Capítulo 64

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ALEMÃO

- isso é coisa sua? - perguntei e ela faz que não

- acredite eu não queria estar aqui vendo essa sua cara de drogado  - ela diz fazendo cara de nojo - lê a carta, quem sabe te faz acordar pra realidade

- não tô afim de ler não

- então eu leio pra você - ela diz e começa a abrir então eu puxo da mão dela

- não faz isso

- ou faz você ou faço eu - ela diz me encarando

- como tu é chata, puta que pariu! me deixa sozinho - falei

- Rafael vai passar uns dias lá em casa - ela diz - não é confiável ficar aqui

- sai logo

Espero ela sair do quarto e respiro fundo, só me faltava mais essa mermo. Fiquei um bom tempo encarando a carta, pra mim aquilo tudo era uma lorota da Larissa pra me fazer reagir ou talvez minha mãe já soubesse que ia morrer e tava só esperando.

Eu não tinha coragem de abrir aquilo e encarar a realidade, ia ser como se eu realmente tivesse enterrando minha mãe e dando adeus. Era uma coisa que eu precisava fazer mas eu não conseguia. Isso era pior do que qualquer coisa que eu já tinha feito. Mas eu ignorei aquela carta o máximo que podia, fiz de tudo pra tirar essa neurose da minha cabeça. Mas a real é que era impossível.

A primeira vez que eu fui diagnosticada com câncer de mama o Rafael tinha acabado de nascer, eu não consegui te contar. Você estava tão feliz que ia ser irmão mais velho então eu decidi adiar o tratamento por um tempo mas já estava sendo muito duro pra nós. Não quis te contar, você já tava numa vida difícil, estava diferente. Por um bom tempo não reconheci meu filho e eu comecei a me tratar, eu não queria ir embora e te deixar sozinho afinal você ainda tinha muita coisa pra aprender. E alguém precisava por juízo na sua cabeça.
O pai do Rafael sabia da doença e muitas das vezes eu precisei do dinheiro dele, eu não conseguia te dizer a verdade e também não conseguiria te pedir uma coisas. Ele só ia lá pra tentar me chantagear e diferente do que acha eu nunca gostei dele, também nunca deixaria alguém como ele dentro da minha casa mas eu dependia dele.
Quando a Larissa apareceu eu vi que alguma coisa diferente nela e por algum motivo eu senti que não precisava me preocupar, ela cuidaria de você. Eu não tenho muito tempo filho e quando você ler isso não vou estar aqui pra te dizer, eu queria ter mais tempo porque como mãe eu tenho muita coisa pra dizer sobretudo as mais importantes são agradecer por você ter feito tudo que podia pela nossa família do seu jeito errado mas nunca deixar a gente desamparar. Você vai ser um pai tão bom pro Henrique quanto você é pro Rafael! Eu espero que um dia você deixa essa vida que não vai te levar a lugar algum e vai viver de verdade, viver com quem você ama e descobrir o que quer. Mas o mais importante filho é que eu tenho orgulho de você, eu sei que vai vencer sem mim mas vai estar no topo tão alto que da onde eu estiver vou poder aplaudir sua vitória.

Com um certeza um tiro doeria menos, a emoção tomou conta de mim e eu chorei. Chorei de saudade da minha mãe, como se fosse uma criança. Eu não tinha forças pra continuar sem ela, e não sabia o que fazer da minha vida. Era como se eu tivesse voltado no tempo quando eu "perdi" meu pai, me vi sem rumo e sem ânimo. Nada; nem mesmo a pior das drogas amenizaria isso. Pelo tempo que fosse.

Eu não tinha ideia do que fazer, Larissa também tava de saída. Claro que não era a mesma coisa mas ela ia embora e meu filho iria junto. Faltava quase um mês e meio, e a real é que eu não sabia o que fazer.

- Eai... tô precisando de você - e ouço a reposta - é papo sério

- precisa ser agora?

- quanto mais rápido tu chegar melhor

- melhor não fazer eu ir até aí atoa

- to falando sério

A.N.A.R.C.O.S III: ASCENSÃO Onde histórias criam vida. Descubra agora