Enquanto olho para o reflexo no espelho e admiro a beleza do vestido rosa coral, finamente bordado da forma mais delicada que se pode imaginar; penso sobre quantas pessoas estão criando milhões de expectativas acerca de tudo isso.
"É apenas mais uma Seleção e não sou obrigada a escolher alguém". Tento me tranquilizar. Mas é impossível manter a calma sabendo que há um semi-desconhecido aguardando-me para um encontro romântico.
Já enfrentei "Dragões" bem mais poderosos do que todos esses 27 garotos juntos. Porém nenhum dos vilões que tentaram invadir a minha história até hoje estava disputando meu coração.
Essa é uma guerra que envolve o sentimento de muitas pessoas. E justamente por conhecer a dor de um coração partido é que me preocupo.
Agora porém não resta tempo para refletir e muito menos para desistir. Respiro fundo e começo a descer a escadaria. Antes de chegar ao salão já posso vislumbrar os cabelos castanhos bagunçados do tal Nicholas Cooper , que encontra-se em uma atitude bastante curiosa. Ele está de pé; parado; olhando fixamente , de uma forma quase afetuosa, para um vaso de plantas que decora o lugar. Suas mãos tocam as folhas verdes como se afagassem aquele vegetal inanimado.
- Nicholas? - chamo ao ver que ele está realmente envolvido com a planta, pois nem ao menos notou que eu havia parado bem ao seu lado.
-Ah... Alteza!-ele faz uma reverência desajeitada- Essas samambaias estão encantadoras!
Definitivamente eu esperava que ele fosse elogiar a mim e não a planta. Antes que eu pense em como responder ele completa:
-Mas acho que talvez esteja na hora de transferi-la para um vaso maior. -ele comenta enquanto estende o braço para que eu coloque o meu e juntos começamos a caminhar.
Eu o guio até o cinema e não falamos mais nada até chegar lá.
-Qual filme vamos assistir?-questiono já pronta para procurar o título que ele escolher.
-Teria...- ele aproxima-se de mim e, bem próximo do meu ouvido diz um nome que me faz estremecer.
- Eh.... Claro. - tento soar firme mas estou realmente arrepiada e minha voz falha após ouvir logo aquele título e perceber que trata-se de um filme de terror. Os filmes mais próximos desse gênero que assisti até hoje são os da série Crepúsculo.
- Vossa Alteza provavelmente vai adorar.
Sinto um leve tom de ironia no ar. O que ele pretende? Tantos filmes de gêneros bem menos horripilantes e ele tinha que se decidir por esse?
O que me tranquiliza é o fato de que o encontro será filmado, portanto ele terá de se comportar .Assim que encontro o tal filme e leio a descrição tenho vontade de sugerir outro. Mas não posso voltar atrás no que afirmei antes e muito menos deixar ele perceber que algo assim é capaz de me amedrontar.
Lembro-me de preparar dois pacotes grandes de pipoca, em seguida nos sentamos e aperto o "play" para o filme começar.
Nicholas ao meu lado ri alto enquanto as pessoas fogem desesperadas de um vampiro pavoroso. Sua mordida é fatal e, apesar de matar várias pessoas ao longo do filme ele persegue uma jovem pálida de olhos e cabelos claros que é a rainha do reino obscuro onde se passa a estória. De acordo com uma profecia ao conseguir "degustar" o sangue dela, levando-a a morte ele ganhará o trono. Contrapondo-se a crueldade do vampiro sanguinário há um camponês bondoso apaixonado pela jovem rainha; lutando de todas as formas para salvá-la.
Os seres pálidos , que constituiam os habitantes do reino, foram disimados e os poucos que restaram foram acolhidos no Palácio. Com a garantia de que o vampiro poupará suas vidas a rainha decide entregar-se. Porém o camponês surge disposto a tudo. Começa assim um combate sangreto e no final a rainha assiste seu grande amor desfalecer. Enquanto chora diante do rosto sem vida que repousa em seus braços sente os dentes ferozes cravarem em seu pescoço.
-Você está chorando?! -Nicholas indaga tirando-me do êxtase de horror sobre o qual me encontro.
A única coisa que consigo fazer é correr para longe dali.
Paro no meio do corredor e serro meus punhos tentando me recompor. Mas quase tenho um ataque cardíaco quando uma mão fria toca meu ombro.
