⁰²⁴ 『It's Ok』

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Bill

Ando de um lado para o outro. Estou impaciente, mal consigo pensar. Fixo os olhos em meus pés enquanto eles se movem. Sinto meu coração acelerado e minha respiração pesada, como se tivesse chumbo em meus pulmões. Queria estar lá, vendo de perto meu plano se desenvolver. Tem que dar certo... Precisa dar certo. Paro por um instante e observo o local.

Estou no presídio onde Jess está. Poucos metros de onde ela está. Estou torcendo para que dê certo. Aposto todas as minhas esperanças no meu advogado. Ele é a minha única alternativa.

O procurei assim que cheguei no hotel. Passei os nomes dos envolvidos no caso e ele se pos a pesquisar. Descobriu muitas coisas, principalmente relacionadas a Hassan e, uma dessas coisas, tem relação ao ex-namorado de Jess nunca ter ficado preso por muito tempo.

Ele tem um irmão.

Wellington Braga, um dos chefes de polícia. Meu advogado, James, não tinha total certeza, mas em suas teorias, acreditava que Wellington sempre ofuscava os feitos do irmão. Ligamos para o presídio do México e pedimos um relatório de todas as denúncias sobre Hassan. Não tinha nada.

James ficou intrigado. Pediu então os relatórios sobre Jess. Encontraram uma pasta onde os documentos não eram de real ameaça. Fiquei assustado em ver. Eram fotos dos hematomas da McLean. Denúncias de farmacias e hospitais. Nunca se aprofundaram no caso... Nunca procuraram saber de onde aqueles hematomas surgiram. Porque Wellington os ofuscou.

James fez isso em menos de duas horas. Logo após conseguirmos algumas provas, o mandei para o presídio onde Jess está. Agora, aqui nesta sala silenciosa, meus pés começam a doer de tanto ficar de pé. Me obrigo a sentar, mas ainda sinto a ansiedade percorrer todo o meu ser. Tento controlar minha respiração, pensando apenas em coisas boas. Mas, por mais que meu plano dê certo, Jess ainda não vai se safar das consequências.

Ela matou alguém. Independente se Hassan eram uma pessoa má ou não, ela tirou uma vida. Torço que, ao menos, sua sentença dure pouco. Imagino como os pais dela devem estar abalados com a notícia. Como Michael, seu... filho, sofrerá com a ausência da mãe.

É muita coisa para digerir. Quando nossos antigos empresários resolveram entrar em contato, achei estranho. Logo depois vi um post que estava viralisando nas redes sociais. Jess havia publicado outra notícia. Ela esclareceu tudo em um pequeno texto. Fiquei chocado ao ver que o garotinho que ela segurava na antiga publicação era mesmo o seu filho. McLean explicou os vídeos e as fotos, confessando seu passado obscuro nas drogas, sem nenhuma relação com o suposto assédio de minha parte. Fiquei surpreso pela coragem dela.

Penso em como nunca percebi a semelhança de Michael com Hassan. Por mais que esse talvez seja um pensamento ruim, ainda bem que o pequeno McLean não vai ter uma pessoa daquelas como pai. Ainda bem. Uma porta se abrindo chama a minha atenção. Vejo James, meu advogado, entrar. Seus olhos encontram os meus e vislumbro um sorriso em seu rosto quando mais alguém sai pela porta. Wellington, escoltando por dois polícias.

Conseguimos.

Nós... conseguimos!

Tento manter a postura séria quando eles passam por mim. Tenho vontade de cuspir na cara de Wellington e o socar até não poder mais abrir os olhos. Se não fosse por ele, Jess não teria sofrido tanto. Se não fosse por ele, Jess não teria que fazer justiça com as próprias mãos.

James se aproxima de mim, com um ar triunfante.

- Deu certo, como foi previsto - ele diz, como se duas horas atrás não estivesse desesperado por mais provas.

- Obrigado - aperto sua mão, com um sorriso no rosto - E ela, como fica?

Perceber um pouco da alegria de James se esvair.

