Elvis

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Myrtle era uma estrela incandescente e ardente no meio da noite. Os cabelos loiros brilhavam como neve sob a luz da lua na clareira, a pele clara parecia de prata translúcida. Os olhos eram de um azul brilhante de topázio sky, quase cristalino.

A forma como o cabelo dela estava arrumado escondia, mas se olhasse com atenção, dava para notar a cicatriz na orelha direita causada pelo tiro que ela havia mencionado.

— São de verdade? - perguntei apontando para seus anéis de diamantes e brilhantes.

— São.

Ela não parecia ser de muitas palavras, pensei para mim mesmo.

Olhei na direção do nosso carro, onde meu docinho estava dormindo no banco de trás do carro. Ele não quis comer, então dividi com Myrtle os sanduíches que tínhamos.

— Como você entrou nessa? - perguntei, curioso. — De onde você é?

— Arkansas. - Myrtle respondeu e se aproximou mais do fogo, aparentando frio.

Tirei meu paletó e entreguei para ela. Myrtle me olhou com curiosidade, uma das sobrancelhas se arqueando enquanto pegava a peça da minha mão e vestia por cima do vestido.

Myrtle aqueceu os dedos próximo do fogo, fechou os olhos e riu baixinho antes de me lançar um segundo olhar. Meu rosto esquentou por como ela olhou para meus braços.

— Meu namorado, Jack... roubava carros. - ela comentou olhando para as chamas da fogueira, os próprios olhos se assemelhando a brasa. — Eu não sabia no começo. Ele tinha um carro muito bonito quando o conheci. Um Caddilac lindo, V-16 Madame X Sedan Cabriolet que ele pintou de azul para realçar meus olhos.

Dei risada. Soava fofo. Os olhos dela eram lindos. O namorado dela tinha um ótimo gosto para carros aquele modelo não fazia barulho, a hidráulica era tudo. Um prazer de dirigir.

— Quando ele me contou que era roubado... bom, já era tarde para ter bom senso. - Myrtle deu risada, balançou a cabeça. — Ele me ensinou a roubar carros... Uma mulher bonita chamava atenção dos homens, montamos nossos esquemas... Roubamos no Arkansas e no Louisiana... O melhor verão da minha vida.

— Foi só um verão? - perguntei surpreso.

Myrtle riu e me olhou com desdém, pena até. — A rotatividade nesse ramo é... grande.

Encostei o queixo num dos joelhos, a ouvi com mais atenção. Myrtle sorriu, mordeu mais um pedaço de sanduíche antes de continuar:

— Estávamos fugindo para o México quando paramos para descansar... foi quando a polícia nos alcançou. Jack abriu os tiros, a polícia revidou... estávamos em desvantagem. Atiraram até ele cair morto e continuaram a atirar. Disseram que só iriam parar quando ele colocasse as mãos para o alto.

Myrtle comprimiu os lábios, a voz soou um pouco instável. Ela fez silêncio mais alguns segundos, respirando fundo e brincou com os anéis de diamantes distraidamente.

Ela continuou em silêncio mais alguns momentos, quase para cair ao choro. Tinha certeza que a memória era mais dolorosa do que ela gostaria de admitir.

— Enfim, enquanto eu levantava os braços dele e gritava para pararem... acertaram na minha orelha. - Myrtle piscou e balançou a cabeça, afastou a lágrima do rosto, o rosto amargo. — De todo jeito, sobrevivi. Inventei para a polícia que eu não ajudava ele nos crimes, que tínhamos nos casado e que eu o seguia porque devia ser uma boa esposa. Não fui muito convincente. Me condenaram a dez anos, mas fiquei apenas dois presa. Me liberaram por bom comportamento.

Isso combinava com que eu sabia da prisão, o que foi surpresa. Imaginei que as prisões femininas não estariam tão sobrecarregadas, sabia que as masculinas estavam liberando os presos ao menor sinal de que iriam se endireitar.

Salário do PecadoOnde histórias criam vida. Descubra agora