Capítulo 16

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"Será que Illéa já tem um Novo Príncipe?"

Essa é a questão que intitula a manchete. Estive paralisada no mínimo durante os últimos  30 segundos e só voltei a mim quando mamãe começou a falar:

-Eu poderia jurar que você havia planejado essa foto, no entanto sua reação está me provando que você não esperava por isso.

-Definitivamente não! - Minha voz soa firme e um pouco alterada pela raiva. Sei que devo estar pálida como os lençóis da cama e no fundo da alma guardo a esperança de que essa manhã ainda não  "começou", trata-se somente de um pesadelo.

-Então preciso que diga-me com sinceridade, esse rapaz está mesmo conquistando seu coração?

Ela questiona com as sobrancelhas erguidas e com um sorriso de lado,  bastante sugestivo.

-Mãe! Foi apenas um beijo! Nem devia ter acontecido, mas... - Me calo, não há  uma explicação lógica para o fato registrado naquela imagem.

-Ei, se acalme por favor. É normal que coisas desse tipo aconteçam, mas você terá que saber como lidar com as perguntas e as bilhões de hipóteses formuladas pela imprensa. Além de tudo, não quero que você  se envolva demais com alguém que ainda não conhece suficientemente bem e acabe se machucando.

-Garanto que isso não vai ocorrer!

-Sua convicção quase é capaz de me tranquilizar por completo.- Ela diz, enquanto senta na cama e aproxima-se de mim puxando-me para um abraço.

Estava precisando de um pouco de colo, e não fazia ideia do quanto. Permanecemos em silêncio por alguns minutos, então nos afastamos e ela me encara com um semblante sorridente.

-Nicholas Cooper é o garoto que salvou Isaac no primeiro dia não é mesmo?

-Exatamente. - Digo e também começo a sorrir ao recordar de sua atitude tão nobre.

-Talvez isso conte alguns pontos a seu favor. - Ela pisca para mim e se levanta- Vá tomar o café da manhã normalmente, como se essa manchete nunca tivesse existido.

Balanço a cabeça assentindo e ela fecha a porta atrás de si.

Em seguida uma camareira adentra ao quarto. Elizabeth é uma jovem que trabalha no castelo há pouco mais de dois meses. Após nos cumprimentarmos não resisto a lhe fazer uma pergunta. Contudo, tento escolher as palavras para que ela não pense que estou desmerecendo sua presença ali.

-Luna está bem?

-Sim, mas pelo que pude entender ela foi designada para outras obrigações essa manhã.

-Ah, sim.- minha resposta soa leve e natural, porém sinto que algo muito estranho está acontecendo, afinal Luna é oficialmente minha dama de companhia, não iriam simplesmente designá-la para outros afazeres.

Eliza ajuda-me com o cabelo, o vestido e a maquiagem. Essa última bastante necessária para consertar o estrago de mais uma noite mal dormida.

Assumo a melhor postura de autoconfiança que posso antes de encarar a sala de café da manhã. A enchente de olhares curiosos que se dirige para mim consegue ser ainda mais  desconfortável do que nos dias anteriores. Contudo mantenho-me firme e minha voz demonstra isso quando cumprimento a todos.

Enquanto espalho um pouco de geleia em uma fatia de pão de forma corro os olhos entre os selecionados. Se eu não tivesse certeza que todos os borburinhos na mesa deles envolvem o episódio da foto, diria que tudo transcorre na mais perfeita normalidade. Até meus olhos resolverem me trair, ao mergulhar inconscientemente na imensidão cor de mel que se volta para mim. Desvio o olhar assim que me dou conta de que aqueles são os olhos de Nicholas.

E...Céus!

Eu espero que Eliza tenha usado muita maquiagem, pois sinto que minhas bochechas ruborizaram. Coisas desse tipo só acontecem quando estou demasiadamente constrangida. Como eu desejo que esse café da manhã termine logo!

- Kerttu! - Isaac chama quando menos espero e acabo derrubando o restante do café que havia em minha xícara. - Você não costuma ser tão desastrada.

-Pare de rir porque a culpa foi exclusivamente sua. - Respondo a provocação dele em tom igualmente brincalhão enquanto uso o guardanapo para amenizar o estrago.

- Parem os dois. - Mamãe fale usando uma sonoridade que provavelmente não foi ouvida na mesa dos garotos.

- Queria chamar a minha irmã para um jogo de paintball. Seria divertido jogar com todos eles. - Isaac sinaliza na direção dos rapazes - Podemos? - Ele então direciona para nossos pais o clássico olhar de criança inocente.

- Se Kerttu concordar, é uma boa ideia para... para que o povo não dê tanta importância a certos fatos isolados. - Foi a resposta de meu pai e meu rosto queima por vergonha, novamente, pois sei exatamente a que ele se refere.

- Não vejo muitas vantagens nisso, mas também penso que não há problemas.- É a resposta de minha mãe.

- Combinado! Será ainda nessa tarde.

Definitivamente eu não estou em clima de relaxar. Porém estou precisando disso, será bom inclusive para extravasar um pouco do estresse dos últimos dias.

***********

- Como já foi avisado, convoquei todos vocês aqui para disputarmos uma partida de paintball. Teremos dois times, cujos dez membros de cada um serão escolhidos por sorteio. Digamos que por aqui, como já devem ter percebido, a sorte estará muito presente em suas vidas. Resta a vocês descobrirem se ela será sua aliada ou sua inimiga.

Então dirijo aos garotos um olhar provocativo e indico a Isaac que já pode começar o sorteio.

- Jerry Wistedon. - Meu irmão anuncia o nome do primeiro componente do time azul.

- Enzo Mackenzie. - Chamo o primeiro integrante do time vermelho.

Ao final restam dois nomes na caixa verde de papel cartão apoiada em uma mesinha branca do jardim. Ruan Parish e Nicholas Cooper.

-Ruan. - Isaac chama com sua empolgação típica.

-Nicholas. -Leio o último papel e ele se junta ao time, tento manter minha voz o mais natural possível e me nego a acreditar que as batidas aceleradas do meu coração estão sendo provocadas pela trágica lembrança daquele beijo  .

Talvez eu deva reconsiderar, não foi tão trágico, apenas... constrangedor.

-Kerttu?! Terra chamando! Podemos vestir os uniformes e pegar as armas agora?

-Sim, leve os rapazes Zack. - Espero que eles ignorem esse pequeno momento de distração.

Todos preparados, onze de um lado, onze do outro, armas empunhadas, roupas no estilo militar. Esse é um jogo bem divertido mas confesso que nunca o pratiquei dessa forma, com tantos competidores. Será uma experiência no mínimo interessante  e até desafiadora, uma forma de me desligar um pouco da nuvem de problemas que ronda o Palácio e da avalanche de sentimentos confusos que atinge meu coração.

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