Ossos do Amor

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- Então, o que acha dessa? - Harry perguntou, jogando seu cardigan colorido sobre os ombros. Olhava-se no espelho do seu quarto, escolhendo o que julgava seu melhor figurino, para a festa que aconteceria naquela noite. Sentia-se muito ansioso, fosse de forma boa ou não. - Se bem que depois que eu beber vou sentir muito fogo... - falava praticamente sozinho, mesmo que estivesse pedindo a ajuda da amiga. - Pensando bem, melhor não.

Despachando o enorme cardigan, viu-se com a atual roupa, um macacão estilizado na cor vermelha e com estampa de corações. Por baixo, somente seu torso nu, exibindo suas tatuagens. Os cabelos na mistura entre loiro e castanho revoltos na cabeça.

- Certo. Ficarei assim! Se estiver frio eu me esquento em algum cara - riu, mas logo estranhou não receber nenhuma resposta de Lauren. - Garota? - Chamou, virando-se num rompante para encarar a amiga sentada em sua cadeira, na mesa de estudos.

Encontrou-a em silêncio, largada na cadeira, e encarando o teto enquanto se movia de um lado a outro de jeito distraído.

Lauren sequer ouviu alguma palavra do que o amigo disse desde que fora chamada por ele, alguns bons minutos atrás. Tinha a mente muito enervada de pensamentos confusos para se focar em banalidades. Não sabia como se sentir, ou que emoção tentar manter. Pensava em Camila, reviva o beijo que trocaram e suspirava. Às vezes sorria, até pegar-se com vários questionamentos. Coisas do tipo  se ela realmente gostou. E se o fez, então por quê fugiu? Como ela deveria estar agora? O que achou do beijo? O que faria quando se encontrassem novamente? Será que fingiria que nada aconteceu? O que pensava sobre Lauren? Será que diria que foi agarrada?

Não! Definitivamente ela retribuiu o beijo, não foi assédio.

Mas, e se dissesse que foi?

Então, depois de sempre suspirar pela magia do que havia acontecido, corroia-se em agonia por não ter as repostas para todas as suas dúvidas e temores.

Já era sexta, e, para o seu azar, ou sorte - ainda não sabia - Camila não foi a faculdade. Se tinha ido, ao menos não se cruzaram. A morena tinha quase certeza da falta, mas não tentou averiguar, manteu-se muito calada enquanto seus amigos especulavam se ela havia ou não ido. Fato é que sabia o motivo da latina não ter comparecido no meio deles, e, por um lado, sentiu-se culpada. Mas a culpa sumia em um piscar de olhos quando se lembrava da sensação daqueles lábios nos dela.

A questão é que Lauren nunca se sentiu do jeito que estava se sentindo no momento, nem mesmo quando deu seu primeiro beijo, numa menina, ainda na quinta série. Claro, aquele beijo com Lana havia sido um dos seus melhores, e não era por conta de ter experiência - o que não tinha, aliás, nenhuma das partes - mas, por ter sido de um jeito puro, na emoção do amor platônico correspondido, de ter sido seu primeiro beijo. As sensações foram inéditas e inesquecíveis. Aquele era um dos poucos momentos que guardava com muito carinho em sua mente e coração.

As coisas com a latina, no entanto, sofriam um pouco mais de impacto. Não conseguia nem mesmo descrever como se sentia com relação àquele beijo. Tomou-a por completo. Como se tivesse preenchido várias lacunas, antes impreenchiveis, dentro dela. Lauren até mesmo se questionava se ele aconteceu. Saiu tão aturdida do banheiro, após ser abandonada, que não parou muito para analisar as coisas friamente. Depois, mais introspectiva do que o normal, entrou nesse ciclo vicioso de relembrar o momento vivido e se corroer em culpa e questionamentos. O beijo pareceu tão bem encaixado, tão doce e perfeito, tão único e saboroso, fantasioso, que as vezes realmente se perguntava se não foi uma alucinação sua. Talvez tenha pensado que ocorreu, e Camila a viu parada diante dela com cara de taxo e se foi. Ao mesmo passo, sua certeza de que tinha sido real vinha pelo argumento de que jamais teria imaginação suficiente para fantasiar algo tão incrível. E não fora por falta de tentativas, já que sempre sonhava com a ideia, fosse acordada ou não. Nunca chegou nem perto do que sentiu, no entanto.