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Quando era mais nova, por volta dos seus doze anos de idade, Lauren se acreditava grande o suficiente para saber a diferença e a definição das coisas.

Seu irmão do meio, Christopher, havia ganhado de presente de aniversário um kit de truques de mágica e malabarismos. Treinou com todos os acessórios, e seguiu cada instrução, disposto a surpreender seus pais no show que prometeu que lhes faria tão logo estivesse pronto.

Lauren não aguentava mais ver seu irmão se irritando ao se frustrar por não conseguir executar algumas daquelas coisas, e sempre se aborrecia quando ele vinha lhe pedir ajuda.

Um dia, quando o estava ajudando a recolher as cartas que, num rompante de fúria, jogou contra a parede, o ouviu chorando de soluçar.

Desde daquela época, Lauren não era a melhor pessoa com palavras, não tinha tato, e era língua solta demais. Logo, não era uma boa indicação de alguém que pudesse consolar a outrem, contudo, tinha o coração bondoso e amava seu irmão, não gostava de vê-lo triste e chorando daquele jeito.

Após catar o restante das cartas e juntá-las, se aproximou do menino cabisbaixo, sentado no tapete da sala e recostado nos pés do sofá.

Não tinha muita ideia do que faria, e como não era boa em falar, apenas se limitou a ficar sentada ao lado dele, calada. Sua presença deveria confortá-lo de alguma forma. Ao menos era isso que esperava.

- Por que eu não sou bom em nada, Laur? - Ele a perguntou em sua vozinha infantil, os soluços ainda o fazendo tremer o peito e o braço constantemente deslizando contra o nariz, limpando as lágrimas e as impurezas. Estava desolado e muito chateado.

Lauren, de cabeça baixa e brincando de embaralhar as cartas, se obrigou a pensar muito antes de falar. Sua mãe vivia lhe dizendo que deveria pensar bastante antes de externalizar suas opiniões, que era necessário saber a diferença entre dizer o que achava, e o que as pessoas precisavam ouvir. Ainda não entendia muito bem o que um e outro representava, mas Clara Jauregui lhe resumiu que era muito sobre não magoar o coração alheio. E Lauren não queria magoar o coraçãozinho do seu irmão.

- Todo mundo é bom em alguma coisa, Chris. Até em não fazer nada. Você deve ser muito bom nisso - respondeu, e em sua cabeça sua fala fazia muito sentido e era um baita incentivo a autoestima do irmão.

- Eu queria ser bom em mágica. Ser que nem o Mister M.

- Mágica é coisa de bobocas.

- Não é nada! - Chris rebateu, enfurecido.

- Tá bom, não é - cedeu, mas não acreditava nisso, só não queria fazer o irmão chorar outra vez. Era muito chato.

Em silêncio, os dois irmãos permaneceram sentados ali por prolongados segundos, a TV ligada com imagens de um desenho que já não faziam questão de assistir, enquanto Clara terminava de arrumar os quartos no andar de cima.

Em determinado momento, Chris se arrastou pelo tapete xadrez até andar de joelhos e se colar sentado de frente para a irmã. Lauren distribuiu cartas entre os dois e juntos eles ingressaram numa brincadeira de "bater cartas" com suas palmas pequenas,  mesmo que essas fossem de baralho, até virar a face. Divertiram-se ali e se provocaram, mas já não havia mais choro.

- Laur? - Chris chamou, empurrando o bolinho de cartas para que a irmã tentasse a sorte de virar alguma.

- Hum?

- Qual a diferença de mágica e magia? - Perguntou, pois aquilo ficara em sua cabeça desde o dia em que um coleguinha da sua escola disse que mágica era mentira e magia era verdade. Queria tirar a prova, porém só confiava em Lauren para aquilo, afinal, ela era mais velha, tinha muito conhecimento das coisas.

Ossos do AmorOnde histórias criam vida. Descubra agora