Elvis

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Infelizmente, não sou um homem de um crime só. Eu preciso de um carro novo, dessa década se possível. E meu álcool não vai se pagar sozinho.

Ah, para ajudar os gêmeos ficaram doentes demais para trabalhar, dois salários a menos era algo muito difícil de lidar, acho. De toda forma, eu tinha que trocar os pneus do meu carro, o que custava dinheiro também.

Disse a meus pais que trabalharia em mais lugares para cobrir isso, que daria um jeito. Pedi aos meus primos que descansassem e se recuperassem bem.

Naturalmente trabalhar em mais lugares significava roubar outros lugares.

Meu fornecedor revirava os olhos todas as vezes que me trazia bebida pessoalmente por eu não ter tido tempo de ir aos bares subterrâneos pegar uma eu mesmo.

— Você está deixando um rastro, Miller. - avisava.

Não podia me dar ao luxo de diminuir o ritmo, no entanto. Fazia metade do dia na fazenda do senhor Smith, então procurava lojas que sabia estarem mais movimentadas. Não eram tantas, então precisei voltar a bater carteira, o que não era tão difícil embora eu achasse mais arriscado e menos efetivo.

Cogitei vender o carro, mas então não teria como levar a Opal para casa. Comecei a pagar a ela apenas o combinado, mas expliquei que isso seria até a situação normalizar um pouco. Ela não parecia incomodada, honestamente ela não podia estar incomodada. Com a taxa de desemprego acima de 20%, ela tinha que agradecer de joelhos.

Poucas coisas incomodavam Opal pelo que podia dizer a essa altura. Ela não se incomodava quando Danny me puxava para seu colo na frente dela. Ela não se incomodava em me deixar dormir no sofá. Ou que eu sempre conferisse se Mary estava bem antes de pagá-la.

Opal era uma mulher muito imperturbável, o que era estranho porque era claro que ela e Danny eram afetuosos um com o outro. Frequentemente eles corriam atrás um do outro na cozinha, ele jogando água nela e ela rindo e o xingando em espanhol. Ou então Danny a agarraria pela cintura e a faria cócegas, ela gritaria se contorcendo para fugir dele enquanto gargalhava.

De todo modo, já que ela não parecia incomodada com nossa já óbvia intimidade, eu não pensava muito nisso.

Abri os olhos quando ouvi Danny e Opal descerem as escadas. Ela cantarolava enquanto segurava a mão dele.

Enquanto Opal foi para a cozinha preparar o café da manhã, Danny se agachou na minha frente.

— Oi, bebê. Dormiu bem?

Dei risada. Nunca entenderia como esses apelidos surgiram entre nós, mas era parte do que fazia ser melhor passar os dias com ele no deserto do que nos bares subterrâneos.

— Só você para me fazer dormir no sofá e gostar, docinho. - resmunguei me levantando.

Danny fez uma careta brincalhona para mim. Dei um peteleco em seu rosto.

Me preparei para o café da manhã, olhei pela janela quando fui para a cozinha, enquanto Opal me servia uma xícara de café.

— Vou fazer as unhas mais tarde. - ela comentou. — Ninguém me chamou para trabalhar hoje, tenho alguns trocados sobrando para isso.

— Meu pai está em casa. - expliquei. — Ele vai cuidar da Mary hoje, por isso não te chamamos.

— Você tem ido muito ao salão de beleza. - Danny observou tomando uma xícara de café. — Cuidado.

Não entendi o aviso, mas Opal deu risada como se achasse graça.

Olhei pela janela novamente.

— Tá de brincadeira! - bufei me levantando ao ver mexerem no meu carro.

Salário do PecadoOnde histórias criam vida. Descubra agora