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Esbarrava entre os corpos em seu caminho atrás de liberdade para seus pés a conduzirem para o mais longe que pudesse. A música alta e agitada lhe zumbia nos ouvidos, deixando sua cabeça em desordem junto ao grupo de palavras que acabara de ouvir se repetindo em sua mente.

As lágrimas escorriam em silêncio e tinha o coração acelerado, dessa vez por motivos nada bons. A dor que lhe pulsava o peito era tão ardida e latente, que precisava se conter para não deixar soluços lhe escapar da garganta. As mãos pequenas e delicadas empurravam, abriam espaço, mas já se sentia claustrofóbica por não encontrar uma saída.

Atrás de si, Harry gritava e tentava lhe alcançar, tão sem paciência ou educação quanto ela naquele momento, mas Camila não o ouvia. Estava imersa em dor e desolação, tendo muito na cabeça e ouvidos para se concentrar em qualquer outra coisa. Só queria ir para casa.

Avistou Shawn com um grupo de caras grandes, recostado na parede com um dos pés erguidos contra ela. Uma longneck de cerveja na mão e uma risada solta na boca. O rapaz se enturmou rápido. Um bocado de palavras referentes às meninas no local e foi tomado como colega entre os estudantes. Claro, aquele era um grupo seleto e minoritário de grandes babacas, onde ele se encaixava com perfeição, então não era novidade ter sido aceito tão rapidamente.

Camila chegou até ele com lágrimas rolando pelas bochechas. Fez o que pôde para limpá-las com as barras de sua manga, e fungou algumas vezes a fim de esconder o choro preso. Para a sua sorte - ou mordomia - sua maquiagem era de linha cara e a base d'água, impossibilitando-a de soar como o Fred Grooger.

- Shawn - chamou, a voz um tantinho rouca. Sua chegada no círculo de homens tomou a atenção de todos, que antes riam de uma piada extremamente sexista.

- E aí, princesa! - O mais velho cumprimentou, erguendo sua garrafa de cerveja e trajando um sorrisinho de canto. - Galera, essa é Camila Cabello, minha futura esposinha - apresentou, a entoação de zombaria rastejando de seus lábios levemente alcoolizados. Tinha os olhos castanhos pequenos pelo efeito da bebida e muito cheio de malícia para cima da garota, que, com tanto na cabeça e só a vontade de ir-se, não notou nada de anormal no comportamento e fala do rapaz. Não é como se fosse fazê-lo mesmo se não estivesse naquele estado de inércia, mas, ao menos, seria capaz de desconfiar da mudança no tom de voz do garoto.

- Podemos ir embora? - Camila perguntou, ignorando por completo a apresentação feita e não percebendo os olhares maldosos sobre seu corpo, a forma como algums ali se cutucavam entre os braços uns dos outros para notarem o tamanho da sua comissão traseira. Se aquele grupo pudesse exalar algo, seria alerta.

- Ir embora? Ficou louca? - Shawn zombou, e riu ainda mais ao escutar algum daqueles caras chamar a menina de novinha maluca.

Camila se sentiu pequena, encolhida no meio de todos aqueles homens de porte atlético e risadas graves. Sentia que estava sendo alvo de algum tipo de chacota, mas não tinha realmente mente para aquilo, ou sequer queria se dar ao trabalho de tentar entender.

- Eu quero ir para casa, Mendes! - Bateu o pé, e nunca antes soou tanto como uma garotinha birrenta e mimada até aquele momento.

Tomando uma postura mais séria ao ter aquele enfrentamento, o caçula dos Mendes se desencostou de sua pose relaxada contra a parede e fitou a garota diante de si. Não estava satisfeito com aquele confronto, e pensava que talvez fosse bom que Camila soubesse com quem estava falando e como deveria falar. Obviamente, com tanto álcool lhe dominando, depois de virar três shots um atrás do outro interruptamente, não se lembrava mais das recomendações de sua mãe ou de manter seu "personagem" de bom moço.

- Nós iremos embora, quando eu determinar que iremos embora - falou pausadamente, ganhando cada vez mais altura sobre a latina, que se sentia oprimida e encurralada. Não gostou da forma como Shawn a olhava e não entendeu o motivo da mudança brusca. Só queria ir para casa, para seu quarto. Se ele quisesse voltar a festa não se importaria. Mas, se vieram juntos, a única forma de voltar era com ele. Ainda não sabia dirigir, e, se dependesse de sua mãe, jamais o faria, então não podia simplesmente pegar o carro e ir. Ligar para Rob também não era uma opção pois o motorista havia sido dispensado no início daquela tarde pelos patrões. Ela sabia que se ligasse, ele daria um jeito de ir buscá-la, no entanto, não queria incomodá-lo ou trazer preocupações com suas questões "bobas". Ligar para seus pais sequer era uma possibilidade. Seria mais fácil buscar por um motorista por aplicativo, mas, por nunca ter a necessidade de buscar por um, não tinha acesso a plataforma ou sequer fazia ideia de como requisitar uma corrida. Estava totalmente dependente de Shawn Mendes para ir embora.

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