Capítulo 4

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Hoje é o "grande dia", estou me aprontando para receber oficialmente os selecionados. Eles chegaram essa manhã mas ainda não vi nenhum deles por aqui, estão todos no salão dos homens sendo preparados para o primeiro encontro comigo. Eu devo recebê-los individualmente no salão principal e entregá-los uma cópia da chave do quarto que lhes for designado. Serei muito breve com cada um, porém ao final tenho que decidir os primeiros eliminados. Ou seja, alguns nem precisarão usar a tal chave .
  
Gostaria muito de simplesmente mandar todos de volta para casa, agradecer sua boa vontade para fazer parte do elenco dessa comédia trágica e cancelar tudo antes que minha vida se torne um espetáculo de circo.

Quem me dera ser livre para de fato fazer isso.

Pelo menos pude colocar um vestido vermelho que exala autoconfiança. Acho interessante buscar ajuda na roupa certa para causar o efeito desejado. Hoje pretendo impactar os garotos. Talvez assusta- los um pouco, manter-me distante, e principalmente  mostrar a mim mesma que saberei lidar com uma Seleção.

 Talvez assusta- los um pouco, manter-me distante, e principalmente  mostrar a mim mesma que saberei lidar com uma Seleção

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Estou à caminho do grande salão, Luna ao meu lado tagarela sem parar. Por incrível que pareça ela consegue me acalmar agindo assim.

Por isso quando chegamos ao fim da escadaria e eu a observo desaparecer pelos corredores que levam à biblioteca sinto um peso enorme cair em minhas costas. Solidão. Ao meu redor estão apenas alguns guardas, sei quem são  contudo não posso dizer que os conheço. Estou sozinha.

  Fui educada para esconder profundamente as emoções. Desse modo o guarda que se aproxima, Matthew, não percebe meus nervos em erupção.

_ Alteza, posso permitir a entrada do primeiro garoto?

_Sim.-respondo secamente mas com convicção.

  Assim eu me posiciono de pé diante da porta , que é lentamente aberta pelo guarda. Observo que as câmeras já estão prontas para captar todos os movimentos realizados essa tarde. Com isso sinto o frio em meu estômago aumentar.

O primeiro selecionado entra e eu lhe dirijo um meio sorriso. Creio que este será o momento mais constrangedor. Não faço ideia de como agir, mesmo tendo esquematizado cada detalhe mentalmente no decorrer dessa noite que passei praticamente em claro.

_Alteza. -ele diz enquanto faz uma reverência elegante.

_Olá! -tento parecer simpática.

_ Andrew Martinez ,de Bonita, ao seu dispor!-ele diz estendendo-me a mão.

  Aproveito a oportunidade para depositar a chave entre seus dedos e com um aperto de mãos mais demorado que o necessário o observo subir a escadaria em direção aos quartos.

Tento repetir o procedimento anterior  com todos os rapazes  que vão surgindo a porta em sequência.

Meu cérebro atortoado avisa meu coração a  todo instante: não se apegue!

Por mais que alguns já tenham compartilhado que adoram música tanto quanto eu, ou que outros  tenham sorrisos e pares de olhos claros capazes de derreter qualquer geleira; eu vou resistir! Sei que nenhum deles valerá as lágrimas amargamente salgadas, que simbolizam os resquícios de um coração partido por um amor incorrespondido.

Por mais que muitos aqui me olhem com admiração e até carinho nenhum deles me conhece  além das futilidades narradas em matérias de revista. Entregar meus afetos a alguém ali seria como confiar, mais uma vez, em uma ilusão passageira. Quem seria perfeito o suficiente para continuar me "amando" após descobrir a infinidade de defeitos e fraquezas que carrego comigo?

Vou agindo no modo automático enquanto um selecionado após o outro se aproxima, me diz seu nome, fala rapidamente  qualquer coisa sobre sua vida pessoal e se põe a caminhar para seu quarto.

Perdida em meus pensamentos sinto um forte impacto ao cair de volta na realidade que me cerca. Aparentemente do nada, vislumbro um par de olhos castanhos cor de mel, um tanto misteriosos, mirando-me com uma  curiosidade que provoca um profundo arrepio.

