Capítulo 1

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CAPÍTULO 1

POV MARÍLIA

Mais um dia de trabalho. Se eu dissesse que não gostava do meu emprego estaria mentindo, eu amava aquela área, amava aquela empresa e amava o que fazia. Desde sempre soube que iria seguir os passos do meu pai e ajudar a tocar a empresa da família e foi o que aconteceu quando há cinco anos me formei em direito.

De modo geral, eu tinha uma vida confortável, um emprego bom e uma família incrível. Na realidade, eu tinha duas famílias incríveis. Os Bittencourt's também eram a minha família.

Marco César Bittencourt Pereira era o sócio majoritário e presidente da empresa, além de ser o amigo de infância do meu pai, meu padrinho e basicamente um segundo pai para mim. Sua mulher, Elaine, também era como uma segunda mãe na minha vida. Nossas famílias se ergueram profissionalmente e emocionalmente juntas. Cresci ao lado dos filhos do casal, Arthur e César Filho, e vi as duas meninas mais novas, Sofia e Stela, nascerem, por isso, e por não ter irmãos de sangue, digamos que eu os considero como tal, ou quase isso.

Arthur é o filho mais velho e herdeiro de Marco César, com seus 32 anos já possui um cargo bem alto na empresa e está sendo preparado para assumir a presidência quando seu pai se aposentar. Na adolescência, costumávamos flertar e até chegamos a ter um breve romance, mas na época não deu certo. Porém, após isso, nossos pais colocaram na cabeça que seria uma boa para os negócios um casamento entre Arthur e eu. Pode até parecer loucura, mas não é, pois eu já havia desistido de encontrar alguém e Arthur me parecia uma boa opção. Eu não era apaixonada por ele e nem ele era por mim, mas nos dávamos bem e tínhamos coisas em comum. Tivemos uma conversa séria sobre o assunto e decidimos que seria viável caso nenhum de nós encontrasse alguém, só estávamos esperando mais algum tempo, afinal, não tínhamos pressa nenhuma. Outra coisa que me motivava a ficar com Arthur era o fato de que eu ainda tinha um leve medo de me assumir, sim, eu gostava de mulheres.

Desde que me descobri, tentei me esconder de todas as maneiras. No início, fiquei com caras para tentar tirar aqueles sentimentos de dentro de mim, e acho que foi até por isso que namorei Arthur, mas nada adiantou e nada adiantaria, eu não ia conseguir mudar o que sentia, eu não ia conseguir mudar quem eu era. Chegou uma época em que me aceitei e passei a me relacionar com mulheres, até me apaixonei por algumas delas, mas nunca assumi nenhuma.

Naquela manhã de segunda-feira, saí de casa às oito e meia, estacionei na vaga reservada pra mim e entrei pelo hall da B&M Contabilidade e Advocacia. Nossa empresa estaria completando 30 anos daqui há dois meses e seria oferecida uma grande festa em comemoração, afinal, éramos uma das maiores da cidade em ambas as áreas.

Cheguei na minha sala após buscar um capuccino e alguns macarons, meu doce preferido, na cafeteria do térreo e me sentei para começar mais um dia de trabalho. Em menos de vinte minutos, alguém bateu na porta me tirando toda a concentração.

-Pode entrar. -murmurei.

-Atrapalho a minha futura noiva? -Arthur colocou a cabeça para dentro da sala e perguntou de maneira brincalhona.

Costumávamos fazer esse tipo de piada com a situação quando estávamos apenas nós dois.

-Meu futuro noivo nunca me atrapalha. -entrei na brincadeira. -Precisa de alguma coisa?

-Você me conhece tão bem! -riu.

-Você não viria à toa aqui em plena segunda de manhã, é óbvio que quer algo.

-Vim te pedir um favor, um favor enorme.

-O que precisar.

-Hoje minha mãe tem radioterapia e o César Filho viajou de última hora e não poderá acompanhá-la, então eu sou o mais indicado para isso. Mas tenho uma reunião importante no início da tarde e acabei esquecendo em casa uns documentos imprescindíveis para essa reunião. Não vou conseguir levar e buscar minha mãe no hospital e ainda passar em casa pra pegar os documentos antes da reunião começar, não vai dar tempo.

Macarons - MalilaOnde histórias criam vida. Descubra agora