Abri a porta do escritório com cautela, mas não adiantou muito. Senti imediatamente o peso do olhar de cada um dos ministros pousado sobre minhas costas. Não pude conter minha surpresa ao notar que absolutamente todos eles estavam presentes.
- Com licença, peço desculpas pelo atraso. - disse com os olhos fixos em papai, pois tanto para mim quanto para minha mãe ele sempre representa a calmaria em meio aos furacões.
- Você chegou bem a tempo, querida. - foi o que sua voz serena declarou. - Agora, por favor, sente-se junto a nós.
Apenas obedeci.
Após um pigarro bastante indiscreto o primeiro ministro deu início à reunião:
- Nossa pauta de hoje será breve, mas ainda assim de suma importância. - uma pausa que aumenta ainda mais minha curiosidade - Todos sabemos a situação crítica que nosso país tem vivenciado, embora pareça que finalmente estamos encontrando uma luz no fim do túnel. Entretanto, é uma opinião unânime que a Seleção, escolhida como nossa "proposta de contra ataque", - ele sinaliza aspas com as mãos - não tem surtido o efeito que esperávamos.
Essa é realmente a pauta do dia?! Meus olhos deviam estampar minha incredulidade quando mirei papai novamente. Esperava que ele sorrisse enquanto a mentira era esclarecida, mas isso não aconteceu, meu pai simplesmente colocou o indicador em frente aos lábios por uma pequena fração de segundos e eu compreendi que devia escutar em silêncio as palavras do homem que detinha a fala.
- Você precisa colocar emoção de verdade nisso! Aliás, considerando que esses rapazes já estão aqui há praticamente dois meses, o ideal é que você não prolongue por muito tempo mais essa Seleção e faça sua escolha o quanto antes!
Quando ele finalmente se calou, ainda tinha esperanças que tudo não passava de uma piada de péssimo gosto para descontrairmos um pouco antes que a reunião fosse, de fato iniciada.
- Gostaria de lembrá-los, senhores, que a Seleção não tem nenhuma relação ou obrigação direta com os problemas ocorridos em nosso reino, trata-se apenas de uma forma de agradar e entreter o povo enquanto procuramos por uma solução concreta. - a fala de minha mãe provavelmente é uma tentativa de amenizar a responsabilidade que os ministros acabam de colocar sobre meus ombros, porém suas palavras me lembram do fato de que, nos últimos dias, minha vida não passa de uma comédia dramática de baixa qualidade.
Enquanto procurava assimilar os absurdos que ouvia, a reunião foi encerrada e, para evitar que palavras inadequadas escapassem, achei melhor não dizer nada além das despedidas convencionais.
***
Antes que meus pais me convidassem a permanecer no escritório para as devidas explicações, consegui atravessar a porta. Já ouvi o suficiente, preciso me refugiar ao menos por alguns minutos, caso contrário corro um sério risco de perder minha sanidade.
À medida que caminho até o quarto, não posso deixar de pensar que, definitivamente, é o fim dos tempos!
O grupo de senhores ilustres que ocupa as cadeiras ministeriais do reino quer mesmo comandar a seleção, mais especificamente, a minha seleção? O que eles estão pensando?
O fato de eu ser a herdeira do trono e, consequentemente, depender do apoio deles para manter o país nos trilhos não significa que tenham o direito de se intrometer na minha vida pessoal dessa forma.
Meus passos firmes evidenciavam o quão furiosa eu estava furiosa e, por isso, assim que entrei, Luna surgiu por detrás da porta do closet de vestidos, com uma fita métrica sobre os ombros e um porta agulhas no pulso esquerdo.
- O que foi que aconteceu?! - indagou com as sobrancelhas erguidas.
Assim que expus o que acabara de ocorrer, senti que a raiva aumentava um pouco mais, afinal desde o princípio eu avisei que a Seleção seria uma péssima ideia.
- Eles perderam todo o bom senso! Não é possível que estejam te pressionando desse jeito!
apenas dei de ombros antes de jogar as costas sobre o colchão macio.
- O pior foi que eu sequer pude respondê-los.
- Foi melhor desse jeito, não seria nada bom se indispor com os ministros. Mas... Kerttu, você não permitir que as coisas que eles falaram hoje influenciem em qualquer decisão sobre os rapazes. Cada uma das escolhas é apenas sua e deve ser feita no seu tempo! Eu sei que, ás vezes, insisto demais para que você interaja mais com eles, entretanto não quero ser invasiva, não poderia ser. Como sua amiga eu tenho o dever de te lembrar que só você pode definir qual o momento ideal para revelar quem fará parte da Elite ou qual será sua escolha final. Eu confio na sua sensatez para decidir cada coisa quando seu coração acreditar que for a hora certa.
- Meu Deus, Luna... Muito obrigada, de verdade, você é demais! - disse me virando para ela com um sorriso que se alargava na mesma proporção que a confusão tomava o rosto de Luna, ela não compreendia o motivo da minha animação repentina, não percebeu que havia me dado uma ótima ideia.
Contudo, por enquanto, é melhor não falar nada sobre a luz que acaba de se acender em minha mente. cheguei a essa conclusão no mesmo instante em que reparei o tecido verde mar nas mãos de Luna, sentada na poltrona mais próxima da cama ela não havia deixado a costura nem mesmo quando olhava para mim, seus dedos treinados já sabiam o caminho a ser percorrido, entretanto não era comum que ela usasse meu quarto como local para usufruir de sua criatividade.
- Por que está fazendo isso aqui? - questionei não apenas com o intuito de mudar o rumo da conversa, mas sim com uma real.
- O quarto de costura anda movimentado demais ultimamente, a todo minuto um dos mordomos entra apressado em busca de botões e outros artigos necessário para reparar os ternos dos garotos.
- Até você já se cansou da Seleção?
- Claro que não! mas não posso negar que sinto falta da paz que imperava no quarto de costura até pouco tempo atrás...
- Entendo, estou literalmente, morrendo de saudades da paz que existia em minha vida há alguns meses.
- Hey, tudo vai melhorar em breve! Agora levanta dessa cama, e vem se aprontar para o jantar.
Sem muitas opções, forcei um sorriso e me dirigi a penteadeira, pois realmente faltava pouco para a hora do jantar.
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O Novo Príncipe
FanfictionA Seleção representa uma forma inesperada (e desesperada) para lidar com um dos problemas mais sérios que o reino de Illéa já vivenciou. Kerttu Koskinen Schreave se vê obrigada a receber trinta e cinco rapazes no Castelo; concedendo ao povo a sonha...