Não posso evitar um grito de pavor; bem como o alívio claro em meu rosto ao ver que trata-se de Nicholas e não do terrível vampiro . Isso é um tanto infantil, constrangedor e principalmente paranóico. "Foi apenas um filme". Sussurro de forma que só eu posso ouvir.
-Queria...conversar a sós com você. - ele fala em tom baixo e lança um olhar para o câmera e outro para o grupo de guardas que se forma ao nosso redor. - É importante!
Consigo notar certo desespero em sua voz; por isso decido lhe dar uma chance para falar; mesmo porque se for dispensa-lo como pretendo talvez seja melhor que as câmeras não registrem esse momento. Assim que o grupo a nossa volta se dispersa o levo a uma pequena sala no primeiro andar e o convido a sentar-se no sofá azul aveludado que preenche o local.
-Alteza, eu fui um completo idiota ao escolher aquele filme.
- Ainda bem que reconhece.
-Na verdade, quero dizer também que estou muito surpreso com sua reação. Para ser sincero eu não pretendia sequer me inscrever na Seleção, só o fiz por insistência da minha irmã. Sempre acreditei que a senhorita não tinha sentimentos, apenas havia sido treinada para erguer a cabeça e sorrir a toda hora até que o coração não fosse mais ouvido e tudo se torna-se "mecânico".
-Eu poderia ordenar que te prendessem imediatamente como um suposto integrante no grupo de rebeldes.
- Por favor não me entenda mal! É só que vendo a realidade miserável da maioria das pessoas na minha província é difícil imaginar que alguém na realeza tenha sentimentos de verdade. Porém eu também não apoio as ideias dos rebeldes.
- Você sabe que essas palavras que eu acabei de ouvir são motivos mais que suficientes para manda-lo para casa certo?
-Sim. Mas ainda tenho que explicar uma coisa. Quando fui competir pelo encontro tentei dar o melhor de mim e fiz o propósito de que se eu ganhasse devia aproveitar a oportunidade para tentar voltar para casa. Sabia que alguém como a senhorita não ia gostar de um filme como aquele e minha intenção inicial era ser realmente odiado. Mas percebi que a julguei de forma equivocada. Vossa Alteza é sim capaz de demonstrar emoções. Por isso; apesar de a muito tempo eu ter tido a certeza de que o amor é só uma fantasia, às vezes bastante cruel; desejo de verdade que você encontre a verdadeira felicidade em algum dos outros 26 garotos.
-Obrigada por ter sido honesto comigo.
-Me senti na obrigação de esclarecer as coisas antes de partir.
Então percebo um lampejo de tristeza correr por aqueles olhos cor de mel.
-Você não deveria estar feliz? Era essa sua vontade desde o início, não?!
-Há poucas horas atrás meu objetivo era embarcar para Honduragua ainda hoje. Mas tenho muito medo de como vai ser quando eu voltar . Perdi meu emprego poucos dias antes de vir para o Palácio e agora minha família está contando apenas com o dinheiro que vocês pagam por eu estar na competição. Não tenho ideia de como vai ser de agora em diante, conseguir um emprego na minha província não é algo muito fácil.
-Ora, talvez sua breve participação na Seleção possa agregar um ponto positivo no seu currículo.
-Sair logo após o primeiro encontro individual com a princesa não é muito bom para a reputação de ninguém; e isso vale tanto para o campo pessoal quanto para o profissional.
Ele fala de um jeito brincalhão mas compreendo que trata-se da mais pura verdade. Sair agora iria prejudica-lo muito. E, por mais que eu procure negar até para mim mesma, sei que se ele for sentirei falta de seu olhar, ao mesmo tempo doce e misterioso, por mais que ainda o tenha visto poucas vezes já desenvolvi um significativo interesse em saber quais segredos estão escondidos ali.
Nos breves instantes em que penso nisso uma ideia absurda me vem à mente. Ambos temos muito a perder caso ele saia , uma vez que o povo provavelmente vai considerar muito estranha a eliminação de Nicholas e já prevejo os borburinhos maliciosos. Por essa razão decido fazer-lhe uma proposta muito ousada.
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O Novo Príncipe
FanfikceA Seleção representa uma forma inesperada (e desesperada) para lidar com um dos problemas mais sérios que o reino de Illéa já vivenciou. Kerttu Koskinen Schreave se vê obrigada a receber trinta e cinco rapazes no Castelo; concedendo ao povo a sonha...