⁰¹⁶ 『É verdade』

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Jess

Algumas horas antes

Meu corpo todo grita. Minhas entranhas querem sair. Corro até o banheiro e as deixo aliviar a tensão que sentem, que eu sinto. Gorfo até sentir que não tem mais nada para sair. Gorfo até sentir que meus órgãos podem sair. Mesmo com o toque suave de Bill em meus ombros, não é o suficiente para em acalmar.

Não consigo acreditar.

Hassan arranjou um jeito de me atormentar, de vir atrás de mim. Gilbert foi o primeiro. Foi como um aviso. Não me preocuparia se a próxima vítima fosse eu. Entretanto, não é. Vai ser Bill, sei que vai.

Tento permanecer calma quando os garotos saem, me deixando só. Durante a entrevista, pelo menos, estarão seguros. Depois dela, não tenho tanta certeza.

Fico sentada no chão, em posição de meditação, olhando fixamente para a porta. É uma forma que arranjei para tentar me acalmar. Fecho os olhos e tento repelir qualquer pensamento ruim. Deixar minha mente vazia, se isso for possível.

Concentro-me apenas nas batidas do meu coração, que se tornam irregulares a cada respiração. Até que o barulho de papel caindo me distrai. Abro os olhos e vejo as cartas do correio ali, no chão.

A maioria são das contas da casa, mas uma em especial me chama atenção. É um envelope branco, com meu nome bem no centro. Minhas mãos começam a tremer por saber de quem é aquela caligrafia.

Penso em não lê-la. Em jogá-la no fogo que crepita não muito longe. Mas e se ele estiver barganhando? Alguma coisa em troca da imunidade de Bill? Essas possibilidades me dão coragem para abrir.

A abro com delicadeza, apesar da vontade crescente de rasgá-la em milhões se pedacinhos. Meus olhos grudam no pequeno texto que ali está. A nítida e visível letra de Hassan. Começo a ler já meio tonta.

No momento que termino, tenho vontade de não ter lido. Aquelas palavras, cheias de ameaças, me deixam terrivelmente mal, mais do que já estou. Engulo em seco.

Mas se ele cumprir o que diz, farei o que mandar.

Arrumo minha coisas; pulo a janela; espero alguém me buscar em meio aos arbustos... Faço exatamente tudo o que estava na carta, ignorando o medo que cresce em meu interior.

Quando chego no covil de Hassan, acompanhada de seus capangas, sinto meu coração prestes a sair pela boca. Ando, mas com minhas pernas implorando para correr. Dar meia volta. Sair de perto dele.

Os três homens que me levam por um corredor escuro e assustador me deixam assim que entro em um sala mau iluminanda. Não há cadeiras para sentar, então me escorro nas paredes.

Meu corpo anda meio fraco nos últimos dias. Sei que ele se tornou dependente das drogas e agora que não as recebe, anseia por elas. Muitas vezes sou pega por uma forte tontura e por náuseas terríveis. Afasto uma hipótese quando ouço a porta da sala se abrir.

Grudo meus pés no chão para não correr. Ali, bem na minha frente, Hassan sorri. Sorri como se fossemos namorados ainda. Como se não me batesse e não fizesse coisas terríveis não só comigo mas com os outros também.

Ele se aproxima e tenho que ser forte demais para não me afastar quando ele me abraça. Sua mão esquerda se aperta ao redor de minha cintura e a outra, agarra minha nuca. Um arrepio percorre pelo meu corpo. Um arrepio terrível.

- Estava com saudades - ele diz, sussurrando em meu ouvido. Sua voz sai gentil, como se tivesse dizendo mesmo a verdade. Se afastando, olha para mim com uma intensidade mortal.

Seu polegar passea pelo meu rosto, como se tivesse checando se há falhas em mim. Fecho os olhos com força quando ele começa a me beijar. Minha testa, minhas bochechas e minha boca. Eu vomitaria agora, contudo não seria uma boa ideia.

Sinto gosto de álcool e de entorpecentes em sua boca. Uma marca típica de quem ele é. Um bêbado drogado. Um ser maligno.

- Sabe, você parecia estar feliz sem mim - sinto outro tremor terrível quando sua voz sai - Estava?

- Não - respondo. Mesmo não sendo verdade, é o melhor a se fazer se quero sair daqui sem algum hematoma. Se sair.

- Que bom... que bom - suas mãos me acariciam - Creio que recebeu o meu bilhete, não é? - Assinto - Bom, já que esta aqui, darei minha palavra.

Seguro um suspiro de alívio.

- Vai deixar Bill impune? - pergunto, quase que em desespero.

- Oh, claro que não - ele sorri, tirando uma mecha do meu cabelo de meu rosto - Disse que diminuiria as consequências.

Cerro os dentes. "Mas se fizer tudo o que eu mandar, talvez diminua o castigo do seu protetor". Engulo em seco, não conseguindo imaginar como seria possível diminuir consequências.

- O que você vai fazer com ele? - ouso perguntar. A voz trêmula, saindo rouca.

- Não é o que eu vou fazer e sim, você - o sorriso que se forma em seu rosto me faz dar um paço para trás.

Sempre achei que Hassan fosse uma pessoa má, mas má seria um elogio. Pisco várias vezes, tentando pensar se escutei corretamente. Eu? Não estou entendendo.

- Talvez você não saiba mas... aquele cantorzinho gosta de você.

Apesar do medo, quase solto uma gargalhada. Por mais que eu sonhasse com isso, com Bill tendo sentimentos por mim, Hassan dizer isso se torna uma bela piada.

- Impossível.

- Bom, compreensível sua recusa em acreditar, mas é verdade - ele diz, andando de um lado para o outro - E você usará dos sentimentos que ele tem por você para efetuar o plano.

- Espera... como? - cada vez que uma palavra sai da boca de Hassan, não entendo nada. O que ele está me pedindo não faz sentindo.

- Quero que você o seduza, que finja o amar e, bem no final, quebre o coração dele. O magoe, o faça sofrer - termina ele, me deixando paralisada.

A vontade de rir que eu sentia antes é substituída pela vontade de gritar. Ouço as palavras de Hassan com atenção, repetindo-as em minha cabeça para ver se entendi.

Não... É cruel demais. Brincar com os sentimentos das pessoas, é cruel demais. Tento negar, tento propor outra forma de barganha, mas Hassan não aceita. Insiste na primeira, não muda de ideia. Tenho vontade de o bater. De tirar aquele sorriso do seu rosto ao ver minha expressão horrorizada.

- É isso ou... uma bala na cabeça - sua voz irritante chega aos meus ouvidos.

Contra minha vontade, assinto. Ligo para Bill e finjo estar escondida. Cravo as unhas de minha mão livre em minha perna conforme digo para ele me encontrar. Hassan está ao meu lado, escutando cada palavra.

Quando digo para o Kaulitz que gosto dele, é verdade. É verdade e Hassan sabe disso, por isso quer nos fazer sofrer.

𝐒𝐄𝐂𝐑𝐄𝐓𝐒 | 𝐁𝐢𝐥𝐥 𝐊𝐚𝐮𝐥𝐢𝐭𝐳 Onde histórias criam vida. Descubra agora