o caso Osorio. - "As mortes da Gangue Osorio", por S.L (pág 170 a 172)

Salário do PecadoOnde histórias criam vida. Descubra agora