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- Podemos furar o pneu do carro dela, o que acha? - Robert sugeriu enquanto limpava com um guardanapo de papel ao redor dos lábios da Srta. Cabello. Haviam parado numa sorveteira de bairro para tentar trazer algum conforto e alívio para a menina. Detestou ver seus olhos vermelhos pelo choro, e ouviu em silêncio inconformado seu relato sobre o que tinha acontecido.

Robert era seu único amigo, sendo assim, Camila não lhe escondia nada. Se não pudesse contar as coisas para ele, não teria com quem desabafar. Sua mãe não lhe dedicava tempo para tal, e  quando o fazia, apenas disparava a falar sobre todos os deveres da mais nova sendo uma Cabello. Quando, por milagre, indagava sobre o seu dia, não se interessava realmente sobre as lamurias que fazia sobre não ter amigos, e sempre lhe dizia que "antes só do que mal acompanhado. Além disso - prosseguia com indelicadeza e falta de sensibilidade - você é uma Cabello Estrabão, ninguém está a altura de ser seu amigo".

Depois de um tempo, ao ouvir sempre algo similar da matriarca, Camila percebeu que não faria diferença se incomodar em se abrir com ela.

Robert e seu diário eram seus únicos confidentes.

- Isso não seria prudente, Rob - contra-argumentou, um tanto mais calma ao ter desabafado, e também por desfrutar do delicioso sorvete de chocolate com calda de banana. Sua mãe teria um ataque se a visse ali, se empanturrando de um doce de qualidade duvidosa, enquanto acumulava mais calorias para sua nutricionista queimar. - E eu nem sei qual carro ela usa!

- Isso eu poderia descobrir num piscar de olhos - o senhor disse humorado, lhe dando uma piscadela cumprisse. Robert soube que cumpriu com seu objetivo de animar a mais jovem ao receber uma risada marota.

- Eu jamais seria capaz disso, você sabe.

- Você é patroa, seu papel cabe a somente ser mandante do crime - brincou.

- Você anda com a mente muito maldosa, Rob. Tem conversado com minha mãe? - Provocou, e ganhou uma gargalhada em resposta.

Após mais algumas trocas de palavras entre uma conversa leve e extrovertida, ambos finalmente embarcaram em direção à mansão a qual a Cabello reside. Bastou o carro entrar em movimento para Camila se sentir sufocada, ansiosa. A culpa por ter ingerido tanto sorvete, quando já havia se deliciado outrora com sua bandeja de pizza, a tomando aos pouquinhos.

Camila não sabia, mas era totalmente paranoico da parte de sua mente acreditar que sua mãe saberia o que havia feito somente em olhar para si.

Sua ansiedade atacava a cada segundo percorrido que a deixava mais próxima de casa. Era um tanto triste Camila não sentir que havia felicidade em seu lar. Sentia-se como se vivesse em uma prisão, sempre cárcere das instruções e ordens de sua mãe. O pai que mal lhe dava algum momento afetivo. Era a princesa de Alejandro, ninguém ousava dizer ao contrário, mas não recebia o tratamento devido ao de uma realeza. Não tinha carinho, chamego, abraços. Aquilo era algo que a latina apreciava  demais, abraços. E raramente os recebia de seus progenitores. Ou de qualquer pessoa.

Em razão disso era deveras íntima de seus funcionários. Amava passar seu tempo livre jogando conversa fora com eles. Sentia que era capaz de ser ela mesma, de sorrir, falar suas besteiras, contar de seus livros e personagens favoritos, das compras on-line que aguçavam sua curiosidade. Tinha mais amizade e carinho dos empregados do que com seus próprios pais, e isso a entristecia.

A mansão dos Cabello era situada próximo a Forest Park Historic District, em Springfield - Massachusetts. Um pouco isolada da área residencial mais populosa, contudo. Os portões de ferro em cor ouro já não chamavam a atenção de Camila, ou a estrutura rústica vitoriana da mansão, muito similar a arquitetura daquele bairro. Tinha as paredes em tijolos vermelhos num tom envelhecido que combinava perfeitamente com os dourados nos pequenos detalhes. O fato de remeter a uma casa antiga não tirava a magnitude que exalava. Grande, com mais de dez quartos, doze banheiros, uma casa de copeiros específica para os funcionários, e um belo jardim, a residência Cabello Estrabão soava como um sonho.

Ossos do AmorOnde histórias criam vida. Descubra agora