- Não tenho certeza, mas a levarão ao tribunal amanhã - o advogado comprime os lábios - Precisamos de testemunhas.

- Eu vou - digo, em um ímpeto - Conheço mais algumas pessoas que poderiam ajudar.

- Ótimo - assente James, passando a mão em seu terno - Nos vemos amanhã, Sr. Kaulitz.

- Passar bem, James Miranda - me despeço.

Enquanto fico parado observando meu advogado se retirar do local, mais uma vez começo a andar de um lado para o outro. Começo uma lista mental quando alguém me chama.

- Bill Kaulitz, não? - um policial pergunta, com metade do corpo para fora da porta. Assinto - Me acompanhe.

Obedeço, meio confuso. Sigo os paços do homem por um corredor de portas e grades. Paramos em uma das portas. Pelo vidro que nela tem, vejo Jess sentada em uma cadeira, as mãos em cima da mesa com um olhar impaciente. Meu coração acelera.

- Ela se recusa a sair dessa sala sem falar com você antes - o policial diz, notando meu olhar - Então, por favor, sejam breves.

O policial se retira e fico parado no lugar por alguns segundos, tentando me acalmar. Vê-la com o macacão laranja é impactante demais. Respiro fundo e empurro a porta. Assim que o faço, os olhos de Jess grudam nos meus. Ela não sorri e nem me cumprimenta, apenas me acompanha com o olhar até eu sentar em sua frente. Por mais que eu tente, não consigo dizer nada.

- O advogado, - é a primeira coisa que ela diz, depois do que se pareceram horas - é seu, não é?

- Sim - respondo, desviando o olhar para suas mãos algemadas - Quis te ajudar.

- De novo - ela solta um risada forçada. Sinto uma pontada no peito. Há um certo desespero em em sua voz - Quando me pediram se eu queria ligar para os meus pais, eu disse que não. Sei que estão decepcionados comigo, por ter feito o que eu fiz. Não os julgo, também estou decepcionada comigo mesma. Comecei a achar que foi um erro...

Ela solta um suspiro alto demais e continua, piscando várias vezes. Há algo sombrio em seu olhar.

- Um erro não ter atirado nele antes - ela continua. Olho para a janela de vidro. Sei que há alguém nos escutando. O que Jess disse não caiu muito bem - Eu tinha medo dele, medo de ele me machucar mais do que fazia e ainda colocar minha família em perigo. Não me arrependo do que fiz. Aceitarei os anos que terei atrás das grades. Então, Bill - ela estica o braço, segurando minhas mãos - Peço que diga isso aos meus pais. Diga que estou livre e bem. E, acima de tudo, muito obrigada. Você foi quem me ajudou a sair das garras de Hassan, mesmo que tenha durado pouco.

Ela sorri, mas há lágrimas nos olhos. Será que tudo o que ela disse é verdade? São lágrimas de felicidade? Tristeza? Ela olha para a janela e assente. Um policial aparece e faz sinal para que eu saia. Olho para Jess uma última vez. Ela parece querer dizer mais alguma coisa, mas está com dificuldade.

Dou a volta pela mesa e a levanto, pouco antes de envolvê-la em meus braços. Ela solta um grito e começa a chorar. Eu entendo. Entendo o porquê das lágrimas. Jess está se culpando. Não por ter matado Hassan, mas por não sentir culpa por ter o matado. A abraço e beijo o topo da sua cabeça. Acaricio seus costas.

- Acabou - susurro, escutando alguém me chamar - Está tudo bem. Você pos um fim na história. Ele merecia esse fim, independente se fosse pelas suas mãos ou não. Não se culpe. Hassan nunca foi digno de pena.

A sinto assentir em meu peito. Ouço mais uma vez meu nome ser chamado e me obrigo a me afastar de Jess. Digo que amanhã a verei novamente e que direi o que disse aos seus pais. Quando chego no carro, também começo a me culpar um pouco.

Não tenho o menor ressentimento por Hassan.






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