Capítulo 22

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Não cheguei a derrubar nada, mas o barulho dos livros balançando sobre a mesa haviam denunciado minha presença. Instintivamente, tentei recuar. Porém meu movimento foi em vão.

-Kerttu?! - Mesmo diante da pouca luz ele já havia me reconhecido.

Agora, ao ouvir sua voz chamando meu nome, sou capaz de identificar quem é a pessoa, à frente de meus olhos.

- Nicholas Copper, o que faz aqui?! - Questionei, mas não consegui ser tão firme quanto desejava.

Ele se volta para a janela, dando-me as costas, achei que não iria dizer absolutamente nada e, por alguma razão, essa ideia me deixava furiosa. Contudo, quando estava pronta para sair dali marchando, em virtude da raiva, ouvi a seguinte resposta:

- Não estava conseguindo dormir.

Aquela era uma afirmação bastante convencional e perfeitamente plausível. Entretanto algo parecia estranho, muito estranho. Sua voz parecia... Embargada!

Por isso ele estava escondendo o rosto? Estava chorando? A demora para me responder se devia a necessidade de controlar a respiração para que eu não notasse?

- Não sairei daqui até que me explique o que está acontecendo. - Declarei aproximando-me.

Ele se virou para mim. Como a distância havia diminuído, pude ver seu rosto marcado pelas lágrimas. Inicialmente, lançou-me um olhar surpreso, mas as poucos outro sentimento transbordava dele.

Era raiva. Os olhos castanhos estavam escurecidos, sombrios.

O que poderia tê-lo deixado daquele jeito? Nunca desejei tanto desvendar os segredos que esse garoto guardava.

- Não vai me dizer?

-Você acha que só por ser princesa tem o direito de se intrometer na vida de todo mundo?

O encarei perplexa. Ninguém jamais havia falado daquela forma comigo.

Não respondi, permaneci parada e estática. Ele estava visivelmente exaltado. Não o conhecia o suficiente para saber o que esperar. Porém ele salvou Zac no dia em que chegou aqui, a lembrança dessa cena me fazia crer que seu coração era bom e me encorajava a desafiá-lo um pouco mais.

- Sim, sou uma princesa. Aliás, como futura rainha desse país, posso ordená-lo que me conte imediatamente o que o fez sair de seu quarto aos prantos, a essa hora da madrugada.

Ele não diz nada quando encerro minha fala. Seu semblante é uma mistura de ódio, ironia e incredulidade. Percebo que nem eu mesma sou capaz de acreditar que disse algo tão patética. Não quero que seja assim, por isso resolvo mudar o tom desse diálogo.

Sento-me no espaço vago do sofá. Ele encosta a cabeça nas mãos que descansam sobre o joelhos dobrados. Interpreto isso como um sinal de rendição.

Nicholas finalmente compreendeu que não sairei daqui enquanto ele não contar a verdade.

Após um longo silêncio ele pronuncia somente duas palavras:

- Minha mãe.

- O quê?

- Foi ela que me fez sair do quarto aos prantos as duas da madrugada. - Afirma sem demonstrar qualquer emoção, o que dificulta meu entendimento acerca da situação.

- Sua mãe está doente?

- Ao contrário, a saúde dela não poderia estar melhor.

Encaro Nicholas um tanto assustada, ele está sugerindo que preferia a mãe doente?!

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