Capítulo 12

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O amor é puro, inocente, real, intenso; exatamente como narram os romances mais apaixonantes. É assim que as pessoas sempre pensam. Até que entregam seus corações nas mãos erradas.

Daí em diante torna-se difícil confiar novamente em alguém. Quando nossa alma é machucada a dor que nos toma suprime toda beleza desse tal amor, que para mim é um "sujeito" bastante enigmático. Ao mesmo tempo que somos levados as nuvens vamos parar abaixo do fundo do poço. Uma queda tão profunda e repentina deixa feridas que nos marcam para sempre.

Acredito que essa seja a justificativa para minha total apatia durante as últimas vinte e quatro horas.

Não que tenha sido um tédio completo.

Pelo contrário. As apresentações de talentos foram bastante criativas.

Andrew tocou, de forma encantadora, uma música clássica com notas suaves emitidas por seu violão.

Seria impossível ficar entediada.

Talvez isso não fosse exatamente verdade se tomasse por referência  o início da apresentação de Christian, ele demonstrou que sabe fazer várias "manobras" de futebol e infinitas embaixadinhas seguidas.  Porém conseguiu um sorriso meu quando recitou um poema de autoria própria. Seus versos não pareciam se referir a mim, pois mencionavam  encontros roubados com uma tal "dama da biblioteca" e nós não tínhamos vivido nada parecido até o momento.

Frederich Scoot foi quem mais me surpreendeu, havia tido a impressão que tratava-se de um garoto tímido, extremamente focado em seu trabalho como professor.

Contudo mostrou hoje que possui bastante talento para ventríloquo. Uma vez que apresentou uma cativante e divertida releitura de romeu e Julieta, manipulando de forma perfeita as marionetes  improvisadas  que conseguiu aqui no castelo.

Enquanto lanchavámos foi possível conversar um pouco com cada um deles. Desse modo os conheci um pouco mais.

Houve ainda o encontro com Philipe, sem dúvidas ele é um rapaz encantador. Resolvi que queria assistir um show de mágicas presidido por ele, como forma de facilitar nossa interação . Só não imaginava que ele podia, além de tirar coelhos da cartola, fazer um verdadeiro espetáculo como "cuspidor de fogo". Foi algo fascinante para se ver. E no fim de tudo ele arrancou uma rosa do bolso esquerdo do terno, como se ela fosse tirada de seu próprio coração.

É  a segunda vez que ele me presenteia com uma rosa vermelha. Acredito que em sua província essa é uma técnica infalível de conquista.

Analisando tudo isso, percebo que a apatia que sinto é unicamente  consequência da barreira  que construí ao redor do meu coração. É inegável que todos esses garotos são um tanto apaixonantes. Sabem cortejar e agradar uma garota.

Porém, de qualquer forma, apenas um deles será escolhido. O fato de eu não sentir nada além de admiração quando os vejo se esforçando para conquistar a vitória por um prêmio, que na realidade não será entregue à  vencedor algum, não devia me afetar tanto.

*************

- Uma vítima fatal? Vinte e três feridos?- Repito em voz alta os números que chegaram até nós - Como isso foi acontecer?! Uma pessoa morreu! Onde estavam os guardas nessa hora?

-Alteza, o homem que morreu era um deles. Ele possuia o corvo tatuado nas costas. Acreditamos que estava entre os líderes e quando perceberam que o havíamos capturado atiraram, para evitar que ele revelasse algo que nos favorecesse.

-Estão vendo?- Digo virando-me para meus pais, ignorando toda a tese proposta pelo guarda que nos trouxe as informações. - Permitir que essa manifestação ocorresse bem debaixo do nosso nariz foi um erro tremendo.

-Você ouviu a parte em que temos quarenta e sete presos, dentre os quais dezoito possuem o corvo tatuado nas costas?

-Isso significa que há 29 inocentes trancados na masmorra. -Falo desejando ter nas mãos as chaves das celas que os privam da liberdade.

-Kerttu! Vamos interrogar e investigar todos eles, se forem mesmo inocentes serão liberados antes do anoitecer. Você não percebeu ainda que descobrimos algo importante? A grande maioria dos rebeldes desenhou no próprio corpo o símbolo da sua revolução. Assim será  mais fácil identificá-los.

-Vamos ordenar que os guardas examinem as costas de toda a população? Acham mesmo que continuarão com esse hábito agora que, provavelmente, notaram que descobrimos?

-Minha filha, trata-se de uma verdadeira facção, cuja marca de quem adentra ao grupo é a tatuagem do corvo negro, os fundadores de tudo isso não podem retirá-la mesmo agora que sabemos. Já os novatos acredito que ainda conseguiremos  recuperá-los se nos abrirmos ao diálogo .

Preciso controlar minhas emoções.

Ao final percebo que minha mãe está certa. Uma tatuagem não pode ser removida facilmente. Antes não tínhamos nenhuma forma de identificar quem eram os rebeldes; essa descoberta foi um grande progresso.

- Devemos começar ouvindo os prisioneiros, tentando compreender o que exatamente os levou a participar da tal manifestação.

Mamãe apenas assente, permanecendo com os olhos fixos nos relatórios que chegaram informando sobre o número e o estado dos feridos.

Nenhum de nós esperava que houvesse um conflito. Enviamos alguns guardas as ruas, vestidos como cidadãos normais, assim que o bilhete espalhado na última madrugada chegou em nossas mãos:

"A você: que também luta por igualdade,

Temos hoje um convite para aqueles que, assim como nós, estão cansados de assistir uma minoria de privilegiados aproveitando as coisas boas da vida, enquanto dão o próprio sangue para comprar um pedaço de pão.

Convidamos a você, que anseia por justiça, a dirigir-se para a praça  central de sua província. Uniremos nossas forças na próxima vez que o sol atingir o alto do céu.

Formaremos um exército que almeja conquistar a igualdade, provando que nossa voz não será calada enquanto nossos objetivos não forem alcançados.

Juntos teremos um grito forte e poderoso. Não é preciso temer, nossa causa é nobre, não poderão nos castigar por clamarmos justiça!"

Deduzimos pelo texto que a manifestação ocorreria ao meio dia e acertamos. Nessa hora recebemos telefonemas desesperados vindos das sedes de governo de todas as províncias. Havia mais manifestantes do que podíamos imaginar.

Para piorar um dos guardas enviado a praça de Angeles foi reconhecido, precisando da ajuda dos demais. Em meio a essa confusão um senhor mascarado que falava alto sobre derrubar a monarquia foi pego por um soldado. Quando estava prestes a revelar um dos locais em que o grupo se reúne recebeu um tiro certeiro nas costas.

Medo, horror, pânico, incerteza; esses são os sentimentos que definem o país atualmente. Todos que sairam às ruas hoje sentem que suas vidas correm perigo.

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