Fique o tempo que precisar.

1.1K 182 13
                                    

Estar sozinha é muito diferente de se sentir sozinha. Estar sozinha é olhar para o lado e não enxergar ninguém, é ver seu mundo completamente vazio e não saber o que fazer ou para onde ir. Se sentir sozinho é olhar ao redor e ver pessoas dispostas a estarem do seu lado e mesmo assim não sentir que é suficiente, ou não se achar o suficiente para essas pessoas, achar que vai sobrecarrega-las com seus problemas, porque você é uma verdadeira bagunça e então, você se afasta.

Mas o que fazer quando você sente os dois?

Dirigia pelas ruas de São Paulo sem nenhuma direção, não sabia o que fazer e muito menos para onde ir. Miguel estava sentado no banco de trás e observava a cidade pelo vidro. Pelo retrovisor notei o quão abalado ele estava.

— Tudo bem, amor? — resolvi perguntar.

— Para onde estamos indo?

— Dar uma volta. — menti. — Só isso.

— A essa hora? — me olhou. — Eu não quero. Quero ir para casa, estou com sono e com fome.

— Eu sei, babe. Eu sei.

— Onde está a mamãe Mia? — bocejou. — Mamãe, eu quero minha mamadeira e meu cobertor.

— Ok, Miguel, eu vou te falar uma coisa e quero que preste bastante atenção. — parei o carro e me virei para falar com ele. — Mia e eu tivemos uma briga feia, porque a mamãe não gosta mais dela. Mas isso não significa que você tenha que não gostar também, ok? Só vou pedir para não ficar perguntando sobre ela, deixa ela no cantinho dela e nós ficaremos no nosso. Não a odeie, mas também não a ame.

— A gente não vai mais voltar, não é? — perguntou e eu fiquei em silêncio o olhando.

— Não, meu filho. A gente não vai mais voltar.

— Para onde vamos?

— Eu também não sei. — apertei os olhos para não chorar e respirei fundo.

— Já sei. — ele levantou o dedo como se tivesse acabado de ter uma ideia. — Podemos ir para a casa da vovó. Melhor que dormir no carro.

— Bem que eu queria, filho. Mas a vovó não mora perto. Para irmos, teríamos que viajar até Goiânia e não fizemos planos.

— Podemos ir para a casa da tia Emma. — sugeriu. — Ela é boazinha e vai deixar a gente dormir lá.

— Não sei se devemos. Já está tarde, ela deve estar dormindo.

— Por que não liga?

— Por que não tenho o número. — novamente ficamos em silêncio.

— Mas eu prefiro ir para a casa dela do que ficar aqui. Estamos sozinhos, mamãe. — suspirou. — E se formos assaltados? E se...

— Ok, filho. Vamos para a casa da tia Emma. — liguei o carro. — Seja o que Deus quiser.

Point of view Emma

Por algum motivo, havia perdido o sono. Estava andando pela casa e pensando no que fazer até voltar a dormir e eu precisava voltar a dormir, já que tinha que acordar cedo para ir ao trabalho. Pensei em ligar a televisão e assistir um filme, mas meu pensamento se desfez assim que a campainha soou me assustando. Quem seria a essa hora?

Peguei um pedaço de pau que guardava na cozinha e caminhei até a porta. Devagar a destranquei e no primeiro momento o que senti foi alívio, mas logo a preocupação me invadiu.

— Jenna?

— Será que posso entrar? — perguntou e eu a encarei.

— Claro. — dei espaço para ela que entrou e logo colocou Miguel sentado no sofá. Estranhei o quanto o menino estava calado e quieto.

— O que aconteceu?

— Será que podemos dormir aqui hoje? Amanhã eu dou um jeito e...

— Claro que sim. Podem ficar à vontade, mas o que houve?

— Você tem leite? O Miguel precisa se alimentar. — perguntou e eu arregalei os olhos. O que ela estava falando? — Ai, meu Deus, Emma! Não é isso que quis dizer. Quero saber se você tem leite na caixinha, jarra, sei lá. Na sua geladeira?

— Oh! Sim. Só um minuto. — corri até a cozinha e esquentei um pouco de leite, colocando no copinho mais bonitinho que eu tinha. Um vermelho de gatinho. Aproveitei para colocar alguns biscoitos no prato e pegar um café para Jenna. Voltei para a sala.

— Trouxe leite e biscoito para o meu campeão. — me abaixei perto dele, o entregando e ele sorriu. Apertei seu nariz. — Trouxe café para você. — entreguei a xícara para ela e nos sentamos no sofá.

— Obrigada.

— O que houve?

— Terminei com a Mia.

— Oh! — pigarreei. — Era para eu ficar feliz com isso, mas não estou conseguindo, porque pela sua cara as coisas não acabaram bem.

— Não. — provou o café. — Bem é a última palavra que eu usaria, se é que usaria. Acho que tudo está mais para péssimo.

— Quer contar como foi?

— Bom, contei para ela que passei a tarde e a noite com você e logo ela veio me perguntando se tínhamos nos beijado ou feito outras coisas, eu disse que não, mas ela ficou com muita raiva por eu ter saído com você. — colocou a xícara na mesinha de centro e se ajeitou no sofá, ficando de lado, de frente para mim e com os pés sobre ele. — Eu disse que quase rolou beijo, mas que eu evitei por estar casada e não achar justo com ela. Disse também que gostava dela, mas... — parou de falar, de repente. — Enfim, terminei com ela e ela não aceitou muito bem.

— Meu Deus, Jenna! Eu sinto muito.

— Isso não foi o pior. — diminuiu o tom voz. — Ela maltratou o Miguel.

— O que?

— Ela começou a gritar loucamente que fez várias coisas boas por mim, que me acolheu, que acolheu o Miguel. Gritou que sustentava ele sendo que nem filho dela ele é. — abri a boca em choque. — E o pior de tudo é que ele ouviu.

— Que filha da puta! — falei com certa raiva e olhei para o Miguel, mas ele parecia concentrado demais em olhar os desenhos no biscoito para estar prestando atenção no que falávamos. — E aí?

— Ele chorou, ficou muito confuso. Não entendeu o porquê da mãe falar assim e no final de tudo, ela expulsou a gente.

— Cara, ela não pode fazer isso!

— Legalmente pode. A casa é dela, está tudo no nome dela, menos o meu carro. — percebi que ela queria chorar, mas estava segurando ao máximo. — Não soube o que fazer. Todo o dinheiro que tenho está no banco. Estava perdida, sozinha, sem ter para onde ir e com uma criança pequena. Você foi minha única salvação.

— Você fez bem em ter vindo para cá. Tenho um quarto de hóspedes. Bom, ele está sem cama, porque quebrei a do meu quarto... longa história! — controlei a vontade de rir ao lembrar da cena. — Mas vocês podem dormir comigo.

— Se importa de dormir com o Miguel? Eu me ajeito por aqui.

— Sem essa! Cabe vocês dois na minha cama, não precisa de desconforto. — falei e ela sorriu, me puxando para um abraço apertado e cheio de gratidão.

— Será que posso tomar um banho? Dar banho no Mimi?

— A casa é sua. — falei levantando, me preparando para ir para o quarto arrumar algumas bagunças para recebê-los bem. — Fique o tempo que precisar.

- - -

Um Bebê Entre Nós - Jemma version Onde histórias criam vida. Descubra agora