capítulo 37

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Estamos andando pelo jardim e, pelo menos durante esses minutos, é como se todos os problemas finalmente estivessem resolvidos. Pela primeira vez em muito tempo, eu sinto paz.

- Me sinto na obrigação de avisar que meus conhecimentos de jardinagem são escassos.
- Tenho que confessar que não estou surpreso. – Nicholas admitiu quando paramos próximos a um canteiro de rosas.

- Mas isso me lembrou de uma outra curiosidade que tenho. Vossa alteza já pisou descalça nesse Jardim alguma vez na vida? - ele questionou em tom provocativo.

- Claro que sim! – foi minha resposta instintiva, mas, sinceramente, não me lembro quando foi a última vez e sei que meu olhar nostálgico revela o quanto sinto falta disso.

Nicholas indica com um gesto o banco que se encontra ali perto. Demoro a compreender que ele está pedindo que eu me sente. Quando o faço, ele lança um olhar atravessado para meus pés.

Desamarro lentamente as sandálias, refletindo se devo ou não continuar com isso.

Porém, é tarde demais para voltar atrás e recuperar a compostura.

Quando meus pés finalmente tocam a grama verde e macia, Nicholas me estende a mão, é um convite para que eu abandone as ressalvas que me restam.

***

Descobri que, desde que chegou aqui, Nicholas passa muitas horas no jardim. Com isso, em um piscar de olhos, ele consegue encontrar todos os itens que precisamos. Como um professor paciente, ele me ajuda a cavar um buraco com a profundidade ideal e mostra a maneira correta de retirar a plantinha do vaso, de modo que ela sinta o mínimo possível a mudança. 

A tarefa parece concluída, mas eu não quero que termine ainda. Por isso, continuo afofando a terra com as mãos, sinto o olhar de Nicholas sobre mim e, de alguma forma, sei que ele está sorrindo. 

- Eu não fazia ideia de que remexer a terra assim podia ser tão prazeroso.

- E eu não imaginava que você podia gostar tanto de fazer isso.

Estava prestes a responder quando senti algumas gotas geladas despencando sobre todo meu corpo.

- Mas o que...

- Eu não acredito! Caramba! Esqueci que já era hora de aguar as plantas! Vem!

Nicholas estende a mão para me ajudar a levantar e quando estamos prestes a correr para longe da saída de água, uma ideia me ocorre. É só o sistema de irrigação, afinal de contas! 

- Espera!

Ele me encara apavorado.

- Você tem medo de água fria Cooper?

- Hein?! - Um ar de divertimento tinge sua expressão assustada quando ele compreende o que quero dizer.

Ao invés de correr para longe, nos aproximamos de uma saída de água. Essa área do jardim possui plantas altas, então os aspensores são potentes e lançam um volume grande de água a uma altura considerável. 

Enquanto Nicholas me conduz em uma espécie de dança bastante desordenada.

- É como rodopiar na chuva! - exclamo ao fechar os olhos.

Isso é refrescante e libertador de uma maneira que eu nunca experimentei antes, mas já imaginei uma cena semelhante a essa milhares de vezes. Uma das minhas partes favoritas na história dos meus avós é o beijo na chuva e... 

Abro os olhos em um sobressalto.

Eu daria tudo para que Nicholas me beijasse agora.

Não percebi que havia parado até que ele também parou e abriu os próprios olhos. Apenas alguns centímetros nos separam.

As íris castanhas parecem hesitantes quando ele pergunta:

- Você também... Está sentindo isso? - Ele engole em seco.

Embora Nicholas não tenha explicado, eu sei exatamente sobre o que ele está falando. Porém, não consigo emitir qualquer resposta, apenas assinto em um gesto lento, mas convicto. A pouca distância que há entre nós evapora como a água ao atingir seu ponto de ebulição e os lábios de Nicholas tocam os meus em uma mistura deliciosa de carinho e urgência.

As gotas frias continuam batendo em meu rosto, um afago refrescante na pele que parece queimar.

Um conjunto de “Cliques” e luzes fortes o suficiente para serem percebidas mesmo com os olhos fechados nos arranca do transe.

Ambos com os olhos arregalados, encaramos um ao outro e depois olhamos em volta. Um homem com uma câmera pendurada ao pescoço dá um sorriso desconcertado e pede desculpas, alega que não queria interromper, só estava em busca de um close perfeito.

Sinto-me zonza, prestes a cair agora que os braços de Nicholas não estão me amparando. Queria que o castelo tivesse uma masmorra fria e insalubre onde esse jornalista pudesse ficar preso para sempre, mas isso não consertaria o estrago que já foi feito.

Nicholas se colocou a uma distância considerável, fugindo do meu olhar até que dou um passo em sua direção. Ele se afasta ainda mais e ergue o rosto, há lágrimas em seus olhos.

- Você não cansa nunca desse mundo de faz de conta?!

Sua voz não passa de um sussurro, mas é um golpe certeiro em minha alma.

"Eu estou exausta." Quero gritar, porém minha garganta se fecha quando finalmente compreendo a raiz da dor que me atravessa.

Eu amo Nicholas Cooper.

E agora ele me odeia.

Simples assim.

Permaneço paralisada, em silêncio. Então uma lágrima escapa dos olhos dele e isso é demais para mim. Viro as costas para Nicholas e corro. Não sei porque ele está chorando, mas não posso continuar ali para descobrir. Preciso entender os sentimentos que explodem como fogos de artifício dentro do meu peito.


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⏰ Última atualização: Dec 11, 2023 ⏰

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