Capítulo 33

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Nota da autora:
Olá, pessoinhas incríveis que ainda têm esperança de ver essa história concluída!
Peço desculpas pelo sumiço e espero não decepcioná-los (mais).
Agora vamos ao que interessa?! (Não se esqueçam de me contar o que estão achando 😘♥️)

***

Saio do escritório trêmula, tudo à minha volta parece girar numa velocidade absurda. Após descer alguns degraus, amparando-me nas paredes, percebo que não faço a menor ideia de para onde devo ir. A solidão que aguarda em meu quarto soa como uma possibilidade demasiadamente assustadora. Parada ao pé de uma das escadarias, cerro os olhos, em uma tentativa falha de organizar meus pensamentos.

"Houve um incêndio no orfanato."

(...)

"Um incêndio criminoso, que causou a morte de duas crianças."

(...)

"O fogo teve início no prédio que sedia o parlamento, porém os edifícios são vizinhos e, como vocês sabem, ambos posuiam instalações antigas. Assim as chamas se alastraram rápido demais..."

As falas dos guardas que trouxeram a notícia ainda ressoam em minha mente, como marteladas capazes de despedaçar qualquer ideia coerente que eu busque desenvolver.

Gostaria de ir até Luna, desabafar todo meu desespero e ouví-la dizer que tudo ficará bem. Mas dessa vez a situação é diferente de qualquer coisa que já vivenciamos. Além disso, o orfanato foi o lugar onde ela passou praticamente toda sua vida. Cada pessoa, cada mero objeto ou até mesmo as paredes rabiscadas significavam um mundo inteiro para ela e, definitivamente, eu não estou em condições de consolar alguém.

O ambiente ao meu redor, indica que estou no corredor dos selecionados. Mais especificamente, uma estranha combinação entre impulso e destino me levou a caminhar até a porta do quarto de Nicholas.

Após duas batidas compassadas, baixei a mão que se mantinha fechada em punho.

"Abre. Abre por favor. Preciso de um abraço... do seu abraço..."

A sentença que finaliza minhas súplicas faz os soluços cessarem por alguns instantes. A surpresa gerada pela revelação feita pelo meu inconsciente me deixou inerte,mas acordei do transe assim que a porta à minha frente foi aberta.

- Kerttu?! - o olhar de Nicholas transborda dúvidas e interrogações.

- Por favor, não pergunte nada agora. Apenas me esconda do resto do mundo. - supliquei com a voz embargada.

Diante do meu estranho pedido, Nicholas permanece estático, apenas me encarando, tentando compreender o que está acontecendo. Após longos segundos de tortura, ele finalmente me envolve num abraço, compreendendo que isso é o que eu mais preciso.

***

Ele afasta os braços do meu corpo apenas pelo tempo necessário para me conduzir ao interior do quarto.

Assim que Nicholas fecha a porta atrás de nós, recosto a cabeça em seu peito.

Detesto mostrar-me tão frágil, mas, apenas dessa vez, permito que todas as minhas armaduras se desfaçam. Choro até meu peito arder e não importa quanto ar eu inspire, meus pulmões nunca se saciam.

Quando percebo que as lágrimas derramadas, são incapazes de exteriorizar a dor que impera em meu coração, elas se intensificam ainda mais.

Nicholas percebe que precisava agir de alguma forma. Se movendo com cautela, ele pousa as mãos sobre meus ombros e mira meus olhos.

- Kerttu! Independente do que tenha acontecido, você precisa se acalmar!

Ele tenta usar um tom autoritário, porém sua voz está carregada de preocupação. Isso, e principalmente a certeza de que seus olhos doces estão sobre mim, esperando que eu consiga reagir, fazem com que o desespero que transparece em meu choro seja minimamente amenizado.

Contudo, ainda respiro em um ritmo muito acelerado quando ele me toma nos braços e me coloca sentada sobre sua cama.

Após confirmar que estou bem acomodada, ele volta-se para a mesinha de cabeceira, onde se encontra um jarro de água. Em movimentos rápidos, Nicholas apanha um copo, preenche seu interior com o líquido transparente e o estende para mim.

- O ideal seria colocar uma generosa porção de açúcar também, mas como está em falta.

- ergueu e abaixou os ombros em um movimento que indicava "fazer o quê, né?! É o que temos..."

Algo naquele gesto faz com que o prelúdio de um sorriso se desenhe em meu rosto, mesmo em meio a todo o caos que domina minha mente.

Seguro o copo e tomo num único gole todo o conteúdo refrescante, respiro fundo algumas vezes e sinto a vida voltar para minhas artérias.

"Okay, já surtei demais!" - Afirmo a mim mesma.

- Você merece uma explicação. - Declaro com a voz mais firme que posso encontrar em mim, dadas as circunstâncias.

Nicholas está parado à minha frente, sua expressão é de... derrota?! Enquanto analiso seu semblante, acabo por constatar que ele está sem camisa.

"Como eu pude ignorar esse fato por tanto tempo?!"

À medida que o questionamento toma forma em minha mente, posso sentir um ardor se espalhar por minhas bochechas, indo até as minhas orelhas. Eu estou corada?! Isso não é muito comum.

- E qual é a explicação para você estar desse jeito? - O vinco em sua testa é um sinal claro da preocupação que ressoa em sua voz.

- Os rebeldes incendiaram o prédio do parlamento e... o fogo atingiu o orfanato coordenado pelo tio Aspen e pela tia Lucy. Duas crianças não resistiram... - despejo a verdade de uma vez.

Fecho os olhos e, mais uma vez, minha imaginação pinta as cenas de puro horror que marcaram essa noite. Tento prosseguir com meu breve relato, mas não tenho forças.  Nicholas me abraça novamente e tenho a impressão de que ele tenta abafar o próprio choro, esconder as próprias lágrimas.

Algum tempo depois ele se afasta apenas o suficiente para conseguir encontrar meus olhos.

- Você se sente culpada? - questiona com as sobrancelhas erguidas.

Diante do meu silêncio ele retoma a fala:

- Você não tem culpa nenhuma. Nada disso estava sobre o seu controle, você não pode assumir um peso como esse.

- Eu sei mas... É impossível não pensar que isso podia ter sido evitado se tivéssemos sido mais ágeis na resolução dos problemas ou... se tivéssemos de fato renunciado. - minha última sentença sai como um fio de voz, pois trata-se de algo que eu nem sequer me autorizava a pensar.

- Hei! Não diga isso! Eu tenho certeza que vocês estão fazendo tudo que podem... Enfim, a única coisa que eu sei é que a culpa, definitivamente, não é sua.

A certeza que permeia seu olhar é mais do que uma garantia de que ele não está mentindo.

É somente nesse momento que percebo a razão que me guiou até aqui: eu precisava ler essa verdade nos olhos de alguém que jamais mentiria para me agradar.

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