Capítulo 36

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Após mais uma noite mal dormida, assombrada por pensamentos desagradáveis sobre o que aconteceria com o país caso "a coroa" fosse parar em mãos erradas, ouço Eliza entrando com a bandeja de café da manhã. Ela puxa as cortinas e percebo que o sol já assumiu seu posto.

- Acho que vou ficar por aqui hoje. - declaro cobrindo o rosto com o travesseiro.

Eliza nem sequer responde ao meu gesto infantil.

- Bom dia para você também, princesa Kerttu!

Como não vejo outra opção, saio da cama e me encaminho para o banheiro. Um bom banho vai me ajudar a encontrar alguma energia.

Para minha surpresa, quando saio do chuveiro e paro em frente ao guarda-roupas, noto que Eliza já escolheu meu vestido para o dia. Trata-se de um modelo curto na frente, com uma pequena cauda atrás, composto por um tecido leve, que mescla tons de rosa e branco em uma estampa floral.

Enquanto trabalha com os pincéis em meu rosto, Eliza se move com graciosidade, como se dançasse ao som da música que está cantarolando. Faz tempo que não a vejo tão feliz e, mais de uma vez, indago qual é o motivo, mas ela se recusa a responder. Nem mesmo quando pedi que ela me contasse algo bom após quase morrer engasgada com farelos de pão, consegui arrancar alguma informação.

No instante em que terminamos de saborear os itens que Eliza surrupiou da cozinha, ela se coloca de pé e, num piscar de olhos, está a meio caminho da porta.

Meu primeiro impulso é ir atrás dela, mas sei que Eliza não vai permitir que eu descubra nada antes do que ela considerar como "hora certa". Por isso, decido que é mais produtivo escovar os dentes.

Ainda estou com creme dental ao redor da boca quando ouço algumas batidas na superfície de madeira pela qual Eliza acabara de sair.

Seco o rosto e saio com a toalha entre as mãos.

Não pude disfarçar minha surpresa ao abrir a porta e constatar que era Nicholas.
Em carne e osso. O cabelo bagunçado como sempre. As mãos atrás das costas e um sorriso sem jeito no rosto.

- O que faz aqui?!

- Estava preocupado com você. Não é todo dia que alguém bate na sua porta em completo desespero e depois desaparece.

- Como encontrou meu quarto?

- Tive dois cúmplices... A Eliza e o Lucas estão... digamos que... se conhecendo melhor.

Lucas, por sinal, era o mordomo que estava atendendo ao Nicholas durante sua estadia no castelo.

Agora eu entendia porque Eliza tinha insistido tanto para que eu me arrumasse.

- Entre. - declarei enquanto sentia minhas bochechas esquentarem.

Nenhum dos selecionados havia pisado no meu quarto até aquele momento e convidá-lo parecia algo íntimo demais. Aquele espaço vinha sendo um refúgio seguro e eu não queria mudar isso. Por outro lado, Nicholas não era um selecionado qualquer, tínhamos construído um tipo estranho de amizade e eu invadi o espaço dele primeiro. Parecia justo deixar que ele entrasse, concluí enquanto ele atravessava o batente com passos hesitantes.

- Eu não pretendia entrar, na verdade.

- É melhor conversarmos aqui dentro. - embora estivéssemos no corredor mais privado do palácio, algum fotógrafo poderia surgir e certamente começaria uma tremenda fofoca se encontrasse um dos selecionados à minha porta.

- Antes que eu perca a coragem... Vim te entregar isso. - Ele coloca à mostra as mãos que se encontravam escondidas em suas costas, uma delas segura um vaso com um belo broto verde – Foi minha irmã que mandou para você. – explicou ele. – Se você reparar bem, vai notar que está soltando o primeiro botão e acredito que é um bom momento para plantá-la. É uma mudinha de lírio, minha irmã fez questão de pesquisar qual era sua flor preferida e ficou em êxtase quando encontrou a informação. Espero que esteja correta – e estava, mas não consegui  pronunciar nenhuma palavra, torci para que um movimento de cabeça fosse uma confirmação suficiente - No início eu pensei em entregar ao jardineiro, depois decidi que daria mesmo muda para você, mas somente no dia da minha partida. Inclusive, naquela ocasião em que estive prestes a deixar o palácio, deixei o vaso em cima da mesinha de cabeceira. Mas isso não vem ao caso. Estou falando demais porque estou nervoso e...

- Por que você está nervoso? - interrompi.

- Eu sei que devemos esperar que você nos procure. Não quero parecer um doido ou um perseguidor. É só que eu queria ver como você está e... Trouxe isso - Ele apontou o vaso - porque flores sempre me ajudam a fazer as pazes com a esperança.

Não pude evitar que meu coração se aquecesse diante das palavras dele. Era reconfortante saber que ele se preocupava, que queria “promover minha reconciliação com a esperança”. Indo contra todas as probabilidades, Nicholas acabara de me deixar com lágrimas nos olhos e um sorriso no rosto.

Baixei meu olhar e pisquei apressadamente enquanto falava no tom mais neutro que a emoção me permitia:

- Tá tudo bem, Cooper. Pode parar para respirar agora, eu já entendi que você não é um perseguidor maluco.

- Ufa! Vai continuar pensando assim se eu disser que queria que você viesse comigo até o jardim?

- O quê? - Agora eu estava realmente confusa.

- Tive essa ideia enquanto subia as escadas para chegar aqui. Sei que parece um absurdo, mas, na verdade, não é. Não seria um “encontro”, como os que você tem com os outros caras. Seria um momento pra você... ser você. Entende?!

Eu entendia. Perfeitamente.

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