Point of view Jenna
Última linha e um único acorde para finalizar minha nova música. Música essa que nunca será divulgada ou escutada por alguém. Todas as minhas composições estão guardadas em um diário trancado a sete chaves. 1) por causa da minha timidez. 2) pela minha esposa, que não gostaria nadinha de ler a história que meu coração transformou em melodias.
Aparentemente minha relação com a Mi é muito boa. Somos casadas há quase dois anos e temos um filho lindo. Ela é uma pessoa esforçada e muito inteligente, advogada e mãe mais rígida, do tipo que não deixa a criança comer doce antes do almoço, que impõe hora para estudar e voltar para casa depois de uma partida de futebol na rua com os amiguinhos. Eu, por outro lado, não quis saber de faculdade. Quer dizer, comecei música, mas tranquei para cuidar do Miguel, já que ele exigiu de cuidados especiais. Sabe aquela mãe mais liberal? Então! Não ligo se meu pequeno come doces antes do almoço, contanto que coma toda a comida depois, gosto de jogar bola com ele, encher a casa de espuma para escorregar e minha única exigência é com o estudo e educação dele.
Ao lado de quem está de fora, somos a família perfeita, as mães perfeitas, mantendo a relação perfeita. Porém, não é bem assim que as coisas funcionam. De uns tempos para cá, nosso relacionamento começou a se desgastar. Mia já não conversava mais comigo, apenas o essencial. Já não rolava mais beijo. Sexo? Fora de cogitação! Era do trabalho para casa e de casa para o trabalho. Vi meu relacionamento, da forma mais dolorosa, virar rotina. Faz uns bons meses que venho tentando terminar, mas toda vez que o assunto surge ela dá um jeito de inverter a situação ou joga o Miguel no meio.
— Mamãe! — fui retirada dos meus pensamentos com o grito do meu filho e o pulo no meu colo. — Cheguei.
— Oi, Mimi. Que saudade! — beijei sua bochecha e o apertei nos meus braços. — Cadê a mamãe?
— Ela...
— Estou aqui. — ela entrou segurando algumas sacolas que deduzi ser algo para o almoço. — Miguel, suba. Você precisa tomar banho antes de ir para o colégio.
— Oi, amor. Boa tarde para você também. — falei e ela sorriu. — E pode deixar o Miguel descansar um pouquinho. Não tem problema se atrasar hoje.
— Você que sabe, Jenna. — falou de maneira fria, mas resolvi ignorar.
— Então, filhão! Como foi o primeiro dia de aula?
— Foi massa. — respondeu e eu franzi o cenho.
— Massa?
— Sim.
— E o que seria massa? — sorri.
— Ah, mamãe, massa quer dizer legal.
— É mesmo? E com quem você aprendeu essa palavra?
— Com o Luiz. Meu novo amiguinho.
— Já fez amiguinhos novos? Isso é ótimo, filho. — apertei seu nariz.
— Conversou com a professora dele? — me dirigi a Mia.
— Conversei.
— E aí?
— E aí o que? — perguntou da cozinha.
— O que achou dela? Ela é boa?
— Sei lá. Conversamos pouco. — voltou para a sala comendo uma maçã. — Ela é bem bonita, mas o que tem de bonita tem de louca.
— Como assim?
— Ah, ela se assustou quando cheguei e estava com a blusa cheia de café. — riu. — Fala demais, parece uma criança apavorada. — sorri. — Mas conseguiu levar o Miguel para a sala, mesmo ele fazendo birra.
— Ela conseguiu? — perguntei surpresa.
— Sim. Fiquei muito surpresa, já que esse menino fazendo birra é coisa de outro mundo. Acho que ela lida bem com crianças.
— Deve estar acostumada. — suspirei. — Qual o nome dela?
— Emma. — respondeu e eu franzi o cenho.
— A tia Emma é demais, mamãe. — Miguel falou batendo palmas. — Ela deixou eu pegar no violão e tudo.
— E você aguentou?
— Sim, eu sou bem forte. Olha. — ergueu o braço para me mostrar seus "músculos". Segurei seu bracinho e fiz cara de surpresa.
— Meu Deus, que rapazinho forte! Estou até impressionada.
— A tia me deu pirulito. — riu. — Me deu, porque aprendi fazer o lá, ré e mi menor.
— Nossa, como meu filhote está musical! — levantei com ele nos braços. — Vamos tomar um banho.
- - -
Estava dando banho no meu pequeno Miguel, ele não parava de falar sobre os novos coleguinhas e a professora e juro por Deus que se não fosse criança e estivesse tão empolgado já o teria mandando calar a boca. Ri baixinho com meu próprio pensamento.
— Do que está rindo, mamãe?
— Nada, filho. Só lembrei de uma coisa engraçada. — o coloquei sentado na pia para começar a enxuga-lo.
— Seu sorriso é bonito igual o da tia Emma. — falou e eu revirei os olhos.
— Você está bem apaixonado por essa tia Emma, não é mesmo?
— Sim, ela se parece muito com mamãe.
— Como assim?
— Ela é boazinha igual você e faz carinho. — colocou as duas mãos na boca como se fosse contar um segredo e cochichou. — Ela não é chata igual a mamãe Mi.
— Miguel! — o repreendi. — A sua mãe não é chata.
— Ela é sim.
— Ok, Por que?
— Porque ela briga muito comigo, me coloca de castigo. Não me deixa fazer nada e fica falando que faço birra. — cruzou os braços. — E eu não faço.
— Tem certeza?
— Eu faço, mas só de vez em quando. Hoje não fiz e ela falou que fiz. Só estava com vergonha de entrar na escola.
— Eu entendo, meu amor. Mas não pode chamar a mamãe de chata, ok?
— Tudo bem. — ele ficou sério e calado por alguns segundos, depois passou as mãos no cabelo e arregalou os olhos. — MAMÃE!
— O que, Miguel? Que susto! — gargalhei.
— Meu cabelo.
— O que tem seu cabelo? Está bem limpo.
— Eu sei. — bufou e bateu a mão na testa. — Estou falando que ele é como o da tia Emma. — o olhei por alguns segundos, esperando ele continuar, mas ele não fez.
— Igual como? — deu de ombros.
— Assim, a mesma cor.
— Emma, Emma... — repeti baixinho para mim mesma algumas vezes. — Será que? Não! Óbvio que não. — ri. — Aqui em São Paulo? Mas é claro que não. É uma grande coincidência apenas, ou melhor, é apenas minha cabeça criando coisas para eu ficar paranóica, endoidar de vez.
— Eu hein, mamãe está doida.
— Miguel? Está pronto? Vamos para o colégio. — Mia entrou no banheiro pronta para voltar ao trabalho.
— Já sim, mamãe Mi. — respondeu e o coloquei no chão.
— Sobre o que falavam?
— Sobre a...
— Sobre nada, amor. — falei, pois não queria render assunto. — Filho, sua mochila está na sala. Se comporta e até mais tarde. — ele beijou minha bochecha. — Te amo.
— Eu também te amo, mamãe. — saiu correndo e me aproximei da Mia para roubar um selinho, o qual ela demonstrou boa vontade ao retribuir, estranhei sua atitude.
— Bom trabalho.
— Obrigada. Se cuida. — e saiu sem olhar para trás e falar mais nada.
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Um Bebê Entre Nós - Jemma version
FanfictionO que você faria se de repente o passado batesse a sua porta? E o que você faria se esse passado viesse com uma criança? Jenna e Emma se conheceram de uma maneira inusitada, o destino tratou de separa-las, mas a vida é uma caixinha de surpresas e m...