⁰⁰² 『Sinto falta dele』

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2011

Jess

Minhas mãos tremiam. Minha respiração estava descontrolada. Suor escorria de meu corpo e tremores percorriam por todos os meus membros. Eu não queria estar aqui. Queria estar em casa. Com meus pais. Com Michael. 

Fazia nove meses que eu não era convidada para sair com um grupo de "amigos". O motivo era óbvio. Não queria estar na situação na qual eu estava.

- Vai jess - diz um garoto ao meu lado, colocando o braço ao redor de meus ombros e apontando para uma mesa que continha um pó branco no centro. Rangi os dentes, segurando a vontade de morder o braço dele por encostar em mim - É só uma cheiradinha.

- Ah... não. Obrigada - repondo pela vigésima vez, forçando um sorriso.

- Qual é. Você nunca se diverte? - pergunta Yasmin, sentada a minha frente e se inclinando em minha direção - É bom demais.

- Ah gente, deixa ela em paz. Se ela não quer, não precisa - Fanny, minha única amiga da faculdade, me socorre. Seus olhos encontram os meus e sei que se arrepende de ter insistido para que eu aceitasse o convite.

Mas ela não tem culpa. Eu não devia ter aceito. Meus pais permitiram que eu fosse, porém se eles tivessem dito não, eu não iria.

Queria que tivessem dito isso; Queria que me dissessem que era cedo demais; Queria que me mandassem ficar e passar um tempo com Michael. Mas eles confiam em mim. Sabem que eu nunca mais faria o que atormentou a minha vida desde jovem.

Me recusei a olhar para a mesa que estava a poucos centímetros de mim desde que cheguei aqui. Lá estava o que há meses eu não consumia. Algo que, agora, eu desprezava com todas as minhas forças. Observo Yasmin se aproximando do conteúdo e o inalando com um pedaço enrolado de papel.

Seguro a vontade de vomitar. Lembranças das quais eu quero com todas as minhas forças me livrar, assolam a minha mente. A música alta já era o suficiente para me deixar com dor de cabeça, agora as memórias surgem feito abutres querendo devorar um cadáver. Eu sou o cadáver. É demais. Preciso sair daqui.

Me levanto, pegando minha bolsa. Olho para Fanny e digo que preciso ir ao banheiro. Sua expressão culpada e preocupada compreende que não voltarei. Esboço um sorriso. Quero que Fanny saiba que não estou brava com ela. Só não aguento mais suportar todas aquelas pessoas e ver nelas minha eu do passado.

- Já vai? - outra garota pergunta, sorrindo em deboche - A festa nem começou.

Não respondo. Passo pela multidão, esbarrando em algumas pessoas. Não me esforço para me desculpar. Só quero sair desse lugar. Minhas pernas se movem em uma rapidez surpreendente. Tateio o interior da minha bolsa enquanto ando, procurando as chaves do meu carro. Tendo que usar os olhos por um minuto, acabo batendo de frente com um garoto de boné.

A colisão foi tão grande que fez a chave que estava em minha mão, cair. Entro em desespero. Escuto apenas o tilintar do objeto caindo no chão, mas não o vejo. Só pode ser brincadeira. As luzes piscando impossibilitam minha visão completa. Começo a ficar tonta. Não consigo respirar. Meu desespero estava prestes a me consumir quando uma mão pousa em meu ombro.

Levanto o olhar. O garoto no qual eu havia trombado estende um objeito prata em minha direção. As chaves. Um alívio percorre pelo meu corpo.

- Obrigada - digo, notando que o jovem abaixa a cabeça para que eu não veja o seu rosto. As únicas coisas que enxergo são seu nariz e sua boca.

- De nada - ele responde, fazendo uma breve reverência e sumindo em meio a multidão.

Meu coração para. Demoro algum tempo para me dar conta.

Aquela voz...
Aquele sorriso de canto...
Aquela pinta ao lado esquerdo do queixo...

Era ele. Sim. Meu coração volta a bater, mas em um ritmo totalmente descontrolado. Olho ao redor, tentando encontra-lo. É impossível. Os flashes me cegam e não sou tão alta para ver a cima das pessoas.

Será que ele me reconheceu? Não. Espero que não. Sinto um arrepio terrível percorrer pelo meu corpo, me fazendo voltar para a realidade. Volto a andar em direção a saída, sentindo meu ombro formigar onde ele me tocou.

As lembranças mais uma vez me atacam, deixando-me desnorteada. Quando finalmente saio da festa, vou correndo até um arbusto. Vomito. Não bebi e não comi nada mas, mesmo assim, vomito. Sinto minhas entranhas se remexendo como se fossem rasgar minha barriga.

Tento me controlar. Respiro devagar, limpando minha boca com a manga do meu casaco. Vou até o meu carro. Jogo minha cabeça para trás e aperto o volante. Tenho vontade de chorar. Minhas mãos tremem mais uma vez e quando percebo, as lágrimas já molham o meu rosto.

Não acredito que encontrei ele. Aqui. Nesse lugar. Ligo meu celular, vendo as horas. Porém não são os números que me chamam atenção e sim, o papel parede. Michael.

Sorrio ao vê-lo ali, com seu cereal favorito em mãos e a cara toda lambuzada. Meus pais tem sorte de ter ele. Eu tenho sorte de ter ele.

Quando meus batimentos voltam ao normal, dou partida no carro. São duas horas da madrugada. Terei uma hora para dormir antes de acordar e ir trabalhar. Só de pensar nisso, desanimo novamente.

Chegando em casa, espio o quarto de meus pais. Lá estava Michael, deitado em seu berço com a respiração pesada. Vou até ele e deixo um pequeno beijo em sua testa, indo para o meu quarto.

Seria maravilhoso se eu conseguisse dormir, mas é impossível. Todas as vezes que eu fecho os olhos, uma pessoa em específico surge em minha mente.

Já não bastava eu tê-lo visto na festa e agora, em meus sonhos? Tento afastá-lo de meus pensamentos, contudo ele sempre volta. Ainda sinto seu toque suave em meu ombro. Levo a mão até o local, acariciando levemente onde sua mão me tocou.

Sinto falta dele... mas eu estraguei tudo.

Sinto falta de Bill Kaulitz. 

𝐒𝐄𝐂𝐑𝐄𝐓𝐒 | 𝐁𝐢𝐥𝐥 𝐊𝐚𝐮𝐥𝐢𝐭𝐳 Onde histórias criam vida. Descubra agora