As crianças perdidas

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Era uma manhã úmida depois de uma chuva torrencial pesada na cidade, o céu estava cinzento assim como a luz que passava pelas janelas em estilo vitoriano do local, o clima monótono parecia estar fazendo efeito nos órfãos, visto que alguns estavam sozinhos em seus quartos; outros faziam atividades recreativas em silêncio; outros só brincavam sozinhos. Maycon estava deitado na sua cama encarando o teto, o tédio era visível em sua expressão, às vezes seu olhar caía sobre a janela para ver alguns poucos passarinhos voando lá fora; para não ficar sem nada pra fazer ele se levanta e começa a procurar por Lukas, lembra dele perto da janela mais cedo olhando a chuva, provavelmente estava esperando ela acabar para entrar na floresta; o garoto foi à busca de seu amigo e não o encontrou nem em seu quarto e nem no resto do orfanato, só que durante essa busca Maycon escutou uma voz familiar vindo, isso desperta uma memória então ele se esconde em um canto para não ser visto e escutar a conversa que vinha da entrada do orfanato.

— Então, como é que estão os meus dois proxies especiais? — Diz a mulher mascarada misteriosa, ela parecia estar conversando com a dona do orfanato que assim como todos, seu rosto era borrado por estática, mas por alguma razão só o rosto da mulher misteriosa era aparente, além disso ela estava acompanhada de um pequeno garoto de cabelos loiros assim como o dela, ele usava um terno elegante.

— Eles estão bem, mas não garanto que um deles não será adotado. — Responde a voz distorcida da dona do orfanato. — Mas eu não compreendo, por que não os adota logo?

— Esses tipos de crianças precisam de tempo até que se tornem “posse da família” e agilizar as coisas não vai funcionar muito, visto que são do tipo “rebelde”.

— Pobrezinhos… — Murmura a dona com pesar. — Eu ainda não entendi completamente o que são as crianças perdidas ou esquecidas, poderia explicar melhor?

— Hmmm… Nós temos um acordo, mas não significa que você não possa saber, então… — A mulher misteriosa dá um suspiro e prossegue com a explicação. — Cada século tem sua criança perdida, elas são especiais para a ordem esotérica e a ordem do caos, desde que o mundo se conhece por mundo nasce seres humanos marcados, cujas marcas estão no Maycon e Lukas… É um presságio de uma vida de sofrimento e todas essas crianças que já existiram foram destinadas ao sofrimento; até a ascendência ao esotérico ou avatares da ponte para lugar nenhum… Eles podem ser os únicos marcados desse orfanato, mas não os únicos com marca que existem.

A dona do orfanato nada respondeu, por mais que seu rosto não pudesse ser visto, dava para sentir o medo vindo dela, Maycon não estava entendendo nada daquela conversa, achava estranho e absurdo; mas algo o assustou e fez ele sair discretamente de seu esconderijo, o pequeno loiro acompanhado da mulher misteriosa olhou diretamente para Maycon, ele tinha olhos azuis e um rosto neutro. O garoto saiu e foi direto para o seu quarto, ele vestiu uma capa de chuva amarela, botas amarelas, luvas pretas e a máscara que ganhou da mulher, sairia à procura de Lukas para poder conversar com ele sobre isso, iria protegido, pois a chuva começou novamente só que bem fraca; prosseguiu esse pensamento indo pelos fundos, já morava naquele orfanato fazia tempo então sabia os lugares que tinha mais gente e a que não tinha movimento nenhum, então saiu pela janela dos fundos.

Ao pular pela janela ele foi até a parte da cerca de metal que estava um pouco escancarada perto do solo; enquanto andava com o capuz cobrindo sua cabeça ele viu o mesmo loiro que estava com aquela mulher misteriosa, estava segurando um guarda-chuva para se proteger, Maycon ficou surpreso e até um pouco assustado, como ele chegou ali tão rápido? Será que ele iria contar para alguém?

— Olá. — Diz o loiro que parecia ser da mesma idade ou um pouco mais velho, Maycon tinha uns doze anos nessa época. — Calma, não irei contar para ninguém, vai ser nosso segredinho. — Era notório o sotaque diferente que o garoto dos olhos azuis tinha, bem característico.

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