Point of view Jenna
Miguel havia pegado no sono assim que chegamos em casa e fizemos um lanche. Mia estava sentada no sofá em frente ao meu, ela mexia nervosamente nas mãos e permaneceu de cabeça baixa, por outro lado, eu estava irritada e minha vontade era de gritar até ficar rouca.
— É melhor você começar a se explicar. — falei baixinho. — Como conheceu a Emma?
— Jenna...
— Sem essa, eu vou perguntar só mais uma vez e quero a verdade. Como conheceu a Emma?
— Ok. — respirou fundo. — Eu soube faz um tempo. Foi no dia que você foi no parque com o Mimi. Estava arrumando algumas bagunças no quarto e resolvi tirar o pó dos móveis e quando fui tirar do guarda-roupa achei seu diário.
— Espera, o que? Você mexeu no meu diário?
— Não. — negou rapidamente com a cabeça. — Céus, não! Eu segurei ele, mas acho que você tinha mexido horas antes de sair, porque esqueceu uma foto em cima da capa. A foto da Emma e eu soube de vocês quando vi a declaração no verso.
— Mia, eu... eu sinto muito.
— Não. — levantou o indicador. — Não quis falar nada para você, porque se quisesse que eu soubesse da sua ex teria me contado e não a escondido todo esse tempo. Não sei o que aconteceu entre vocês, mas não quis remoer o assunto. — mordeu o lábio. — Quando soube que ela era a professora do Mimi, não quis que você soubesse e se eu tirasse ele da escola teria que me explicar, então usei a Rebeca como contato de emergência.
— A Rebeca? Você não pensou que a babá do nosso filho fosse desmentir ou o próprio Miguel?
— Eu não sei, não pensei muito. — passou a mão nos cabelos.
— Só queria que tivesse me contado, teria evitado tudo isso. — segurei o choro.
— Tive medo.
— Medo? Medo de que?
— De perder você. Sabe, as coisas entre a gente não estão bem, pensei que pudesse te perder para a sua ex.
— Você não ia me perder. — suspirei, levantando. — Mas eu queria que tivesse me contado, que fosse honesta. — limpei uma lágrima solitária que escorreu pela minha bochecha e me virei para sair dali.
— Jenna. — Mia se levantou.
— Não, eu preciso ficar sozinha. — disse caminhando até a porta e saindo por ela.
Point of view Emma
Nick me deixou no meu apartamento depois de me encontrar chorando na escada. Ele não fez muitas perguntas, apenas cuidou para que eu ficasse bem e depois de muito dizer que estava, ele foi embora. Mas quer saber a verdade? Eu não estava bem, sequer sabia quando ou se ficaria algum dia. Minha mente estava uma grande confusão, fazendo um contraste perfeito com o conflito entre minha razão e emoção.
Eu só queria sumir!
De repente, a campainha soou me fazendo pular com o susto. Levantei a contragosto, não queria receber visitas, mas poderia ser o rapaz da pizza. Caminhei até a porta e ao abrir quase caí para trás ao vê-la parada ali.
— O que? — perguntei confusa. — Jenna?
— Oi Myers. Podemos conversar?
— Como você conseguiu meu endereço? Como conseguiu subir?
— Isso não importa. — respondeu. — Será que posso entrar? — ficamos alguns minutos paradas nos olhando até eu dar espaço para ela entrar.
— O que está fazendo aqui? Estou realmente confusa.
— O que você está fazendo aqui?
— Eu moro aqui. — respondi como se fosse óbvio e ela bufou.
— Não aqui no apartamento. O que está fazendo aqui em São Paulo?
— Eu vim trabalhar, já faz alguns meses.
— Você precisa ir embora.
— Por que?
— Porque não quero você por perto, não quero você perto da minha esposa e do meu filho.
— Seu filho?
— Sim, MEU filho. — enfatizou o "meu", neguei com a cabeça.
— Você vai me privar de dar aulas para o Miguel?
— Eu jamais deixaria meu filho nas suas mãos. — foi grossa o suficiente para atingir em cheio meu coração e fazer meu estômago revirar.
— Você fala como se eu fosse um monstro.
— E você é.
— Ok, por que? — cruzei os braços embaixo do peito. — Por que fui embora?
— Você acha pouco?
— Não, Jenna... Seres humanos cometem erros e ir embora foi o meu maior erro, mas eu tive os meus motivos. — abaixei a cabeça, eu não ia chorar na frente dela. — Você quis saber quais foram?
— Se a sua covardia e fugir são motivos justificáveis, parabéns, acabou de me contar.
— Por que está me tratando assim Jenna? Você está agindo feito criança! — meu tom de voz se elevou, mas ela não pareceu se intimidar.
— A criança sou eu?
— Sim, é você. Você teve cinco anos para tentar resolver comigo na boa, mas vem até a minha casa para despejar ódio em cima de mim? — comecei a chorar. — Olha, eu até entendo você estar magoada, fui filha da puta, mas sinceramente, eu não mereço tudo isso, eu não mereço toda essa raiva. Poxa, sou ser humano! Me trate como um, você me conhece há oito anos, não oito dias. Você fez parte da minha vida e foi a pessoa que mais amei, que me entreguei de corpo e alma. Tenta entender os meus motivos, tenta pelo menos me deixar explicar.
— Você poderia ter me ligado.
— Acha que não tentei? Foram meses e várias ligações rejeitadas, você me bloqueou, trocou de número, não sei. Você deixou de existir em redes sociais, eu poderia ter mandado cartas, mas não sabia seu endereço. Passei dia após dia esperando uma única ligação sua, não troquei de número com a esperança de pelo menos uma mensagem. Será que é você a mais magoada na história? Será que é você que tem mesmo o direito de ficar com raiva? — ela ficou calada. — Eu voltei, Jenna voltei meses depois de ter partido, fui te procurar, mas você não estava, ninguém sabia me informar para onde você tinha ido. Então eu tomei uma decisão, talvez a mais difícil da minha vida. Te deixei ir, sacrifiquei minha felicidade pela sua e se você quer chamar de covardia o que chamo de amor, já não é mais problema meu. — me virei de costas para ela, que permaneceu em silêncio, mas eu sabia que ela estava chorando. Aos poucos, fui sentindo ela se aproximar até tocar meu braço e me virar de frente, colando seu corpo ao meu. Suas mãos seguraram meu rosto, seus polegares deslizaram pela minha bochecha para limpar minhas lágrimas e eu apenas fechei os olhos, me afogando em um mar de dor e saudade. Jenna se aproximou um pouco mais, se é que era realmente possível, me permitindo sentir a respiração quente no meu rosto e o que veio a seguir aconteceu inesperadamente, mas com ternura. Seus lábios se encostaram nos meus em um selinho demorado, desenterrando sentimentos que há muito tempo não me rodeavam.
— Adeus, Emma. — foram as últimas palavras dela antes de se afastar e sair pela porta.
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Um Bebê Entre Nós - Jemma version
FanfictionO que você faria se de repente o passado batesse a sua porta? E o que você faria se esse passado viesse com uma criança? Jenna e Emma se conheceram de uma maneira inusitada, o destino tratou de separa-las, mas a vida é uma caixinha de surpresas e m...