[27] O voto

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A caminhada de volta para o dormitório foi lenta. As mãos de Harry tremiam levemente, e ele se sentia sem fôlego a cada passo, mas ainda assim ele continuou. Haveria perguntas se ele fosse encontrado caído no corredor. Perguntas que ele não sabia como responderia. De muitas maneiras, porém, sua má condição física agiu como uma bênção: deu a ele algo em que se concentrar além da sensação de esmagamento em seu peito. Ocasionalmente, sua mente se voltava para Draco, e ele tinha que parar e se concentrar para evitar cair em lágrimas no corredor.

Ele chegou de volta a uma torre da Grifinória ainda pouco povoada - a partida não devia ter terminado ainda. Quando chegou ao dormitório, estava exausto e xingando os muitos lances de escada do castelo. Ele não se incomodou em se trocar - nem se incomodou em se enfiar debaixo das cobertas. Em vez disso, ele simplesmente desabou na cama de bruços com o rosto amassado no travesseiro e fechou os olhos.

A sensação em seu peito havia se tornado estranhamente entorpecida - como quando uma queimadura viaja tão fundo na carne que carboniza as terminações nervosas. A periferia da ferida ainda gritava de dor, mas em seu centro não restava nenhuma sensação. As bordas ainda eram o suficiente para fazer lágrimas vazarem dos olhos fechados de Harry, e ele se viu sufocando os gemidos de dor que lutavam para escapar. A capacidade de formar pensamentos coerentes havia escapado dele, e tudo o que restava era sentir.

Ele deve ter adormecido (embora desmaiar parecesse muito mais provável), porque na próxima vez que abriu os olhos, a iluminação na torre havia mudado com o movimento do sol, e ele não estava sozinho. Havia uma mão gentil sacudindo seu ombro, e ele se esforçou para olhar turvo por cima do ombro, seus óculos (que ele não havia tirado) pegando dolorosamente em seu nariz. A mão pertencia a uma preocupada Hermione, e por cima do ombro dela ele espiou um Ron com aparência assustada.

— Você pode nos ouvir, Harry? — Hermione disse alto, fazendo Harry estremecer e se encolher um pouco.

Ele assentiu e começou a se mover para se sentar.

— Sim, posso ouvir você — ele murmurou, virando-se cuidadosamente para sentar-se na beirada da cama. — Como foi a partida? — ele perguntou sem graça, não convencendo ninguém de que ele se importava nem um pouco.

Hermione franziu os lábios.

— Tudo bem — ela disse categoricamente, — o mais interessante é quem encontramos no caminho de volta para o castelo — ela esperou até ter contato visual com ele para falar novamente. — Draco — ela disse categoricamente.

A adrenalina percorreu o peito de Harry, e ele sentiu sua boca ficar seca. Ele limpou a garganta, e tropeçou em encontrar algo para dizer.

— Oh... o que ele queria?

— Para nós lhe darmos isso — de repente havia um frasco no rosto de Harry, e ele apertou os olhos enquanto tentava descobrir o que era. Ela o empurrou para sua mão quando ele não se moveu. — Você quer nos dizer por que Draco Malfoy estava tão desesperado para que lhe dessemos essa poção de reposição de sangue, Harry? — ela disse bruscamente.

Harry lutou para responder - muito ocupado olhando para o frasco enquanto um milhão de pensamentos corriam por sua mente. Este não era um dos frascos de Pomfrey, era da sala de aula de poções. Draco tinha feito isso hoje? Foi por isso que ele não estava na estátua? Por que ele fez isso? Ele se arrependeu de como eles deixaram as coisas? Ele queria poder voltar atrás, do jeito que Harry queria? Ele ainda o amava? Ou era simplesmente que, em seu âmago, Draco era uma boa pessoa, e ele estava fazendo a coisa certa ao garantir que Harry não sofresse nenhum dano duradouro por sua perda de sangue. No final, porém, o único barulho que Harry conseguiu fazer foi.

— Uuh...

Hermione zombou dele:

— Não se incomode em inventar uma mentira. Eu já fiz Draco prometer que nos contaria tudo — ela disse presunçosamente.

The Shadow of Time | DrarryOnde histórias criam vida. Descubra agora