Café e fortes lembranças.

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O despertador soou mais alto do que eu esperava, me fazendo pular na cama e bater a mão o derrubando no chão. Meu coração batia de maneira desregulada em meu peito, mas eu preferia isso a chegar mais uma vez atrasada no trabalho.

A noite havia sido um tanto quanto estranha. Pensei em Miguel durante grande parte dela e quando consegui finalmente pegar no sono, ele invadiu meus sonhos. Ele e a mulher que mais amei durante esses oito anos da minha vida. Talvez Nick tivesse razão, talvez fosse coisa da minha cabeça, mas a semelhança entre ela e o garotinho me fazia ter certeza de que não estava enlouquecendo, eu conhecia aquele sorriso. Mas como isso era possível?

Depois de caminhar alguns minutos, parei em frente à lanchonete onde costumava tomar meu café da manhã, a mesma que não vinha há uns bons anos. A entrada permanecia do mesmo jeito. As portas de vidro fumê tinham marcas de dedos que deduzi ser de criança, mas os letreiros continuavam acesos mesmo sendo seis e meia da manhã. Respirei fundo e enfiei as mãos no bolso antes de entrar na lanchonete. Por dentro, o lugar era extremamente confortável, como sentar no sofá de casa em um domingo com a família e contar histórias sem nexo, mas super engraçadas, exatamente do jeito que eu me lembrava. Em passos largos, caminhei até uma mesa ao fundo e assim que me acomodei uma moça simpática se aproximou.

— Bom dia.

— Bom dia. — respondi e ela me estendeu o cardápio, o qual recusei. — Só vou querer um café, sem açúcar, por favor.

— Só um minuto. — se retirou e aproveitei para abrir algumas partituras sobre a mesa. Precisava revisar pela última vez antes de ensinar meus alunos a tocarem e cantarem as nossas primeiras músicas, "Atirei O Pau No Gato" e "Borboletinha". — Com licença, aqui está o seu café. — a garçonete disse gentilmente colocando a xícara sobre a mesa.

— Obrigada. — agradeci e ela se retirou. Segurei a xícara com as duas mãos e observei por alguns segundos a fumaça subir e espalhar no ar, preenchendo o ambiente com aquele cheirinho agradável. Levei a xícara aos lábios, mas como estamos falando de mim, queimei a língua e fechei os olhos rapidamente sendo invadida por uma onda de lembranças.

                               - Flashback on -

Eu estava encharcada. Mas para a minha felicidade, havia deixado o banco do carro da estranha que agora chamava de D'Flash no mesmo estado que eu. Ao contrário do que pensei, a louca não me levou para um lugar reservado onde pudesse trocar de roupa ou onde sequer existisse roupas novas, limpas e secas.

Estávamos paradas em frente à uma lanchonete, pelo menos era o que o letreiro aceso dizia. A moça ao meu lado sorria e pude perceber através da minha visão periférica. Me virei para ela e cruzei os braços, revirando os olhos.

— O que estamos fazendo aqui?

— O que acha?

— Não estou com fome. Só preciso de roupas secas. — reclamei.

— Você reclama muito. Te convidei para um café, não lembra? — riu. — Ou você achou que fosse louca o suficiente para levá-la assim, do nada, para a minha casa sendo que nem te conheço? — a tranquilidade em que ela falava e as gotas de chuva caindo sobre meu corpo me deixava ainda mais irritada. Neguei com a cabeça, impacientemente e incrédula.

— Eu vou embora. — me virei, mas senti sua mão segurar com certa força o meu braço.

— Espera!

— O que está fazendo? — perguntei, tentando me livrar de seu aperto.

— Não quero irritar você. Só estou brincando. — suspirou. — Você é sempre séria e tensa assim?

Um Bebê Entre Nós - Jemma version Onde histórias criam vida. Descubra agora