_Nicholas Cooper!-me flagro pronunciando seu nome antes que ele possa contar-me quem é.

Seus lábios se curvam num charmoso sorriso  de lado. Noto que acertei. Mas não posso imaginar como fiz isso. Nem sequer abri a pasta que me foi entregue na última sexta-feira com os formulários dos sorteados. Procurei manter-me afastada de todos os preparativos para esse acontecimento e por mais que, principalmente ontem a noite, a curiosidade quase tenha me vencido consegui aguardar até essa tarde para de fato começar a conhecer  meus pretendentes. Tentei adiar meu envolvimento com a Seleção o máximo  que pude.

  _Alteza!- Ele faz uma reverência desajustada e estende a mão para apanhar a chave que eu seguro.

Aquele teria sido o encontro mais rápido - senão o mais frívolo e estranho -se Isaac não tivesse aparecido, como um fantasma, pela porta da sala de jantar, "voando" a toda velocidade sobre as rodas descontroladas de um par de patins.

_Zac!- chamei-o pelo apelido  esquecendo por completo que estava num ambiente extremamente formal.

Meu Deus! Ele ia bater em uma das colunas de vidro que sustentavam os arranjos de flores! Coloquei as mãos sobre a boca para abafar um grito e cerrei meus olhos.

Fiquei surpresa ao constatar que ao invés do som agudo do vidro se quebrando  meus ouvidos foram tomadas por um agradável silêncio. Reabri os olhos e deparei-me com Nicholas segurando Isaac em seus braços e guiando-o para as escadas.

Ainda inerte, apenas sorri aliviada pousando as mãos sobre o coração acelerado. Permaneci assistindo o desenrolar daquela cena. O rapaz sentou meu irmão no segundo degrau e num gesto fraternal bagunçou um pouco seus cabelos. Em seguida abaixou-se e, pacientemente, tirou os patins dos pés de Zac.

    _ Mais cuidado na próxima vez que subir nessa coisa alteza! -apesar do tom brincalhão era  visível que ele falava sério.

_ Eu só... estava testando se você era um cara legal...-Isaac tentou rebater dando de ombros na tentativa  (falha) de comprovar que essa era a verdade  .

_ Não tenho dúvidas disso! Mas agora acho que devo ir para os meus aposentos reais, enquanto sua irmã faz sala, da forma mais acolhedora possível, para os outros convidados  dela.- após uma piscadela para Zac ele  subiu, sem ao menos lembra-se que eu também estava ali.

Seu comportamento grosseiro e seu tom irônico deviam ter me deixado furiosa, mas eu estava imensamente grata a ele por ter salvo Isaac daquele acidente.

Desse modo, apenas prossegui com a recepção de meus "convidados"; era uma maneira interessante de enxerga-los, suavizava um pouco a situação.

_Princesa Kerttu! Não imagina a honra que é para mim estar diante da senhorita!

_Fico lisonjeado por tamanha admiração! - na verdade sinto-me enjoada com a falsidade que transborda do olhar ambicioso do garoto a minha frente, Jhon Avilez de Paloma; imediatamente sei que ele só almeja  a coroa e por isso ainda hoje retorna para casa.

   O rapaz que entra em sequência é uma verdadeira caixa de surpresas.
Ele coloca um lenço branco sobre a mão e sussurra algumas palavras, ao remove-lo   tem   uma rosa vermelha entre os dedos.

_Philipe Collins, de Midston; alteza. - ele diz fazendo uma reverência e estendendo a rosa para mim, que a aceito. -Nasci e trabalho em uma companhia de circo que se apresenta por todo o país. - ele completa para explicar, vagamente, como surgiu uma rosa tão bela.

  Não posso evitar a gargalhada que me escapa. Literalmente, estou estrelando um espetáculo circense!

O garoto me olha confuso enquanto apanha a chave que lhe corresponde e eu sinto um robor colorir minhas bochechas.

  Finalmente é a vez do último selecionado. Ele entra, afirma ser Dylan Adams de Angeles; e eu exerço meu papel de anfitriã da forma duramente formal que o fiz nas  34 vezes anteriores .
  

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