Prólogo

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  Aquela viagem era tudo que eu precisava para me desconectar das dezenas de problemas que eclodiam de todos os lados em Illéa.

A França era o lugar perfeito, aquela atmosfera de puro romance que Paris, a cidade luz, apresentava era mesmo capaz de iluminar qualquer alma preocupada. 
  
   Para melhorar ainda mais, o baile daquela noite estava simplesmente fantástico.
 
    O aniversário de 15 anos da princesa Kheterinne esatava digno de inspirar um conto de fadas. Tio Ahren havia caprichado muito.
 
   Eu estava ali com meus avós representando Illéa e visitando aquela parte tão querida de nossa família, que estava a um oceano de distância.
  
    Com um vestido branco e bem rodado que contrastava com meu cabelo escuro e valorizava meus olhos azuis, fortemente marcados por uma combinação maravilhosa entre rimel, sombra e delineador, eu descia devagar a escadaria do salão. Observa-lo brilhando todo decorado lá embaixo e estar diante da  alegria embriagante que transbordava das pessoas era muito prazeroso.

  Quando finalmente adentrei a festa meus olhos rapidamente começaram a procurar por Derick. Mas o Príncipe da Noruecia parecia ter simplesmente evaporado.Percebi que meu primo Jean também não estava em lugar algum.
 
  Não ficaria estranho perguntar a rainha Camille onde eles podiam estar, certo?

   Foi o que fiz, tentando parecer o mais casual e desinteressada possível. Sem nenhuma cerimônia ela me disse, com seu sotaque francês acentuado, que os tinha visto seguindo para a biblioteca e que eu devia buscá-los depressa pois a pista de dança estaria liberada daqui a pouco.
 
  Eu gostava do jeito dela. Era impecavelmente formal, mas sabia levar a vida de um jeito leve, sempre  aproveitando as coisas boas.
  
   Fui andando até a biblioteca e pensando sobre isso até estar bastante próxima da porta entreaberta. Ainda não podia ser vista, mas Derick e Jean provavelmente já tinham bebido um pouco além da conta pois eu podia ouvi-los rindo alto e suas palavras eram muito claras mesmo que eu não tivesse sequer imaginado escuta-las.

    _ Você acha mesmo que já tem ela assim?caidinha de amores?-era a voz do Jean e eu senti uma curiosidade imensa para saber do que falavam.

  _ Pensou que a aposta duraria mais tempo, né?-agora era Derick quem falava.

Que negócio era esse de aposta?!
 
Eu já estava muito perto da porta,com a mão na maçaneta para empurra-la um pouco mais e poder entrar,  contudo parei estática ali ao ouvir o Príncipe da Noruecia baixar seu tom de voz e completar:

  _ Depois do beijo de ontem será fácil terminar a noite acompanhado.Você amigo já está me devendo metade da adega de vinhos do Palácio! Não quero nem imaginar os meios sujos que você usará para surrupia-los sem que ninguém perceba.

  _ Não venha cantar vitória antes do tempo Derick! EU ainda não ouvi minha prima lhe dizendo as palavras mágicas:"oh!!eu te amo Derick!"-Jean disse em uma péssima imitação feminina.

 Senti minhas pernas fraquejarem. lágrimas inesperadas rolaram  por meu rosto. Uma raiva gigantesca tomou conta de mim.Eu realmente quis matá-los naquele momento.Eles falavam de mim!

  Tinham apostado meras garrafas de vinho pelo meu coração?Era apenas isso que eu significava?o prêmio de uma aposta entre dois babacas?a fonte de diversão para uma dupla de idiotas?apenas um brinquedo nas mãos deles?

Meu cérebro já não assimilava mais o que eles estavam dizendo.Eu sentia verdadeiro ódio deles mas também de mim mesma.Como pude acreditar nele?

Queria entrar na biblioteca gritando todos os insultos que eles mereciam. Porém lembrei-me a tempo que eu não podia me humilhar daquele jeito.

  Então eu simplesmente corri o mais rápido que conseguia, sem que nenhum convidado fosse atropelado, até chegar  ao meu quarto e cruzar a porta fechando-a violentamente. Ali eu enfim estava livre para desabar.

  Apoiei as costas na porta, sentei-me no chão frio, abracei meus joelhos e chorei tudo o que podia ser chorado. Talvez se eu não cultivasse a tantos anos essa ilusão de que Derick seria o meu príncipe consorte; fosse doer menos descobrir quem ele realmente é .

Meu coração estava aos cacos. Eu só pensava que a partir daquela noite ele estaria para sempre envolto  em uma muralha. Nunca mais eu irei permitir que alguém o machuque de novo dessa forma!

Após tomar essa decisão eu finalmente ergui os olhos, contudo me arrependi no mesmo instante. Deparei-me com a câmera fotográfica que havia me acompanhado pelo piquenique maravilhoso da tarde anterior. Aprendi com vovô Maxon o quão belo e importante é eternizar cada momento. Naquela pequena máquina fotográfica estavam registrados cada um dos detalhes marcantes da hipócrita felicidade que Derick me proporcionou.

  Levatei-me na intenção de jogá-la contra a parede e vê-la tão destruída quanto meu coração. Contudo meu ânimo rapidamente desapareceu e minhas forças só foram suficientes para jogar a mim mesma sobre a cama.

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  Na manhã seguinte eu queria simplesmente sumir. Pensei em avisar que não desceria para o café porque estava indisposta mas parei para refletir e percebi que de nada adiantaria ficar me autodepreciando.

  Assim que as criadas entraram eu pedi que fizessem o melhor para cobrir o estrago feito pelas lágrimas somadas a maquiagem borrada. Elas eram muito eficientes e fizeram um verdadeiro milagre!

  Quando adentrei a sala de jantar a primeira coisa que vi foi a dupla de cafajestes. Tive que exercitar todo meu auto-controle para não atirar uma tortinha de chocolate na cara de pau dos dois. Confesso que o aspecto delicioso da guloseima contribuiu muito para que eu mantesse a postura; se eu tivesse uma xícara de café fervente em mãos não teria resistido a tentação.

  Vó América me fez deixar os devaneios de lado ao perguntar se eu estava melhor. Só ai recordei-me de que, quando fugi para meu quarto, trombei com um mordomo e lhe pedi que avisasse a meus avós sobre uma enxaqueca terrível, suposta responsável pela minha saída repentina na noite anterior.
 
  Eu assenti e ela sorriu um pouco preocupada, porém  não falou mais nada.

  Partiríamos logo depois do café, ou seja, bastava ouvir algumas histórias da noite anterior e fingir que estava comendo até aqueles longos minutos de tortura se esgotassem.

  Notei Derick tentando falar comigo diversas vezes. Mas estava empenhada a fugir dele como vampiros fogem das réstias de alho.
Tanto que nem ao menos nos despedimos. Provavelmente ele pensou que eu estava agindo como louca. Mas ignorá-lo era, por hora, a única forma saudável de vingança disponível.
    
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