Capítulo 7

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Enquanto olho para o reflexo no espelho e admiro a beleza do vestido rosa coral, finamente bordado da forma mais delicada que se pode imaginar; penso sobre quantas pessoas estão criando milhões de expectativas acerca de tudo isso.

"É apenas mais uma Seleção e não sou obrigada a escolher alguém". Tento me tranquilizar. Mas é impossível manter a calma sabendo que há um semi-desconhecido aguardando-me para um encontro romântico.

Já enfrentei "Dragões" bem mais poderosos do que todos esses 27 garotos juntos. Porém nenhum dos vilões que tentaram invadir a minha história até hoje estava disputando meu coração.

Essa é uma guerra que envolve o sentimento de muitas pessoas. E justamente por conhecer a dor de um coração partido é que me preocupo.

Agora porém não resta tempo para refletir e muito menos para desistir. Respiro fundo e começo a descer a escadaria. Antes de chegar ao salão já posso vislumbrar os cabelos castanhos bagunçados do tal Nicholas Cooper , que encontra-se em uma atitude bastante curiosa. Ele está de pé; parado; olhando fixamente , de uma forma quase afetuosa, para um vaso de plantas que decora o lugar. Suas mãos tocam as folhas verdes como se afagassem aquele vegetal inanimado.

- Nicholas? - chamo ao ver que ele está realmente envolvido com a planta, pois nem ao menos notou que eu havia  parado bem ao seu lado.

-Ah... Alteza!-ele faz uma reverência desajeitada- Essas samambaias estão encantadoras!

Definitivamente eu esperava que ele fosse elogiar a mim e não a planta. Antes que eu pense em como responder ele completa:

-Mas acho que talvez esteja na hora de transferi-la para um vaso maior. -ele comenta enquanto estende o braço para que eu coloque o meu e juntos começamos a caminhar.

Eu o guio até o cinema e não falamos mais nada até chegar lá.

-Qual filme vamos assistir?-questiono já pronta para procurar o título que ele escolher.

-Teria...- ele aproxima-se de mim e, bem próximo do meu ouvido diz um nome que me faz estremecer.

- Eh.... Claro. - tento soar firme mas estou realmente arrepiada e minha voz falha após ouvir logo aquele título  e perceber que trata-se de um filme de terror. Os filmes mais próximos desse gênero que assisti até hoje são os da série Crepúsculo.

- Vossa Alteza provavelmente vai adorar.

Sinto um leve tom de ironia no ar. O que ele pretende? Tantos filmes de gêneros bem menos horripilantes e ele tinha que se decidir por esse?
O que me tranquiliza é o fato de que o encontro será filmado, portanto ele terá de se comportar .

Assim que encontro o tal filme e leio a descrição tenho vontade de sugerir outro. Mas não posso voltar atrás no que afirmei antes e muito menos deixar  ele  perceber que algo assim é capaz de me amedrontar.

Lembro-me de preparar dois pacotes grandes de pipoca, em seguida nos sentamos e aperto o "play" para o filme começar.

Nicholas ao meu lado ri alto enquanto as pessoas fogem desesperadas de um vampiro pavoroso. Sua mordida é fatal e, apesar de matar várias pessoas ao longo do filme ele persegue uma jovem pálida de olhos e cabelos claros que é a rainha do reino obscuro onde se passa a estória. De acordo com uma profecia ao conseguir "degustar" o sangue dela, levando-a a morte ele ganhará o trono. Contrapondo-se a crueldade do vampiro sanguinário há um camponês bondoso apaixonado pela jovem rainha; lutando de todas as formas para salvá-la.

Os seres pálidos , que constituiam os habitantes do reino, foram disimados e os poucos que restaram foram acolhidos no Palácio. Com a garantia de que o vampiro poupará suas vidas a rainha decide entregar-se. Porém o camponês surge disposto a tudo. Começa assim um combate sangreto e no final a rainha assiste seu grande amor desfalecer. Enquanto chora diante do rosto sem vida que repousa em seus braços sente os dentes ferozes cravarem em seu pescoço.

-Você está chorando?! -Nicholas indaga tirando-me do êxtase de horror sobre o qual me encontro.

A única coisa que consigo fazer é correr para longe dali.

