Matar ou morrer.

638 79 5
                                    

Eu não estava morta, sabia que não estava. Talvez eu nem estivesse morrendo, mas o que estava sentindo era completamente estranho. Era como se meu corpo tivesse perdido todos os movimentos e funções, ou minha alma desprendido dele, eu não sentia nada, nem dor, nem medo, absolutamente nada.

Sabia o que estava acontecendo, pois vi os policiais entrarem em câmera lenta, como nesses filmes de suspense. Um se ajoelhou ao meu lado e colocou dois dedos no meu pescoço, checando a pulsação, o outro agarrou Mia de maneira ágil, mas cuidadosa e pela minha percepção perguntou o que ela havia feito. Apesar de enxergar tudo e ter noção do que estava acontecendo, eu não ouvia nada.

                             - Flashback on -

Cheguei em casa por volta das vinte e duas horas. Era noite de sábado e eu tinha ido escondido comemorar o aniversário de uma das minhas amigas de infância de Campo Mourão que havia se mudado para Curitiba. O que eu não esperava era que chegaria em casa e encontraria Leonardo largado no sofá, visto que ele só chegava do trabalho as vinte e três e trinta. Quase cuspi o coração quando acendi a luz.

— Boa noite, Myers. — virou a garrafa de cerveja na boca. — Onde você estava?

— Oi, Leo. Chegou mais cedo? — perguntei.

— Onde você estava?

— Estava com a Fernanda. Hoje é aniversário dela.

— Com a Fernanda? — terminou de beber o líquido que estava na garrafa. — Onde?

— Em uma barzinho aqui perto. Ela convidou apenas os amigos mais próximos. — respondi com certa dificuldade quando ele se levantou e aproximou de mim, cheirando meu pescoço.

— Alguns amigos, uh? — assenti. — Mulheres e homens? Porque você está cheirando a homem.

— Eu...

— COM QUEM VOCÊ ESTAVA, PORRA? — socou a porta atrás de mim, fechei os olhos.

— Eu já disse. Com a Fernanda e alguns amigos. O namorado dela e...

— HOMENS! Você aproveita que saio para trabalhar pra sustentar você e vai sair com homens, sua vagabunda!

— Você não precisaria "me sustentar" se fosse homem o suficiente para me deixar trabalhar. — fiz aspas com os dedos.

— O que você disse?

— O que você ouviu. — enfrentei. — Estou cansada de você, estou cansada dessa sua obsessão, cansada de apanhar de macho escroto e ciumento, que se acha o fodão por machucar uma mulher. — empurrei ele. — Já basta! Eu vou embora, vou para a casa dos meus pais e vou contar tudo que está acontecendo, vou mostrar isso. — levantei a blusa, onde várias manchas roxas estavam espalhadas. — E você vai apodrecer na cadeia, porque o seu lugar é lá.

— CALA A BOCA, PORRA! — arremessou a garrafa na minha direção. Tentei desviar, mas ela quebrou na minha testa, me fazendo soltar um grito de dor.

- Flashback off -

Paramédicos me tiraram da casa em uma maca. Estava consciente e pude ver Jenna correr até a mim, mas ela estava sem o Miguel.

— Emma, amor. — falou. — Meu Deus! Ela está perdendo muito sangue. — tirei a máscara de ar.

— Miguel... onde?

— Está com a minha mãe, ele está bem. — segurou meu rosto, afastando meu cabelo.

— Jenn...

— Não fala. Não se esforça. — deixou algumas lágrimas caírem. — Só fica comigo, ouviu bem? Não ouse me deixar.

- Flashback on -

Depois de alguns minutos, que pareceram horas, consegui levantar do chão com a cabeça doendo e ainda coberta de sangue. Estava com dor, mas mais do que dor sentia raiva e pela primeira vez na vida me dispus a deixá-la me possuir.

Respirei fundo e fiz careta ao sentir sangue quente escorrer pelo meu rosto. Rumei em direção às escadas e fui em direção ao quarto onde dormíamos juntos. Para o meu desgosto, ele estava só de cueca na sacada, fumando seu cigarro, olhando para o céu escuro. Me aproximei.

— Leonardo?

— O que você quer? — perguntou se virando para mim, jogando o cigarro no chão e pisando nele.

— Será que você pode me levar ao hospital? — pedi. — Estou perdendo muito sangue e não dá para estancar. Já tentei.

— Me deixa ver. — segurou meu rosto e olhou o corte por alguns minutos. — Não foi nada. Passa gelo e tudo... — tentou terminar, mas com certa ou talvez toda força que tinha o empurrei sacada a baixo, ele não teve tempo nem de gritar ou tentar se defender. Seu corpo bateu em uma das espreguiçadeiras, mais especificamente a cabeça e caiu na piscina, sem vida.

Não precisei checar.

Naquele momento, eu apenas soube que havia tirado a vida do homem que destruiu a minha.

- - -

Um Bebê Entre Nós - Jemma version Onde histórias criam vida. Descubra agora