Danny

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⬆️⬆️ Músiquinha que inspirou o capítulo ⬆️⬆️

Normalmente eu não coloco música nos caps, mas essa e "I Saw stars" é muito bonitinha.

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Assim que nos afastamos mais do estado, meus ombros começaram a relaxar embora minha mente começasse a trabalhar. A música do rádio nunca sairia da minha cabeça, nem a visão do corpo estirado.

Em algumas horas, Opal chegaria em casa, encontraria um buquê de flores na porta, com um bilhete escrito "desculpe", amanhã ela ouviria os pais do Elvis contando sobre a fuga, ou leria a respeito nos jornais desta semana... Ou talvez ela ouvisse no rádio ainda esta noite. Ela era uma mulher inteligente, não demoraria a entender tudo. Minhas mãos suavam só de pensar em como ela se viraria sozinha. Mordi a língua para me impedir de mandar o Elvis dar a volta para eu poder voltar para casa.

Minha decisão já estava tomada, me forcei a lembrar. Eu havia planejado aquilo, havia me preparado e feito, era tarde demais para voltar atrás. Opal com certeza sofreria e enfrentaria dificuldades, mas ela sofreria menos do que Elvis esteve sofrendo naquela prisão e menos do que eu sofreria se tivesse que deixá-lo. Com certeza as dificuldades que ela passaria seriam menores do que as que passaríamos. Ela era forte, pensei, iria sobreviver. Era melhor me preocupar comigo mesmo e com o homem ao meu lado.

Encostamos o carro à beira da estrada e andamos muito até encontrar um rio onde poderíamos tomar banho. Eu tinha levado uma muda de roupas para Elvis não ter que andar por aí com o uniforme listrado de prisão. O uniforme listrado era para aqueles que já tinham tentado fugir antes, o branco era para aqueles que nunca tinham tentado.

Ele franziu a testa quando me viu me trocar também.

— O que? - perguntei, abotoando a camisa.

— Seda?

— Sim. Qual o problema?

— Você parece um contrabandista de álcool. - observou, colocou os sapatos.

Bufei.

Ajudei Elvis a fazer a barba usando uma faca afiada que eu tinha trazido.

Voltamos para o carro e Elvis dirigiu na velocidade máxima por mais algumas horas. Observei seu rosto enquanto ele dirigia. Os olhos escuros, as olheiras... Não havia nenhum sinal de brilho ali. Seus ombros ainda estavam tensos, como se não acreditasse que estava realmente livre, como se estivesse apenas sonhando

***

Nos hospedamos numa pousada à noite, pagamos por dois quartos, mas escapuli para o quarto de Elvis assim que pareceu que não haveria ninguém olhando.

Cobri as janelas com jornal e me sentei na beira da cama, esperando enquanto Elvis tomava outro banho. Ele merecia a experiência de um banho decente depois de um dia tão insano quanto hoje.

Meu coração disparou e contrai as mãos, as lembranças da fuga da cadeia vindo de rompante a minha mente. Os gritos dos presos. O grito do guarda em que eu atirei. O sangue no chão da cela...

Eu não me arrependeria de nada disso! Meu único arrependimento era que Opal teria que trabalhar tanto sozinha para se manter sem minha ajuda. Era ter tido que deixá-la em desamparo por não conseguir suportar o que sabia que estava acontecendo com Elvis na cadeia enquanto trabalhávamos até sangrar.

As pessoas não se importavam muito com isso. Os presos pelo menos tinham comida todos os dias. Nós muitas vezes não. Quem se importa se eles apanham um pouco?

Mas eu não podia tolerar tudo que os tiras e porcos estavam permitindo acontecer com o meu amor. Meu coração doía só de pensar em tudo que ele suportou lá dentro enquanto os pais e primos dele e Opal me diziam que eu deveria deixá-lo para trás. Meu bebê. Balancei a cabeça, olhei para o chão. Jamais aconteceria de novo, pensei, eu mancharia minhas mãos com sangue e pólvora todas as vezes, atiraria em todos que tentassem fazê-lo passar por algo assim novamente.

Salário do PecadoOnde histórias criam vida. Descubra agora