Paro no meio do corredor e serro meus punhos tentando me recompor. Mas quase tenho um ataque cardíaco quando uma mão fria toca meu ombro.

Não posso evitar um grito de pavor; bem como o alívio claro em meu rosto ao ver que trata-se de Nicholas e não do terrível  vampiro . Isso é um tanto infantil, constrangedor e principalmente paranóico. "Foi apenas um filme". Sussurro de forma que só eu posso ouvir.

-Queria...conversar a sós com você. - ele fala em tom baixo e lança um olhar para o câmera e outro para o grupo de guardas que se forma ao nosso redor. - É importante!

Consigo notar certo desespero em sua voz; por isso decido lhe dar uma chance para falar; mesmo porque se for dispensa-lo como pretendo talvez seja melhor que as câmeras não registrem esse momento. Assim que o grupo a nossa volta se dispersa o levo a uma pequena sala no primeiro andar e o convido a sentar-se no sofá azul aveludado que preenche o local.

-Alteza, eu fui um completo idiota ao escolher aquele filme.

- Ainda bem que reconhece.

-Na verdade, quero dizer também  que estou muito surpreso com sua reação. Para ser sincero  eu não pretendia sequer me inscrever na Seleção, só o fiz por insistência da minha irmã. Sempre acreditei que a senhorita não tinha sentimentos, apenas havia sido treinada para erguer a cabeça e sorrir a toda hora até que o coração não fosse mais ouvido e tudo se torna-se "mecânico".

-Eu poderia ordenar que te prendessem imediatamente como um suposto integrante no grupo de rebeldes.

- Por favor não me entenda mal! É só que vendo a realidade miserável  da maioria das pessoas na minha província é difícil imaginar que alguém na realeza tenha sentimentos de verdade. Porém eu também  não apoio as ideias dos rebeldes.

- Você sabe que essas palavras que eu acabei de ouvir são motivos mais que suficientes para manda-lo para casa certo?

-Sim. Mas ainda tenho que explicar uma coisa. Quando fui competir pelo encontro tentei dar o melhor de mim e fiz o propósito de que se eu ganhasse devia aproveitar a oportunidade para tentar voltar para casa. Sabia que alguém como a senhorita não ia gostar de um filme como aquele e minha intenção inicial era ser realmente odiado. Mas percebi que a julguei de forma equivocada. Vossa Alteza é sim capaz de demonstrar emoções. Por isso; apesar de a muito tempo eu ter tido a certeza de que o amor é só uma fantasia, às vezes bastante cruel; desejo de verdade que você encontre a verdadeira felicidade em algum dos outros 26 garotos.

-Obrigada por ter sido honesto comigo.

-Me senti na obrigação de esclarecer as coisas antes de partir.

Então percebo um lampejo de tristeza correr por aqueles olhos cor de mel.

-Você não  deveria estar feliz? Era essa sua vontade desde o início, não?!

-Há poucas horas atrás meu objetivo  era embarcar para Honduragua ainda hoje. Mas tenho muito medo de como vai ser quando eu voltar . Perdi meu emprego poucos dias antes de vir para o Palácio e agora minha família está contando apenas com o dinheiro que vocês pagam por eu estar na competição. Não tenho ideia de como vai ser  de agora em diante, conseguir um emprego na minha província não é algo muito fácil.

-Ora, talvez sua breve participação  na Seleção possa agregar um ponto positivo no seu currículo.

-Sair logo após o primeiro encontro individual com a princesa não é muito bom para a reputação de ninguém; e isso vale tanto para o campo pessoal quanto para o profissional.

Ele fala de um jeito brincalhão mas compreendo que trata-se da mais pura verdade. Sair agora iria prejudica-lo muito. E, por mais que eu procure negar até para mim mesma, sei que se ele for sentirei falta de seu olhar, ao mesmo tempo doce e misterioso, por mais que ainda o tenha visto poucas vezes já desenvolvi um significativo interesse em saber  quais segredos estão escondidos ali.

Nos breves instantes em que  penso nisso uma ideia absurda me vem à mente. Ambos  temos  muito  a perder caso ele saia , uma vez que o povo provavelmente vai considerar muito estranha a eliminação de Nicholas e já prevejo os borburinhos maliciosos. Por essa razão decido fazer-lhe uma proposta muito ousada.

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