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Dor, desespero, tristeza, o peso da culpa, isso, e muito mais, foram as coisas que vazaram dos olhos avelãs direto para a camisa de Lauren, molhando-a. Seu papel foi somente consolar a mais nova, ouvir seus múrmurios de pesar, de indignação, enquanto acariciava suas costas e a deixava numa posição confortável contra seu corpo. 

Em algum momento, escorregaram pelo colchão, e Lauren a abraçou mais apertado, a deixando bem pertinho, e subiu o cobertor sobre seus corpos, as mantento quentinhas, com a sensação de lugar seguro. Seria o forte de Camila, seu apoio, e a cada lágrima que a menina derramava, mais ira acumulava no peito. 

Não deu a ela limite, ou a apressou. Sentia que passaria quantas horas, dias, ou meses, até que ela se sentisse melhor. Não ligava para a dormência em seu braço de baixo, que suportava o peso do corpo do Unicórnio que tinha sobre si, tampouco sobre como a posição não era favorável a si e estava começando a lhe trazer dores na lombar e pescoço. Permaneceria em seu devido lugar até a mínima recuparação da garota. Era seu único trabalho, então o faria bem. Se tinha que sacrificar seu próprio conforto ergonômico para isso... bem, então que assim fosse. 

Em algum momento, Camila parou de chorar, mas isso só aconteceu quando ela caiu no sono. Já era noite, Lauren continuou em seu posto, fazendo vigilha, e esperou com paciência, ainda acariciando as costas e o cabelo da menor, fazendo sons acalentadores com a boca, mesmo que ela já não a ouvisse. Teve sono também, contudo a preocupação e a mente em alerta, com todos os tipos de pensamentos, não a deixaram dormir. 

Não soube quanto tempo ficou ali, fazendo carinho na latina, sentindo como ela parecia se encolher cada vez mais no arco dos seus braços, olhando pelo lado de fora da sacada, entre a bracha das cortinas que voavam com a brisa, a noite enfeitar o céu.

Até que Cabello se remexeu, despertando gradativamente, calma. Não tinha levado muito tempo, foi apenas exaustão por tudo o que chorou, com seu corpo exigindo algum tipo de pausa, com seus Divertidamentes acionando o mecanismo de defesa no mood urgente.

Abriu os olhos, muito mais clarinhos mesmo com a pouca claridade, e fitou o queixo de Lauren, que tinha a cabeça quase apoiada em sua testa. 

Diferente da primeira vez que acordou ao lado dela, não teve a perca de memória sutil. Lembrava-se bem do quanto chorou, e até podia sentir a camisa da menina ainda úmida de suas lágrimas e corisa. Sentiu-se levemente envergonhada, no entanto, muito acolhida para se arrepender de ter se exposto ou a usado. Os carinhos que ainda recebia nas costas, os beijinhos que tinha sendo plantados esporádicamente entre os fios de sua franjinha, e o murmurar brando de sua voz, era a melhor confirmação da latina de que estava tudo bem ter se excedido. 

Em razão disso, não hesitou em sorrir um pouquinho, em meio a semiescuridão do seu quarto iluminado parcialmente pelo seu nome em neon, alguns lads pela estante, e os refletores no quintal da mansão, que adentravam pela sacada. 

Remexeu-se, pensando que Lauren poderia estar com alguma dor, torcicolo, ou o que fosse, pela posição inalterada e seu peso, mas recebeu um resmungo e grunhidinho em resposta. 

- Sossega o faixo, Cabello - a voz estava rouca, como se ela também tivesse dormido e acabado de despertar, mas era apenas por ter cantarolado o tempo inteiro para ela, lhe proporcionando calmaria mesmo em meio ao sonho. 

Camila, riu. Lauren conseguiu que ela fizesse essa façanha, e Camila, ainda assim, se ajeitou em seu corpo, procurando mudar a posição para uma em que proporcionasse a Lauren uma mudança, algum alívio, mas sem se afastar, sem sair do circulo protetor dos seus braços. 

Internamente, Lauren agradeceu o gesto, e se ajeitou até que esteve deitada mais para baixo, de jeito uniforme, mas, também, sem permitir que Camila se afastasse. Gostava demais da sensação de tê-la pertinho de si, com aquele cheirinho de melancia por toda a parte entre elas.

Ossos do AmorOnde histórias criam vida. Descubra agora