⁰²² 『Liberdade』

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Bill

Juro que estou tentando ficar no carro.

Tamborilo os dedos no volante com uma ansiedade torturante.

Juro que estou tentando me controlar.

Bato o pé, suspiro, mordo o interior de minha bochecha...

Juro que estou tentando.

Juro. Tento não prestar atenção nas hipóteses terríveis que me vêm a mente. Tento não pensar em Jess, e na possibilidade de ela estar em perigo. Tento não pensar em Hassan usando-a novamente, como um fantoche.

Não consigo... Isso é impossível. Saio do carro. Nem cinco minutos haviam se passado e eu já estou voltando para a festa. Sei que Jess me disse para não me meter, pelo meu próprio bem. Contudo, não posso simplesmente deixá-la enfrentar Hassan sozinha.

Apresso o passo. Passo pelo multidão de pessoas esbarrando em uma e outra. Tento olhar por cima delas, mas não consigo ver. Subo em um banco, ignorando os olhares estranhos que são dirigidos para mim. Não sei exatamente por qual direção Jess foi, a multidão praticamente a engoliu.

Presto atenção. Aos arredores, há algumas portas. Não sei para onde levam mas sei que Jess está em alguma delas. Observo os homens que estão guardando as passagens. Alguns sorriem e conversam com outras pessoas e, um deles, mal se move. Deve ser esse. Com certeza.

Vou até lá, engolindo em seco. Não faço ideia do que falar. Tento pensar em algumas palavras, algo relacionado a drogas. Apalpo meus bolsos, procurando minha carteira. Improvisarei e torço para que dê certo.

Quando me aproximo, os olhos do homem caem sobre mim. Ele é musculoso, alto, careca e cheio de tatuagens espalhadas pelo corpo. Uma ótima figura para fazer qualquer um estremecer. Respiro fundo e encontro coragem. Sinto que irei desmaiar.

- B-boa noite - me xingo mentalmente por gaguejar - Desejo ver Hassan. Tenho assuntos urgentes para tratar com ele.

O homem não responde, apenas me olha com os olhos semicerrados. Suor escorre de meu rosto e me sinto pálido. Tudo começa a perder a cor.

Respire Bill.

Pego a carteira de meu bolso e tiro algumas notas de dinheiro. Os olhos do guarda são direcionados para elas. Balanço de um lado para o outro, e o homem continua acompanhando meus movimentos.

- Tenho uma ótima oferta para ele - digo, guardando minha carteira. Pigarreio, torcendo para que ele não tenha notado minha voz trêmula.

Mais uma vez, ele não responde. Fica me olhando, como se tivesse alguma falha em mim. Temo que ele esteja me reconhecendo e, quando seus olhos se arregalam, tenho certeza de que sabe quem sou. Ele leva a mão até o ouvido e ali vejo uma escuta. Meu corpo todo grita para correr.

- Bill Kaulitz - ele diz, sem tirar os olhos de mim - Bill Kaulitz está aqui, chef...

Então um barulho alto soa pelo local. Me encolho automaticamente, olhando ao redor. Um tiro. O homem a minha frente abandona seu posto e corre porta adentro. Fico sem entender por um momento, até que as terríveis hipóteses começam a martelar minha cabeça novamente.

Todos param de dançar, ficam parados, confusos. Olho para os rostos assustados das pessoas. Algumas começam a sair, com medo. Escuto os murmúrios, mas sem tirar os olhos da porta. Jess está lá, sei que está. Esse... esse tiro... Será que... Não, não pode ser.

Me obrigo a me mover e sigo o caminho tomado pelo guarda. Casais começam a sair, alguns cobertos por mantas e praticamente nus. Ignoro-os, desviando de todos para que eu possa passar. Desço as escadas, chegando até uma enorme sala. As pessoas que estão lá estão abaixadas, tremendo, olhando para a mesma direção. Vou até lá, me deparando com o que mais temia.

Sinto um alívio ao ver Jess ali, bem, porém o que sinto ao ver Hassan deitado a sua frente, tira todo o ar de meus pulmões. Sangue escorre de sua cabeça, um buraco nítido no meio da testa. Os capangas de Hassan estão ao redor da McLean, apontando outra arma para ela.

Ela não parece se importar. Seus olhos estão fixos no chão, em Hassan. Seu rosto está inexpressivo, mas noto algumas lágrimas caindo. Continua apontando a arma para ele, sem tremer, sem recuar.

Então, um grupo de policiais entra. Meu corpo todo gela. Vou até eles, tentando pará-los, tentando explicar a situação. Eles parecem não se importar e me mandam deixá-los passar. Vão até Jess, tirando a arma de sua mão e prendendo suas mãos com uma algema. E não é só ela que é levada pelos policiais. Os capangas de Hassan, também.

Processo a cena com uma dor no peito. Corro até onde Jess está sendo levada, entretanto os policiais não me deixam passar. Grito o nome dela, grito até minhas cordas vocais doerem. Ela vira a cabeça para mim e... sorri. Um sorriso de verdade. Um sorrio de felicidade.

Ela está livre. Finalmente.

Assisto os polícias levando-a até o carro, assim como os capangas de Hassan. Também vejo o corpo dele, do monstro, sendo levado pela ambulância. Assisto tudo com os pés plantados no chão, paralisado, tentando processar tudo que aconteceu. É muita coisa...

Não sabia que Jess era capaz de fazer aquilo, mas eu entendo porque faria. Ligo para os meninos e voltamos todos para o hotel. Explico tudo que aconteceu. Eles parecem tão supresos quanto eu.

- E agora? - Tom pergunta, franzindo o cenho - O que nós iremos fazer.

- Arranjar um bom advogado, creio eu - sugere Gustav, olhando para mim.

Minha cabeça está a mil. Meus pensamentos indo e voltando para o sorriso de Jess. Suspiro e tento focar nas palavras dos garotos.

- Nada - respondo - Não vamos fazer nada.

Eles arregalam os olhos.

- O que? Como assim? - Georg questiona.

- Eles devem saber do histórico de Hassan, assim como o de Jess. Com certeza sabem das coisas terríveis que ele fez com ela, com a vida dela. Creio que não terá consequências tão terríveis - digo, torcendo para que eu esteja certo - Assim espero.

Meus pensamentos são invadidos pelo som do meu celular tocando. Pego o aparelho e mal acredito no que vejo. Uma ligação de um de nossas empresários, mas várias outras ligações que foram perdidas. Empresários que desfizeram contrato conosco...

Espera... Será que...

𝐒𝐄𝐂𝐑𝐄𝐓𝐒 | 𝐁𝐢𝐥𝐥 𝐊𝐚𝐮𝐥𝐢𝐭𝐳 Onde histórias criam vida. Descubra agora