Capítulo 24

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Duas semanas se passaram desde aquela manhã na qual escolhi quem se tornaria o novo favorito.

Ainda me lembro nitidamente do momento em que corri os olhos pela mesa dos rapazes e um deles,  percebendo minha atenção sobre ele, lançou-me um sorriso calmo e bastante encorajador.

Seu semblante encontrava-se iluminado por algo que fui incapaz de identificar. Aquilo parecia um tanto convidativo.

E assim foi tomada a decisão: o nome "Dylan Adams" encabeçaria a próxima pesquisa sobre o suposto favorito. Pelo pouco que havíamos convivido até aquele momento, ele parecia uma figura muito cativante, certamente não demoraria para conquistar o afeto do povo.

Ainda naquela manhã, combinamos um encontro, mais especificamente um "chá da tarde", no jardim. Não posso negar que tenho me surpreendido bastante desde então.

Ele vinha se mostrando um rapaz elegante, assim como muito bem educado, que se destacava por suas habilidades comunicativas e, principalmente, por sua beleza singular. Mas desde que estreitamos nossos laços de convivência tenho percebido que temos gostos muito semelhantes, sobretudo no campo literário. Não precisei fingir para agradar as câmeras em nenhum momento, as conversas com ele são verdadeiramente agradáveis.

Entretanto, o castelo esteve muito movimentado nessas últimas semanas  e,  ao que parece, a situação política do país está cada vez pior. Diante disso, pensei em colocar logo um fim nessa Seleção. Porém conversei com mamãe e cheguei a uma conclusão assustadora: eu não quero acabar com isso por enquanto.

Não apenas porque meu orgulho excessivo impede que eu termine sozinha depois de tudo que já aconteceu até aqui. Mas sim porque meus sentimentos estão emaranhados. Preciso escolher um deles mas alguns estão realmente confundindo minha mente e meu coração.

Esbarrar com esses "estranhos" pelos corredores, ou ter que suportar sua presença durante as refeições, já não é algo tão repugnante. É assustador admitir, por exemplo, que estou começando a gostar das pequenas graças envolvendo mágica que Phelipe realiza com regularidade, toda vez que passa próximo a mim.

Definitivamente, não sei como vou me decidir, ainda não consigo sentir o tal amor verdadeiro por nenhum deles. Contudo, a possibilidade de que um dia isso aconteça não parece mais tão irreal.

***

Enquanto as reflexões passeavam por minha mente, eu sentia o toque macio da grama em minhas costas nuas, devido ao decote do vestido. Mamãe provavelmente desaprovaria minha posição, mas não há forma melhor para se admirar o céu e identificar os desenhos formados pelas nuvens. Algo que, com exceção das cordas do violino, me permite relaxar mais do que qualquer outra coisa, mas considerando que não gosto de de muita "plateia" e que privacidade tornou-se algo raríssimo entre as paredes do castelo, prefiro a companhia do céu.

- Kerttu!

"Ah, que ótimo, lá se vão meus preciosos minutos de sossego."

- Diga Zac.

- O que você acha de o próximo escolhido para um encontro individual com você ser definido por um duelo?

- O quê?! - questiono entre gargalhadas, sentando-me na grama.

- Eu acabei de sair de uma aula de história na qual assisti um filme medieval. As lutas com espadas são demais!

- Isaac Schreave, nenhuma luta em que, obrigatoriamente, alguém deve morrer para que o outro se torne um vitorioso pode ser considerada "demais". - declaro com seriedade e ele abaixa os olhos.

- Eu sei. Mas... não estava sugerindo que houvessem mortes ou ferimentos entre os garotos.

- É claro que não, mas é importante que você compreenda isso: ninguém tem o direito de machucar o outro. Ah, só para esclarecer, não haverá duelo.

- Eu já esperava que você não fosse concordar. Mas ainda acho que precisamos animar um pouquinho as coisas por aqui.

- E o que você sugere?

- Quando eles participavam de provas para conseguir um encontro com você as coisas eram bem mais interessante e... menos melosas.

- Ah Zac! Você é muito jovem para entender o quanto esses momentos melosos são necessários. - afirmo, não conseguindo conter o riso diante da expressão de asco que toma seu rosto infantil.

- Posso até não saber muito sobre essas coisas, mas passei adoro passar meu tempo livre na cozinha e estive imaginando como seria divertido um torneio culinário entre os rapazes. - ele diz enquanto a habitual luz da traquinagem perpassa seu olhar.

- Mas se eles tacassem fogo na cozinha, ficaríamos sem jantar.

- Eu não tinha pensado nisso...

- Eu percebi, pela sua cara de susto diante da possibilidade. De qualquer forma, obrigada pela sugestão, pirralho.

Após dar-lhe um beijo na testa, me levanto e sigo rumo à entrada do palácio.

A hora da última refeição do dia se aproximava e eu precisava me aprontar. Entretanto, quando passei pelo segundo andar, ouvi uma melodia suave, vinda de uma pequena sala na qual, até onde me lembro, era guardada uma mobília antiga, que fazia alusão às decorações clássicas do Mundo Antigo. Alguém estava cantarolando uma das minhas músicas favoritas!

Assim que me aproximei da porta daquele ambiente, percebi que se tratava de Stuart, empunhando uma aquarela na mão direita e um pincel na esquerda - "ele é canhoto." inferi. Recordei que, há alguns dias havia recebido um bilhete assinado por ele, no qual solicitava uma autorização para utilizar o espaço que considerava perfeito para transformar num ateliê temporário.

Contudo, quando atendi seu pedido, jamais imaginei que seu trabalho era tão profissional. As telas que vislumbro recostadas aos móveis e as paredes são simplesmente magníficas.
O modo como ele mescla a técnica, a inspiração e o sentimento em seu trabalho culminam em um resultado que é no mínimo encantador.

- Alteza?!

Ele questiona e ergue as sombracelhas, claramente surpreso pela minha presença, que só foi notada pelo fato de que ele precisou virar-se na direção do estojo de pincéis para apanhar o que permitiria ajeitar os detalhes da obra que estava finalizando.

- Me desculpa, eu... estava passando e tive de parar quando escutei a música que você cantarolava.

- Caramba! Que vergonha! O som da minha voz estava tão alto assim?

- Não se preocupe, a música realmente chamou minha atenção, mas o que me fez permanecer diante da porta, com esse semblante embasbacado, foi o seu trabalho. Suas telas são fascinantes!

O rosto do rapaz à minha frente assume uma tonalidade entre roxo e vermelho, mas um sorriso de satisfação se desenha em sua face. Isso me encoraja a entrar para observar melhor os traços e as combinações de cores que harmonizam tão perfeitamente.

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