⁰¹⁵ 『Eu gosto de você』

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Bill

Não acreditei quando Gilbert me contou o que havia acontecido. Senti meu estômago se revirar e uma náusea terrível se apossar de mim. Sua voz chorosa foi ainda mais terrível. Agora, sinto-me culpado. Fui eu quem o pediu ajuda e foi por minha causa que sua casa foi queimada.

Jess foi correndo para o banheiro e se trancou lá. Faz mais de meia hora. Fico andando de um lado para o outro na esperança da morena sair. Queria dizer que está tudo bem, que Hassan não irá nos encontrar. Entretanto, todos nós sabemos que isso não é verdade. Pode até não saber onde estamos, mas é tudo uma questão de tempo.

Os garotos estão me esperando no carro. Temos uma entrevista para participar e não demorará muito para começar. Só queria falar com Jess... reconfortá-la. Já tentei chamá-la, mas a única coisa que escuto são os seus lamentos. Desistindo de esperar, bato na porta e me despeço.

Dobramos a quantidade de seguranças. E daí que se tornou óbvio que há alguém que não quer ser encontrado ali? E daí que quando entrarmos ao vivo, saberão onde estou? E daí que quando voltarmos para o hotel encontramos todas as nossas coisas reviradas? E daí que quando formos procurar Jess ela não vai estar lá?

Ninguém soube de nada. Nenhum dos vizinhos ou os guardas que lá estavam sabiam. A única coisa que sabemos é que Hassan saiu da prisão, por algum motivo desconhecido. Só podemos esperar o pior.

Ando pela casa que aluguei para Jess com o coração pesado. Ela foi pega... mas, como? Vou até seu quarto e vejo que algumas roupas foram levadas. Semicerro os olhos, tentando entender. Ou Jess foi pega e eles levaram algumas mudas de roupas, ou ela se foi por vontade própria e levou algumas mudas de roupa.

Ligo para ela e nada. Respiro fundo para não entrar em desespero. Não sei o que é pior. Se eu tivesse deixado tudo como estava ou ter libertado a McLean e ter deixado outras pessoas em perigo. Chuto qualquer coisa. O pobre lixeiro que foi alvo de minha raiva rola pelo cômodo. Papéis caem de seu interior.

Ajunto-os depois. Lenços, papéis amassados e... um envelope? Não repararia se fosse apenas o envelope, contudo há partes borradas no nome de Jess, que está bem no centro. Lágrimas, penso. Ignoro o fato de eu estar fazendo tudo, menos respeitando a privacidade de Jess. Abro o envelope e encontro uma folha. Leio.

Amor

Você achou mesmo que poderia me mandar para prisão enquanto você se diverte com seus salvadores? Não sente falta de mim? Não está com saudade?
Podem até ter achado que prenderam todos os meus capangas, mas estão enganados. E, sabe de uma coisa? Sabe aonde estou? Exatamente, bem na frente de uma casa com dois carros perto. Pena que os motoristas estão todos distraídos. Mandarei essa carta junto com as correio. Peço que saia pela janela da cozinha e se esconda nos arbustos até alguém chegar para te buscar. Senão, farei seus amiguinhos novos se ferrarem. Mas se fizer tudo o que eu mandar, talvez diminua o castigo do seu protetor. Se quer saber como escapei, simples, eu sou eu. Tenho várias influências. Agora, prepare suas coisas e saia.

De seu eterno amor, Hassan.

Leio de novo. Mais uma vez. Novamente... Não pode ser. Aquele desalmado não cansa de ameaçá-la? O que ele será capaz se fazer com a ex-namorada que o prendeu? Um arrepio percorre pelo meu corpo. Pensamos que chamar a polícia seria arriscado demais, mas assim que mostro o conteúdo da carta para os garotos, eles concordam que seria a única coisa cabível a se fazer. A única coisa ao nosso alcance, infelizmente.

Voltamos ao hotel a pedido dos oficias. Me mandam ficar lá quando o que quero mesmo é ajudá-los. Preciso encontrar Jess... Preciso saber se ela está bem. Não consigo dormir quando a noite chega. Fico sentado na minha cama, de olho no celular que está em minha cabeceira. Os policiais me ligariam caso tivessem notícias. Meus olhos estão cansados, fechando-se automaticamente. Me recuso. Não posso dormir, não agora. Não quando Jess pode estar correndo perigo...

Acordo com meu celular tocando. Esfrego os olhos tentando lembrar em que momento dormi. Então, me sobressalto. Devem ser os policiais... com notícias. Me levanto rapidamente, pegando o aparelho e o atendendo.

- E aí? Alguma coisa? Encontraram ela? Ela está bem? - pergunto, mal conseguindo respirar. Um silêncio profundo permanece do outro lado da linha e me pergunto se é quem achava que era - Alô?

- Bill - ouço meu nome. Quase deixo meu celular cair. Essa voz... é... é ela. É de Jess.

- V-você está bem? Aonde está? - pergunto, feliz e ansioso demais para conter minhas perguntas - Por que esse número não é o se...

- Shhh. Faça silêncio, por favor - ela me interrompe, sussurrando - Hassan não sabe que estou com o celular dele.

Tenho vontade de me bater por tamanha burrice.

- Ah... Desculpe - digo, baixinho.

- Tudo bem - Jess fala com a voz arrastada, um pouco rouca - Eu... eu peguei o celular dele enquanto ele está tomando banho. Bill, por favor, venha me tirar daqui. Não aguento mais... E, por favor, não leve polícias consigo. Seria arriscado demais. Só quero você.

Afasto a outra interpretação da última frase e me concentro nas anteriores.

- Tudo bem. Só me diga onde está.

- Um armazém abandonado. Perto do estacionamento mais perto do aeroporto. Você vai saber quando o ver. E, Bill?

- Sim?

- Eu gosto de você. De verdade - então, ao dizer isso, ela desliga.

Fico com o celular em mãos, boquiaberto, de olhos arregalados. Ela... gosta de mim? Escutei certo? Não estou ficando maluco? Sinto meu coração transbordar de felicidade. Meu corpo todo estremece. Sonho com ela com mais frequência do que gostaria. Havia cumprido minha promessa de ajudá-la para mim mesmo, então achei que não me sentiria estanho perto dela.

Acontece que me enganei.

Eu queria ficar com ela mais do que deveria. Queria visitá-la todos os dias, e foi o que fiz. Mas é claro, meu coração não ficou imune. Me apaixonei por Jessica McLean tão fácil quanto Tom pegar alguma garota.


𝐒𝐄𝐂𝐑𝐄𝐓𝐒 | 𝐁𝐢𝐥𝐥 𝐊𝐚𝐮𝐥𝐢𝐭𝐳 Onde histórias criam vida. Descubra agora