O jogo começou. Bolas de tinta colorem todo o ambiente, mescladas ao riso alto e despreocupado dos garotos que se divertem enquanto procuram pela bandeira do time adversário. Considero que essa é a modalidade mais interessante para se jogar paintball.
Minha missão é "ficar de guarda" e uma armadilha do destino colocou Nicholas como meu parceiro nessa função. Porém até o momento não trocamos sequer um olhar. Talvez ele também esteja demasiadamente constrangido, embora sua postura rígida pareça esconder algo a mais. Queria muito desvendar os mistérios que existem em cada gesto simples desse garoto.
Sua sagacidade para atigir Alan quando ele se aproxima, perigosamente, do esconderijo da nossa bandeira chega a ser impressionante. Observo ainda que Phelipe é rabdamente impedido de avançar na direção em que prosseguia, sendo bombardeado por uma tespestade colorida, ministrada por Andrew, quando avança para uma determinada região do jardim sendo obrigado a mudar de direção. Algo me diz que a bandeira do time azul está por ali. Porém quando vou sinalizar para algum dos garotos que está comigo nessa, sinto um leve impacto e noto uma mancha amarela em minha roupa.
-Volta aqui Zac! - ainda consigo acertar, de raspão, uma bala que deixa um tom verde impresso na roupa dele.
Quando me viro, de imediato tenho que contra-atacar Griffin e Robert. Nicholas rapidamente vem em meu auxílio. Fico levemente ofendida, pois poderia dar conta da situação sozinha. Mas já que ele insiste acabo me esquivando e passo a observar o "campo".
David Moore faz uma pequena cena dramática a cada vez que desvia de algo ou atira em algum adversário. Tenho a leve impressão que ele confundiu a seleção com um filme de comédia, mas não posso negar que está "atuando" consideravelmente bem e age de forma bastante engraçada.
Gregory corre atrapalhadamente pelo campo e é, sem dúvidas, a pessoa mais colorida entre todos os presentes. Ele parece ter sido vítima de um verdadeiro bombardeio de bolinhas, mas seu rosto mostra que ainda assim está se divertindo no jogo .
Contrapondo-se a esse clima cômico e descontraído; temos Charlie, com um espírito exageradamente competitivo, grita ordens e orientações para todos do time. Ele assumiu a liderança da nossa equipe, se não fosse tão prepotente talvez seu esforço para ganhar até se tornasse algo mais útil. Não paro de me perguntar porque ele colocou Nicholas tão próximo de mim, não faz nenhum sentido se levar em consideração sua competitividade e o fato de que, supostamente, muito além dessa partida de paintball essa é uma disputa pelo meu coração. Ou melhor, se tratando de Charlie, uma disputa pela coroa. Está mais claro do que nunca que ele está aqui somente pela possibilidade de ganhar o título de nobreza e é por isso que será dispensado para sua casa ainda hoje.
Acho que muita coisa aconteceu enquanto estava imersa em meus pensamentos.
Os integrantes do time azul estão eufóricos, abraçando e cumprimentando uns aos outros.
Dylan ostenta a bandeira do time vermelho como símbolo da vitória em suas mãos. Consigo então analisar seu perfil. Devo dizer que o "lápis celeste" foi um tanto generoso com ele. Traços marcantes, braços fortes, rosto cativante. Um perfeito sedutor.
Só aí percebo que sai do meu mundo de devaneios porque alguém havia me chamado, encontro Charlie alguns centímetros atrás de mim. Suas sombracelhas estão erguidas concedendo-lhe um ar bastante zangado.
- Por sua culpa a equipe liderada por um pirralho venceu o jogo, satisfeita por me fazer passar vergonha em rede nacional? -fala da forma mais grosseira possível, apontando o dedo para Isaac, sem desviar os olhos furiosos de mim.
- Por favor dirija-se ao seu quarto e faça suas malas, um carro para levá-lo de volta a sua província estará disponível dentro de trinta minutos.
É nesse momento que ele cai em si e percebe o erro fatal que acaba de cometer.
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Após parabenizar os rapazes do time azul me volto para o interior do Castelo, rumo ao meu quarto, a fim de tomar um bom banho.
O episódio com Charlie foi demasiadamente constrangedor para que eu conseguisse me contagiar com a alegria do time vencedor. Por isso sai o mais rápido que pude do campo.
Infelizmente meus planos de refúgio entre as quatro paredes do quarto são arruinados por completo quando um dos guardas surge, desesperado, a minha frente:
- Alteza, seus pais a esperam, com urgência, no escritório.
- Obrigada pelo recado! - digo já alterando a rota que seguia antes e virando para o outro lado do corredor, que leva ao escritório.
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- O QUÊ?!
- É exatamente o que você ouviu, a estratégia deles agora é destruir e acusar os monarcas de serem os mandantes desses absurdos.
- Se for como eu estou entendendo é absurdo demais. Os rebeldes destruíram propriedades de agricultures na zona rural da Dominica, e estão se fazendo de santos?! Espalhando malditos panfletos nos quais alegam que nós mandamos realizar esses crimes horrorosos para incriminá-los depois?
- É basicamente isso. - Mamãe fala com uma tranquilidade que chega a ser irritante.
- Qual a lógica que faz os cidadãos de Illéa comprarem essa ideia?
- É isso que estamos nos perguntando, não faz nenhum sentido, porém grande parte da opinião pública está com eles.
- E o que faremos para reverter a situação?
- Estamos organizando um pronunciamento oficial daqui duas horas, é o tempo necessário para elaborarmos contra argumentos que sejam suficientemente convincentes.
- Eu preciso absorver tudo isso, com licença.
E depois desse parêntese tão desagradável, retomo o plano anterior. Adentro o quarto e novamente é Eliza que veio me ajudar. Esse sumiço da Luna é mais um coisa que está me preocupando, e logo hoje que eu precisava tanto dela para me mostrar que ainda tem algum motivo pra rir nessa confusão .
Resolvo que o melhor a fazer é ficar a sós com meus pensamentos e peço educadamente que Eliza volte depois.
Assim que ela sai um silêncio torturante invade o ambiente. Decido apanhar os fones de ouvido e um aparelho de músicas antes de entrar na banheira.A primeira música da playlist começa a preencher meus ouvidos, e diz exatamente o que eu precisava ouvir:
"Às vezes sinto vontade de desistir
Mas eu não posso
Não está no meu sangue"Enquanto esse refrão pulsa junto ao meu coração começo a refletir: por mais que muitas vezes eu queira jogar a toalha eu não posso. De fato não está no meu sangue. Eu aprendi desde cedo que devo carregar o peso dessa nação nas costas, o que não é nada leve, mas é a minha missão. Por isso eu preciso fazer algo. E tem que ser imediatamente, duas horas é tempo demais.
No momento em que procuro um vestido qualquer no armário as lágrimas ainda correm pelas minha faces. Mas eu tenho que parecer forte para agir; é por isso que seco o rosto. Por que cansei de esperar e vou agir agora mesmo.
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O Novo Príncipe
FanfictionA Seleção representa uma forma inesperada (e desesperada) para lidar com um dos problemas mais sérios que o reino de Illéa já vivenciou. Kerttu Koskinen Schreave se vê obrigada a receber trinta e cinco rapazes no Castelo; concedendo ao povo a sonha...